Entre Vãos

A peça itinerante acontece, simultaneamente, em três endereços da cidade, com sessões aos sábados, domingos, terças-feiras e feriados, às 15h…

 

 

O espetáculo foi contemplado pela 29ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo e conta com a direção de Luiz Fernando Marques, o coletivo teatral A Digna reestreou o espetáculo Entre Vãos no dia 1º de abril. A peça propõe uma experiência teatral que começa antes mesmo da cena.

Pelo site do espetáculo www.adigna.com/entrevaos, o público escolhe o local e a personagem que deseja acompanhar: uma balconista que trabalha numa loja de paletas mexicanas na Santa Cecília; um livreiro de um sebo no Anhangabaú; ou uma mulher, conhecida como Anjo de Corredor (pessoa que guiava os moradores nas dependências do antigo edifício São Vito, normalmente sem luz elétrica, até seus apartamentos), que mora próxima ao metrô Marechal Deodoro.

A quarta personagem é Walkyria Ferraz, uma espécie de empreendedora comercial que passa por todas as histórias.

A montagem propõe uma experiência cênica pulverizada que transita entre fronteiras de linguagens, oferecendo ao espectador um encontro vivo com histórias reais, ficcionais e paisagens paulistanas.

Durante o processo, A Digna mergulhou na realidade do Edifício São Vito, um prédio de arquitetura modernista, popularmente conhecido por Treme-Treme, que foi concebido como opção de moradia popular na baixada do Glicério e acabou demolido em 2011.

No site do espetáculo, as personagens fazem um convite ao espectador por meio de vídeos. As cenas, imagens e textos funcionam como prólogo da peça e dão pistas sobre as histórias. Após finalizar a compra do ingresso, o espectador recebe um e-mail com orientações e o endereço para o ponto de encontro próximo a cada história.

No ponto de encontro marcado, cada grupo, formado por até 15 pessoas, caminha para os locais onde se desenrola cada história individual. Após o término dessa cena, os espectadores são convidados a acompanhar sua personagem em um percurso a pé e por meio de transporte coletivo até outro ponto da cidade. No trajeto, o público é guiado por um áudio composto de músicas e textos que sugerem colagens entre sons, a história contada e as paisagens do caminho. Ao fim do percurso, as quatro personagens e os três grupos de espectadores se encontram para a cena final.

Para sincronizar as ações, o uso da tecnologia é determinante, por isso a parceria com o coletivo Um Cafofo – Núcleo de criação artística que mescla variadas vertentes das artes e das tecnologias em suas obras – que propõe novas camadas de fruição, além de estabelecer os elos entres as cenas.

O desafio do diretor Luiz Fernando Marques foi potencializar essa dinâmica. “A proposta dialoga com a linguagem que eu costumo trabalhar, por ser num espaço não convencional, pelo envolvimento do público e a ideia do seu deslocamento. Durante o processo fiz provocações no sentido de trabalhar a relação com a plateia, transformando esse texto pronto numa conversa e deixando que o espaço também conte a história”, explica.

“Por afetar a vida particular de centenas de cidadãos, a demolição do Edifício São Vito serve de ponto de partida para a reflexão sobre o despejo físico e simbólico de inúmeras pessoas. A cidade se transforma e obriga os cidadãos a refazerem suas histórias, ao mesmo tempo em que essas novas histórias colaboram para a contínua transformação da cidade. A intimidade mais profunda de cada um e a sua relação com o que é público permeia todos os meus textos”, explica o autor Victor Nóvoa.

O livreiro de um sebo no Anhangabaú.

A mulher que guiava os moradores nas dependências do edifício, normalmente sem luz elétrica, até seus apartamentos, conhecida como anjo de corredor, que mora próxima ao metrô Marechal Deodoro.

A balconista que trabalha numa loja de paletas mexicanas na Santa Cecília.

Esta segunda temporada de Entre Vãos faz parte do projeto 3 ATOS POR SP, que envolve diversas ações cênicas nas cinco regiões da cidade. A peça é parte da Trilogia do Despejo, uma série de obras que buscam compreender como os modos de vida do paulistano se alteraram com a gentrificação do espaço urbano. A pesquisa originou o espetáculo Condomínio Nova Era (2014), Entre Vãos (2016) e prevê uma série de ações intitulada 3 Atos Por SP, que nortearão o terceiro espetáculo.

“A experiência equivale a entrar num filme de Eduardo Coutinho – e ficar preso ali dentro.” (Sergio Zlotnic, especial para o portal SP Escola de Teatro).

“O achado dramatúrgico é que as três histórias acontecem simultaneamente e que o público só poderá saber a relação entre as quatro personagens se assistir a todas elas. Pode-se usufruir individualmente de cada uma, mas a fruição só se completa ao se perceber a relação entre elas, no melhor estilo dos roteiros do cineasta Robert Altman.” (José Cetra – Palco Paulistano).

 

Ficha técnica:
Direção: Luiz Fernando Marques
Diretor assistente: Paulo Arcuri
Dramaturgia: Victor Nóvoa
Elenco: Ana Vitória Bella, Helena Cardoso, Laís Marques e Plinio Soares
Videografismo e Tecnologias: Um Cafofo (André Grynwask e Priscila Argoud)
Cenografia e iluminação: Marisa Bentivegna
Assistente de cenografia e iluminação: Amanda Vieira
Trilha sonora: Carlos Zimbher
Figurinos: Eliseu Weide
Cinegrafista e Edição de vídeo: Bruno Araújo
Atriz convidada (vídeo Anjo de Corredor): Maria Flora Gonçalves
Equipe de Apoio: Anderson Vieira, Rodrigo Bertucci, Tatiana Vinhais e Vivian Petri
Fotos: Alécio Cezar
Programação visual: Vertente Design
Assistência de Produção: Catarina Milani
Concepção: A Digna e Um Cafofo.

 

Entre Vãos
Até o dia 20 de junho.
Temporada: até 16 de maio
Sábados, domingos, terças-feiras e feriados, às 15h,
Ingressos: R$20,00.
Duração: 110 minutos (incluindo os deslocamentos).
Classificação indicativa: 16 anos.
Capacidade: 15 lugares.
Endereço de cada ponto de encontro
Endereço de cada ponto de encontro – A peça acontece nas imediações das estações Marechal Deodoro, Santa Cecília e Anhangabaú. As reservas, assim como as informações de logística de encontros só serão passadas via site da obra – www.adigna.com/entrevaos
Telefone para informações: 11 98846-6080

 

A Digna
Formada em 2010 por Ana Vitória Bella, Helena Cardoso e Victor Nóvoa. Desenvolve criações que perpassam os lugares, as pessoas e os modos de vida da cidade. Suas pesquisas são baseadas na constante tentativa de superação dos obstáculos impostos pela cidade e as maneiras particulares em que o espaço urbano é vivido por diferentes cidadãos.  Na tentativa de compreender como a poesia pode brotar do cotidiano paulistano, o grupo focaliza as atenções para os traçados e memórias pessoais de moradores da cidade.

Principais trabalhos:
Desencontro (2010) – intervenção urbana a partir do poema homônimo de Affonso Romano de Sant’Anna.
Quase-Memória (2012) – o espetáculo teatral com texto de Victor Nóvoa entrelaça quatro histórias de sujeitos trespassados por situações-limite em suas vidas. Recebeu a indicação ao Prêmio 2012 da Cooperativa Paulista de Teatro, na categoria “Trabalho apresentado em espaços não convencionais”. Bolo de Lobo (2012) – espetáculo para crianças dirigido e escrito por Victor Nóvoa a partir da obra Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque, premiado como o 2º melhor espetáculo infantil do 9º Festival de Teatro de Limeira.
Denise Desenha nas Paredes (2014) – espetáculo para crianças dirigido por Vinícius Torres Machado, contemplado pelo 18º Cultura Inglesa Festival e pelo Proac 12/2014.
Condomínio Nova Era (2014) – espetáculo teatral dirigido por Rogério Tarifa, contemplado pelo Proac 11/2013.

Fotos: Alécio Cezar

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