Cia. Les Commediens Tropicales reestreia Concílio da Destruição

Os países não dispunham de mais espaço, seja real ou virtual. A população havia superado sua capacidade criativa e superlotado casas, carros, museus, escolas e computadores com suas obras. Estudar havia se tornado um exercício insuportável. O caos apontava no horizonte quando os homens conseguiram se defender. Era preciso destruir para se ter o direito de criar. Esse é o ponto de partida de Concílio da Destruição, espetáculo da Cia. Les Commediens Tropicales, que reestreia dia 8 de dezembro, na Companhia do Feijão, no centro de São Paulo…

 

 

 

 

Escrita por Carlos Canhameiro, e com provocação cênica do Coletivo Bruto, a montagem tem abordagem formal e temática de extrema importância à contemporaneidade, tanto que foi finalista do maior prêmio de dramaturgia brasileiro, o Prêmio Luso-Brasileiro de Dramaturgia 2010. As apresentações fazem parte do projeto Medusa Concreta contemplado pela Lei de Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo.

Sétimo espetáculo da Cia. Les Commediens Tropicales, Concílio da Destruição parte da premissa que o mundo está superlotado de arte e informações, estudos, ensaios e teses sobre a mesma; e que cada país terá que escolher cinco obras de seus artistas mortos para serem preservadas enquanto todas as outras serão destruídas. A ação se desenrola num país desconhecido onde o Concílio da Destruição está atrasado porque os jurados estão num impasse sobre escolher uma obra cujos artistas foram revolucionários ou condená-los (e sua obra) ao esquecimento.

 

Olhares diferentes
O autor Carlos Canhameiro, que também é um dos atores da montagem, conta que pensou em escrever o texto Concílio da Destruição em 2008, depois de um bate-papo com amigos sobre as dificuldades de estudar arte. “Falamos da infinidade de informações e obras de artes que temos acesso, desde as civilizações antigas até os dias de hoje e pensamos como estaremos daqui uns duzentos anos; o que ficará para o futuro?”, “Qual o real valor de uma obra de arte, hoje, ontem e amanhã?”, explica ele.

Em Concílio da Destruição, Canhameiro traça um panorama da história por vários aspectos, desde a visão dos investidores em arte, que perderão dinheiro com a destruição das obras, passando pelos militantes políticos que se aproveitam da arte para impor suas visões sociais, até a igreja, que é detentora de grandes obras e não quer abrir mão das mesmas. O autor também se inspirou nas histórias das mães e avós argentinas da Praça de Maio, que contam que crianças que tinham os pais mortos durante a ditadura eram criadas por militares. Na peça, um dos jurados do Concílio é filho de um casal de artistas e coloca em xeque se deve ou não salvar a obra de seus pais.

A Cia. Les Commediens Tropicales, em conjunto com a provocação cênica do Coletivo Bruto (Paulo Barcellos e Wilson Julião), lançou mão de diversas linguagens artísticas – para trazer o texto à cena – manipuladas ao vivo pelos próprios atores: fotografia, música (criada e executada ao vivo pelo músico Rui Barossi), vídeo, iluminação e projeções.

“Houve um tempo em que a produção de conhecimento era quase automaticamente sua própria destruição. Depois, os homens perceberam que a destruição era mais prazerosa do que a produção de qualquer conhecimento e desfrutaram até o fim dos dias o prazer de conhecer a destruição da produção”, finaliza Canhameiro.

Ficha Técnica
Autor: Carlos Canhameiro
Encenação: Cia. Les Commediens Tropicales
Provocação Cênica: Coletivo Bruto (Paulo Barcellos e Wilson Julião)
Elenco: Carlos Canhameiro, Daniel Gonzalez, Paula Mirhan, Rodrigo Bianchini, Rui Barossi e Tetembua Dandara
Concepção Sonora e Música ao Vivo: Rui Barossi
Iluminação: Daniel Gonzalez
Cenografia: José Valdir
Figurino: Carol Ihitz
Vídeo: Carlos Canhameiro
História em Quadrinhos: Eduardo Cole
Desenho: Nicholas Maia
Produção: Mariana Pessioa

 

 

 

 

Concílio da Destruição
Companhia do Feijão
Rua Dr. Teodoro Baima, 68 – República
Tel.: 3259-9086
Capacidade: 50 lugares
Duração: 80 minutos
Reestreia dia 8 de dezembro, às 20h
Temporada: Até 18 de dezembro
Sexta a segunda-feira, às 20h
Ingressos: Grátis
Classificação: Livre
Bilheteria – Abre uma hora antes do início da apresentação

 

Novo espetáculo em 2018
A temporada de Concílio da Destruição faz parte do projeto Medusa Concreta, que contempla as apresentações de espetáculos do repertório da Cia, como Mauser de garagem, que aconteceu em novembro na Oficina Cultural Oswald de Andrade e Baal.Material (que chega aos palcos entre janeiro e fevereiro de 2018), além da estreia de Medusa Concreta, que será criada ao longo de 2018 com estreia prevista para o início do segundo semestre.

 

Cia. Les Commediens Tropicales
Criada em 2003, dentro do curso de artes cênicas da Unicamp, a Cia. Les Commediens Tropicales está hospedada na capital paulista desde 2005, quando realizou a transposição do romance Galvez Imperador do Acre, de Márcio Souza, para os palcos. Com encenação de Marcio Aurelio, o espetáculo estreou no Festival de Teatro de Curitiba e fez temporada no Centro Cultural São Paulo. No mesmo ano a Cia. foi contemplada pelo Prêmio Estímulo Flávio Rangel da Secretaria de Estado da Cultura para montar a obra Chalaça a peça, baseada no romance O Chalaça, de José Roberto Torero e dirigida por Marcio Aurelio. A montagem estreou em 2006 no Sesc Santana e já realizou oito temporadas em São Paulo, com mais de 120 apresentações e participação em vários festivais. Em 2007 adaptou o romance A Última Quimera, de Ana Miranda com provocação cênica de Georgette Fadel e Verônica Fabrini. O espetáculo estreou no Sesc Avenida Paulista. No ano seguinte, o grupo desenvolveu o espetáculo 2º d.pedro 2º com provocação cênica de Fernando Villar, que realizou três temporadas em São Paulo. Em 2009 foi contemplada pelo Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz para criação do espetáculo O Pato Selvagem, de Henrik Ibsen que estreou em janeiro de 2010 no Sesc Santana, onde também foi realizada mostra de repertório dos cinco anos de atividades da Cia. Em 2010 foi contemplada pela Lei de Fomento ao Teatro do Município de São Paulo e desenvolveu o projeto O que fazer com isso? em que foram realizadas temporadas de quatro espetáculos anteriores, uma série de experimentos com artistas convidados que culminou na obra (ver[ ]ter), uma coleção de intervenções cênicas que dialogam com o artista britânico Banksy e que teve participações de Georgette Fadel, Tica Lemos, Andréia Yonashiro e Coletivo Bruto. (ver[ ]ter) fez temporada no CCSP, Oficinas Culturais Oswald de Andrade, participou do programa Cultura Livre SP, Circuito Sesc de Artes, Mostra Sesc de Artes e foi selecionado para o FIT Rio Preto e FIT Dourados.

Em 2011 foi contemplada pelo programa de Ação Cultural, da Secretaria de Estado da Cultura, para realização da obra Concílio da Destruição. Com dramaturgia de Carlos Canhameiro, finalista do Prêmio Lusobrasileiro de Dramaturgia e provocação cênica do Coletivo Bruto, a peça estreou em janeiro de 2013 no Sesc Pompeia e fez outra temporada no Teatro Cacilda Becker. Em 2012 foi contemplada no Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, onde foram realizadas temporadas da obra (ver[ ]ter) em diversos pontos da cidade e o colóquio sobre teatro performativo. Em 2013 foi contemplada pela Lei de Fomento ao Teatro, onde realizou o Laboratório Permanente de Plágio, reencenação das obras Corra Como um Coelho (Cia. dos Outros), Petróleo e Quem não sabe mais o que é, quem é e onde está, precisa se mexer (Cia. São Jorge de Variedades). Em 2015 estreou a Guerra sem batalha ou agora e por um tempo muito longo não haverá mais vencedores neste mundo, apenas vencidos em conjunto com o Quarteto à Deriva, a partir de textos de Heiner Müller. No mesmo ano, comemorando 10 anos de palco, o grupo realizou uma mostra de repertório e em 2016, estreou o espetáculo Baal.Material, inspirado em Brecht.

 

Fotos: Divulgação

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