Jaloo, do Pará ao mundo

Em tempos que tudo parece soar igual, o inovador revela-se tendência. Dita a verdade, Jaloo é considerado um dos nomes mais interessantes da nova safra criativa da cena independente. Sua recente carreira musical teve início na cidade de Castanhal, a cerca de 70 quilômetros de Belém, capital do estado do Pará.

Lá, ao apaixonar-se pela música eletrônica, passou a conhecer de perto o funcionamento das aparelhagens do tecnobrega, começando a gravar produções caseiras em meio a programas de computador – até que conheceu o Fruity Loops, ferramenta pela qual se deu o início da ascensão daquele que se tornaria Jaloo. Logo ao lançar seu primeiro remix, já assumindo o nome artístico, a faixa foi parar no renomado Mad Decent, site da gravadora do renomado Dj Diplo.

A partir daí, definitivamente introduzido ao meio musical, trabalhou numa rádio, mudou-se para São Paulo e veio a produzir artistas da periferia. Em contato com o Funk, aceitou o desafio de mesclar tal ritmo ao pop, à MPB e sua tecnomelody. Graças a sua interpretação de “Baby”, música famosa na voz de Gal Costa, veio a conhecer Caetano Veloso, quando teve a oportunidade de cantar ao autor da própria música.

A partir de então Jaloo seguiu trabalhando entre remixes e mashups, lançando em 2014 seu primeiro EP, “Insight”, em parceria com o selo StereoMono, projeto da plataforma Skol Music que veio a lançar artistas como Mahmundi e Boogarins. Após muita expectativa, foi a vez de “#1”, seu disco de estreia lançado em 2015, considerado um dos melhores álbuns do ano pelo iTunes.

Com sua versatilidade sonora e composições de alta carga emocional, como em “Last Dance” e “Ah! Dor!”, Jaloo alcançou sua posição de destaque na cena musical independente, já vitorioso por sua própria história. Importante por sua versatilidade, inovação e constante provocação ao ‘status quo’ da cultura musical, Jaloo vem destruir preconceitos e apresentar uma nova ótica sobre a música, questões de sexualidade e gênero.

Agora, dado o sucesso de #1 em público e crítica, Jaloo apresentou no último fim de semana a primeira edição da festa ‘UFO’ na Jai Club, em São Paulo. Fui conferir de perto cada detalhe do show e registrei a experiência.

Tecno, Calypso, Funk, Kuduro, Rock, R&B, Pop, Carimbó. Na primeira edição da UFO, festa idealizada e realizada por Jaime Melo, de codinome Jaloo, os ritmos se encontraram, cruzaram e remexeram, entre as faixas admiravelmente harmoniosas então sampleadas pelos comandantes da festa – que pela escalação poderia até ser entitulada como “festival”, mas, por todo seu encanto, acabou ganhando dignamente o primeiro nome (e que justiça seja feita). Realizada na Jai Club, ‘UFO vol. 1’ foi uma autêntica celebração da música regional brasileira, transitando entre os ritmos de norte a sul, partindo de remixes de hinos dos guetos aos sons mais imprevisíveis, cujo resultado se deu por faixas surpreendentes, o que por sua vez provocava o riso e a descontração daquele que bem sabia o que esperar pelos quatro cantos da Jai Club.

De longe uma proposta mais que positiva, partindo da valorização da nossa cultura popular de frente com uma cena noturna que costuma privilegiar artistas e sons predominantes no mainstream.

Meia-noite, casa cheia. Depois de Nirvana e Lionel Richie “Made in Pará”, o som cai e anuncia o grande momento da noite. Cai a cortina, e o rapaz aparentemente inofensivo, de fortes traços amazônicos e cabelo irregular, domina a plateia pela palma de sua mão. Na pista, já com a maquiagem borrada pelo suor, um grupo de fãs ostentava seus rostos pintados, inspirados pela arte de capa de “#1”, primeiro álbum lançado por Jaloo, em 2015, sob a direção artística do produtor Carlos Eduardo Miranda.


No palco, o artista era acompanhado não só de seu sintetizador, como também por duas coreógrafas e Nana Rizinni, baterista aclamada da cena musical independente, o que já provava o potencial para uma apresentação cheia de energia.

Abrindo com “Vem”, primeira faixa de seu disco de lançamento, Jaloo deu o tom dos minutos que seguiriam ao longo da noite. A batida forte e trivial do Carimbó, ritmo de origem indígena Paraense, marcante na canção e fortalecido pela bateria de Nana, demonstrou ser uma ótima escolha para iniciar a festa celebrada naquela noite. Dali, Jaloo fez daquele o ‘seu’ palco e, com o apoio do público, conduziu uma apresentação mais que entusiasmada.

Na setlist estavam “A Cidade”, composição de Jaloo que critica as relações em tempos modernos; “Pa Parará”, explícita homenagem ao Tecnobrega; “Odoiá (In Your Eyes)”, música que narra uma viagem pelo uso de maconha, inspirada pela essência do Indian Beat; “Sky”, mais um tecnobrega, agora em inglês; e “Chuva”, culto às raizes por uma melodia branda e poética, entre outras composições de seu primeiro álbum.

No ponto alto da noite, “Insight”, “Last Dance” e “Ah! Dor!”, título do EP recém-lançado por Jaloo, provocaram o deleite do público, que cantava cada letra em uníssono. Encerrada, foi, de longe, uma apresentação completa: alinhada, muito bem conduzida e pontual. Um show honesto, feito para o público e com o público. Um artista à vontade, que carregava nítida felicidade no olhar, e um público mais que disposto.

Fotos: Heigor Martins

Heigor Martins

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