Retrata saga da escritora francesa Marguerite Duras é narrada a partir dos diários da escritora…
Em meio a opressão da Segunda Guerra Mundial e a angústia da espera de seu marido preso em um campo de concentração, o solo A Dor, montagem do Vulcão [criação e pesquisa cênica], com direção de Vanessa Bruno e atuação de Rita Grillo se inspira na saga da escritora francesa Marguerite Duras (1914-1996).
A peça se concentra no último momento, aquele no qual a escritora espera a volta de Robert, após a chegada dos aliados. É o momento em que a verdade sobre os campos de concentração começa a aparecer, e não é possível saber se ele conseguiu sobreviver ao horror. Ela espera incessantemente nas estações pelos comboios de deportados, em sua casa, ao lado do telefone.
Todo esse período foi relatado em diários, que mais tarde foram compilados em um livro, La Douleur, composto por textos de momentos diferentes desta espera e que é transportado para o espetáculo. “Marguerite Duras é realmente uma mulher do século XX. Passou por guerras, resistência, machismo, é símbolo do feminismo e resistência. Mudou as tendências literárias e cinematográficas. Na peça, a obra ganha um deslocamento da literatura para o palco por meio de procedimentos que já foram utilizados por ícones da dança como Pina Bausch e Klauss Vianna. Também foram mescladas conexões autobiográficas da atriz. Todos esses elementos contribuem para uma construção cênica”, conta a diretora Vanessa Bruno.
O cenário de Anne Cerutti e a luz de Aline Santini trabalham com uma palheta de cores monocromática em torno da cor sépia, características que impulsionam um estado febril e a memória fragmentada da personagem. A ambientação é uma sala com um carpete de areia, duas poltronas, além de uma projeção em vídeo que aumenta a significação da espera e angústia em cena.
A diretora pesquisa o deslocamento da literatura para o palco desde 2010, um estudo que contempla a obra de Clarice Lispector. Sua dissertação de mestrado deu resultado à criação do espetáculo Brincar De Pensar (contos de Clarice Lispector no palco para pais e filhos). A pesquisa continua em andamento com a criação do espetáculo de dança-teatro baseado no romance da autora Água Viva, produção que devem estrear este ano em 2017.
Já a atriz Rita Grillo pesquisa Marguerite Duras desde 2008 e traduziu o romance A Dor especialmente para esta adaptação teatral. Ela tem parte de sua formação teatral na França, país onde estudou entre 2003 e 2005, na Université Sorbonne Nouvelle, Paris 3. Desde então, estabeleceu uma estreita relação profissional com o país, trabalhando como atriz e assistente de direção em diversos projetos franco-brasileiros.
Atualmente, realiza assistência de direção para Anne Kessler na montagem de La Ronde de Arthur Schnitzler, na Comédie Française, histórica companhia teatral francesa fundada em 1680 e principal instituição teatral da França. Ela já colaborou com Anne Kessler na montagem brasileira de Não Se Brinca Com O Amor, de Musset (2014).
Rita Grillo e Vanessa Bruno se conhecem desde 2000 quando participaram de núcleos de trabalho do ator no Teatro Ágora, na época dirigidos por Roberto Lage e Celso Frateschi. A dupla já pensava em trabalhar juntas há alguns anos, algo que acontece agora com o solo A Dor.
“Um dia eu descobri ‘A Dor’. Essa espera de todos os tempos. Um relato terrível e profundamente humano. E esse projeto ficou em mim, esperando para acontecer. O reencontro com Vanessa Bruno, em 2012, foi uma fagulha, uma vontade comum, um sonho. E em 2015 o incêndio, a explosão vulcânica: Marguerite em cena, finalmente, agora”, conta Rita.
Ficha Técnica
Proposição, Tradução e Interpretação: Rita Grillo
Direção: Vanessa Bruno
Preparação Corporal e Assistência de direção: Livia Vilela
Figurino e Cenário: Anne Cerutti
Trilha Sonora: Edson Secco
Iluminação: Aline Santini
Produção Executiva: Anna Zêpa
Produção Geral: Paulo Salvetti
Realização: Vulcão [criação e pesquisa cênica]
Apoio: Casa das Caldeiras e Pequeno Ato
Patrocínio: Meimundo
A Dor
Teatro Pequeno Ato
Rua Doutor Teodoro Baima, 78 – Vila Buarque – SP.
Tel.: 11 99642-8350
Capacidade: 30 lugares
Duração: 50 minutos
Temporada: de 11 a 22 de janeiro
Quarta a sábado, às 20h30
Domingo, às 19h
Ingressos:
R$ 30,00 (inteira)
R$ 15,00 (meia)
Classificação: 14 anos.
Bilheteria aberta com uma hora de antecedência
Aceita cartões
Ar condicionado
* Nas quintas feiras haverá bate-papo pós-espetáculo com comentadores convidados.
Vulcão
Surgido da união de artistas autônomos com desejo comum de concretizar suas pesquisas artísticas e criações autorais, o Vulcão [criação e pesquisa cênica] desenvolve projetos teatrais que investiguem a condição humana. É formado pela atriz e diretora Vanessa Bruno, a atriz e preparadora corporal Livia Vilela, as atrizes Elisa Volpatto e Rita Grillo e, também pelo ator e produtor Paulo Salvetti.
Entre os seus pilares está a aproximação de diferentes linguagens, unir dança ao teatro, literatura e vídeo e vê como motor catalizador – principal e determinante – o trabalho do intérprete. A residência artística ocorre na Casa das Caldeiras para desenvolvimento de seus novos projetos.
O trabalho envolvendo literatura e teatro resultou na concepção de três espetáculos solos. Além de A Dor (partir de La Douleur, de Marguerite Duras, idealizado pela atriz Rita Grillo), foram criados Pulso (Obra de Sylvia Plath e idealizado pela atriz Elisa Volpatto) e, em processo de ensaio Águas Do Mundo (montagem a partir de contos de Clarice Lispector, idealizado pela atriz e diretora Vanessa Bruno). Cada solo explora para além do feminino as questões de todo e qualquer ser humano e mescla fragmentos biográficos das escritoras e elementos de suas obras.
Fotos: Cézar Siqueira e Victor Iemini
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