Sesc 24 de Maio recebe Guanabara Canibal, terceiro espetáculo da ‘trilogia da cidade’

 

O Sesc 24 de Maio estreia em janeiro o espetáculo Guanabara Canibal, com a Aquela Cia., terceira obra da trilogia sobre a história da cidade do Rio de Janeiro, que teve início com as peças Cara de Cavalo e Caranguejo Overdrive. A peça Guanabara Canibal será apresentada na Unidade de 20 de janeiro a 18 de fevereiro…

 

 

 

 

Uma primeira questão pode ser colocada para dar início ao tema da peça: “Além de palavras de origem tupi como Guanabara, Maracanã, Ipanema e carioca, o que mais restou de registro da presença dos índios no Rio de Janeiro?”. Em 1567, a Batalha de Uruçumirim, liderada por Mem de Sá, exterminou as tribos indígenas que ali viviam. Após 450 anos, o diretor Marco André Nunes e o dramaturgo Pedro Kosovski, pesquisaram as raízes da fundação da cidade do Rio de Janeiro para criarem este espetáculo que tem em cena Carolina Virguez e Matheus Macena – que atuaram em Caranguejo Overdrive e receberam indicações a diversas premiações de teatro, sendo Carolina vencedora como Melhor Atriz dos prêmios Shell, APTR e Questão de Crítica, ao lado João Lucas Romero, Reinaldo Junior e Zaion Salomão.

 

Guanabara Canibal
Guanabara Canibal dá continuidade à investigação cênica e dramatúrgica da história da cidade do Rio de Janeiro, que teve início com o espetáculo Cara de Cavalo, em 2012, sobre a extinta favela do Esqueleto, atual UERJ, nos anos 60; e seguiu com Caranguejo Overdrive, em 2015, sobre o antigo mangue que foi aterrado no final do século XIX, atual Praça XI.

Nesta nova peça, a Aquela Cia. retorna às origens ao olhar para a fundação da cidade, tendo como referência para a construção da dramaturgia a literatura quinhentista, que inclui os relatos dos cronistas franceses Jean de Lery e André Thevet, que acompanharam a formação da colônia França-Antártica, no Rio de Janeiro, e o poema De Gestis Mendi de Saa (Feitos de Mem de Sá), do padre José de Anchieta, que narra a ofensiva portuguesa contra os tupinambás e ocupação francesa na cidade.

“A pesquisa feita para a criação de Cara de Cavalo e Caranguejo Overdrive nos estimulou a continuar a investigação acerca da nossa própria história. Ao reler O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, me deparei com um poema de José de Anchieta sobre os feitos de Mem de Sá durante as batalhas que dizimaram várias aldeias tupinambás e consagraram o domínio de Portugal sobre o nosso território”, lembra Marco André Nunes. “Além do poema, outros documentos históricos sobre a batalha revelam um passado de guerra e violência”.

A dramaturgia de Pedro Kosovski, assim como nos trabalhos anteriores, apoia-se nessa paisagem histórica para narrar questões urgentes para atualidade e rever criticamente nosso passado, “o modo como nos relacionamos com nossa memória coletiva e a nossa história é quase sempre predatório e submisso às versões oficiais. Havia cerca de oitenta aldeias indígenas no entorno da baía da Guanabara, uma população com milhares de habitantes: onde estão os monumentos e as narrativas sobre a intensa vida nesse território antes da sua colonização?”, questiona-se Kosovski.

Antes da fundação do Rio de Janeiro, a terra era de domínio de tribos indígenas, que apesar de rivais, falavam a mesma língua e tinham costumes semelhantes, como o ritual de canibalismo: por vingança, a tribo capturava um rival e este passava a conviver com eles até o dia de sua execução, que era visto por todos como uma morte digna. Diferente do que aconteceu com a chegada dos portugueses, na Batalha de Uruçumirim, travada nas águas da Guanabara, na altura do Outeiro da Glória, expulsaram os franceses do território e exterminaram os índios que ali viviam. “Foi como uma força de ocupação, um exército invadindo uma terra que não lhe pertence”, ressalta o diretor.

Assim como nos espetáculos anteriores, a música está sempre presente na cena, na direção musical de Felipe Storino. Em versões acústica, eletrônica, com coro, percussão, piano, microfones e tecnologia. Também compõem a encenação elementos primários como terra, água, farinha e pó de urucum.

Ficha Técnica
Direção: Marco André Nunes
Texto: Pedro Kosovski
Atores: Carolina Virguez, Matheus Macena, Reinaldo Junior, João Lucas Romero e Zaion Salomão
Direção Musical: Felipe Storino
Iluminação: Renato Machado
Instalação Cênica: Marco André Nunes e Marcelo Marques
Figurino: Marcelo Marques
Visagismo: Joseff Cheslow
Produção Executiva: Aline Mohamad | MS Arte & Cultura
Produção Geral: Núcleo Corpo Rastreado
Idealização: Aquela Cia.

 

 

 

 

Guanabara Canibal
Sesc 24 de Maio
Teatro – 1º subsolo
R. 24 de Maio, 109 – República, São Paulo – SP
Tel.: 3350-6300
Capacidade: 216 lugares
Duração: 80 minutos
Temporada: 20 de janeiro a 18 de fevereiro
Sextas-feiras, às 21h;
Sábados, às 18h e 21h (exceto dia 20, apenas às 21h)
Domingos, às 18h
Feriados: quinta, 25 de janeiro, às 14h e 18h
Segunda, 12 de fevereiro e terça-feira, 13 de fevereiro, às 18h
Ingressos:
R$ 30,00 (inteira)
R$ 15,00 (meia: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência)
R$ 9,00 (credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes).
Classificação: 14 anos
Horário de funcionamento da unidade:
Terça a sábado, das 9h às 21h.
Domingos e feriados, das 9h às 18h.

 

Aquela Cia.
Em 2005, Marco André Nunes e Pedro Kosovski fundaram a Aquela Cia. e vêm desenvolvendo, ao lado de outros artistas, uma linguagem cênica própria e uma dramaturgia inédita. Entre as encenações mais recentes, destacam-se “Outside: um musical noir” (2011), indicado aos prêmios Shell, APTR e Questão de Crítica; “Cara de Cavalo” (2012), indicado aos prêmios Shell Questão de Crítica; “Edypop” (2014), indicado aos prêmios Questão de Crítica e Cesgranrio e “Laio e Crísipo” e “Caranguejo Overdrive” premiado em diversas categorias do Shell, APTR, Cesgranrio e Questão de Crítica.

 

Foto destaque: João Julio Mello
Fotos: Julio Ricardo

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