Tchekhov é um Cogumelo no Teatro Anchieta

Dia 25 de agosto, o Sesc Consolação recebe o novo espetáculo “Tchekhov é um Cogumelo”, de André Guerreiro Lopes, uma experiência teatral que une ficção, neurociência e memória para abordar de forma original o universo da peça As Três Irmãs de Anton Tchekhov…

 

 

 

 

 

Tchekhov é um Cogumelo combina múltiplas linguagens para retratar a vida de três mulheres fixas em um tempo arruinado, acuadas por um mundo em transformação. Em cena, Djin Sganzerla, Helena Ignez e Michele Matalon, atrizes de gerações distintas, criam um jogo cênico que embaralha os diversos tempos: serão as três irmãs ou a mesma mulher em três momentos da vida? O cantor Roberto Moura e os dançarinos Samuel Kavalerski e Fernando Rocha completam o elenco. Em uma síntese livre da peça original, espécie de “Três Irmãs haicai”, são abordados temas como apatia, caos, medo e desejo de mudança, ecoando as contradições do tempo presente. O espetáculo marca os 10 anos da Cia. Estúdio Lusco-fusco e representa o reencontro em cena de Helena Ignez e Djin, mãe e filha na vida real.

Cenas de uma rara videoentrevista gravada em 1995 com o diretor José Celso Martinez Corrêa sobre o processo de criação de As Três Irmãs no Teatro Oficina em 1972, que envolveu o uso de alucinógenos, são projetadas ao vivo, intensificando o jogo entre os tempos e o olhar sobre a peça. A entrevista foi gravada pelo próprio diretor do espetáculo, na época um jovem estudante de teatro.

A cada apresentação, o diretor André Guerreiro Lopes interfere de forma inusitada no espetáculo. Sentado em silêncio vestindo um capacete de eletrodos, sua atividade cerebral, emoções e ondas mentais são captadas e transformadas em impulsos elétricos, que acionam ao vivo uma instalação sonora e visual criada pelo músico Gregory Slivar. A atividade invisível da mente do diretor interfere na ação, controlando frequências que vibram poças d’ água e tocam sinos, completando o mosaico desta experiência teatral.

“O espetáculo de certa forma é mental, na medida em que sua matéria prima é a memória: a minha memória do encontro com Zé Celso, capturada em uma fita VHS; a memória das três irmãs, embriagadas de lembranças de um passado bom e sonhando com um futuro; a própria memória do Zé, trazendo à luz sua experiência de 1972. O público participa desse jogo dos tempos para, quem sabe, percebermos juntos a urgência e beleza de se viver o único tempo possível, o agora, o hoje, o tempo presente, que é o eterno tempo do teatro”, afirma André Guerreiro Lopes.

 

A videoentrevista com José Celso Martinez Corrêa
Em 1995, o então estudante de teatro André Guerreiro Lopes e mais três colegas marcaram uma videoentrevista com o diretor teatral José Celso Martinez Corrêa. O tema seria a peça Três Irmãs de Tchekhov, abordando a montagem do Oficina de 1972.

No encontro Zé Celso relata os bastidores de um processo criativo único, radical na trajetória do Oficina. As experiências com substâncias alucinógenas permitiram uma compreensão original da obra de Tchekhov, mas o espetáculo representou a ruptura do grupo, dividido entre a busca por um teatro sagrado e um teatro profano. Na entrevista, Zé Celso discorre sobre esta experiência em detalhes, em um fluxo, dirigindo-se a jovens estudantes de teatro, contracenando com os movimentos da câmera. Esse depoimento foi transcrito, editado e publicado no livro PRIMEIRO ATO – Cadernos, Depoimentos, Entrevistas (1958/1974) do diretor Zé Celso, e considerado pelo jornalista Bernardo Carvalho como “algumas das passagens mais emocionantes e sensíveis de tudo o que já se disse ou escreveu, em todos os tempos, sobre teatro no Brasil” em crítica publicada no jornal Folha de São Paulo em 1998. O vídeo, que permaneceu inédito por mais de 20 anos, é pela primeira vez exibido para o público no espetáculo Tchekhov é um Cogumelo.

Ficha Técnica
Direção, Concepção e Adaptação: André Guerreiro Lopes
Texto: Extratos de “As Três Irmãs” de Anton Tchekhov
Elenco: Djin Sganzerla, Helena Ignez, Michele Matalon, Roberto Moura (cantor), Samuel Kavalerski e Fernando Rocha (dançarinos) e André Guerreiro Lopes
Cenário e Figurinos: Simone Mina
Direção Musical e Instalação Sonora: Gregory Slivar
Iluminação: Marcelo Lazzaratto
Assistente de Direção e Direção de Cena: Rafael Bicudo
Projeções: André Guerreiro Lopes
Preparação Vocal e Músicas Tradicionais: Roberto Moura
Produção Executiva: Melissa Oliveira
Direção de Produção: Djin Sganzerla / Estúdio Lusco-Fusco Produções Ltda.

 

 

 

Tchekhov é um Cogumelo
Sesc Consolação
Teatro Anchieta
Rua Doutor Vila Nova, 245 – Vila Buarque – SP.
Tel.: 3234-3000
Duração: 120 minutos
Temporada: De 25 de agosto a 8 de outubro
Sextas e Sábados, às 21h
Domingos e feriado de 7 de setembro, às 18h
Ingressos:
R$ 40,00
R$ 20,00 (meia-entrada: estudante, servidor de escola pública, +60 anos, aposentado e pessoa com deficiência)
R$ 12,00 (credencial plena: trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes)
Classificação: 14 anos

 

André Guerreiro Lopes
Diretor teatral e ator, André Guerreiro Lopes também é diretor artístico do Estúdio Lusco-fusco, núcleo de criação que explora a interseção das linguagens do teatro, cinema e artes visuais. Entre os espetáculos que dirigiu e atuou estão Ilhada em Mim – Sylvia Plath, indicado ao Prêmio APCA 2014 de Melhor Direção e O Livro da Grande Desordem e da Infinita Coerência, eleito pelos críticos na Folha de SP o 2º Melhor Espetáculo de 2013.
Foi membro do Theatre de L’Ange Fou em Londres, assistente de direção brasileiro de Robert Wilson em Garrincha e A Dama do Mar, além de ter atuado na Cia do Latão e CPT/Sesc de Antunes Filho.
No cinema, dirigiu o curta O Voo De Tulugaq, premiado como Melhor Filme da Crítica no Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira, e assina a fotografia do longa-metragem Canção de Baal, de Helena Ignez.

 

Helena Ignez
Figura de destaque da cultura nacional, seu primeiro filme como atriz foi O Pátio, em 1959, com Glauber Rocha. Atuou em diversos filmes do Cinema Novo como A Grande Feira, Grito da Terra, Assalto ao Trem Pagador e O Padre e a Moça. Começou sua parceria criativa com Rogério Sganzerla em 1968 e atuou em quase todos os seus filmes.
No teatro, atuou em Os Sete Afluentes do Rio Ota, direção de Monique Gardenberg, Vestido de Noiva, com o Grupo Satyros, O Livro da Grande Desordem e da Infinita Coerência, direção de André G. Lopes, entre outros.
Entre os longas que dirigiu estão Canção de Baal, vencedor do Prêmio de Melhor Filme pelo Júri da Crítica no Festival de Gramado 2009 e Prêmio Anno Unno no Festival Il Mille Occhi, na Itália, Luz nas Trevas, que recebeu o Prêmio da Crítica Boccalindo d’Oro de Melhor Filme, na Suíça, e Ralé, vencedor do prêmio Melhor Direção no 23º Festival Mix Brasil. Seu próximo filme A Moça do Calendário, com roteiro de Rogério Sganzerla, tem previsão de lançamento em setembro 2017. Helena tem recebido homenagens em festivais como no 20º Fribourg International Film Festival, na Suíça, com a Mostra La Femme du Bandit com 25 de seus filmes, e no 17º Kerala International Film Festival, na Índia, além de ser a homenageada do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2017.

 

Djin Sganzerla
Atuou em mais de quinze longas-metragens, entre eles, Meu Nome é Dindi, de Bruno Safadi, pelo qual recebeu os prêmios APCA de Melhor Atriz de Cinema, Melhor Atriz no Festival de Cinema de Natal e Melhor Atriz no 12º Festival de Cinema Luso Brasileiro e Falsa Loura, de Carlos Reichenbach, que lhe rendeu o prêmio Melhor Atriz Coadjuvante no 39º Festival de Cinema de Brasília.
No teatro, atuou com diretores como Antonio Abujamra, em O que é Bom em Segredo é Melhor em Público, Zé Celso Martinez Corrêa em Cacilda!, Rogério Sganzerla, em Savannah Bay, Samir Yazbek e Helio Cícero, em Frank-1, entre outros. Sob a direção de André G. Lopes atuou em O Livro da Grande Desordem e da Infinita Coerência, Tragicomédia de um Homem Misógino – além de A Melancolia de Pandora, cuja direção foi compartilhada com Steven Wasson do Theatre de l’Ange Fou – EUA e o monólogo O Belo Indiferente, com Helena Ignez – e ao seu lado dirigiu o espetáculo Estranho Familiar, inspirado no conto O Espelho de Guimarães Rosa.

 

Michele Matalon
Trabalhou como atriz-dançarina com o Grupo Marzipan, com o qual também produziu espetáculos como Marzipan 2015, Tico-Tico, Marzipan Dança, Palimpseto, Manos Arriba e Tratar com Murdock, e com Gerald Thomas.
Codirigiu com Monique Gardenberg os espetáculos O Desaparecimento do Elefante, Inverno na Luz Vermelha, Um Dia No Verão e Os Sete Afluentes Do Rio Ota. Atuou em Pentesiléias, com direção de Daniela Thomas e Bete Coelho, e nos seguintes espetáculos de Gerald Thomas Império Das Meias Verdades, Saints and Clowns, Morte, além de produzir The Flash and Crash Days.
Em cinema, foi diretora assistente de projetos como A Moça do Calendário, Ralé, Luz Nas Trevas, Poder dos Afetos e Canção de Baal, de Helena Ignez e do longa Ó Paí Ó, de Monique Gardenberg.

Fotos: André Guerreiro Lopes
Foto do André Guerreiro Lopes: Reprodução do Facebook – Kleyton Guilherme

1 comentário em “Tchekhov é um Cogumelo no Teatro AnchietaAdicione o seu →

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *