José Pereira de Souza, 64 anos, mais conhecido como Índio Cachoeira, construía os próprios instrumentos que tocava em seus shows, e mulheres se apaixonavam pelo objeto com cordas…
Eram fabricadas por ele violas de 10 e 15 cordas, chamadas de Canaã; além de violões, rebecas e até mesmo harpas. De acordo com Cachoeira, os instrumentos que ele produzia mostravam o som da música de estilo latino, que ele admirava. O artista conviveu em São Paulo com músicos paraguaios e bolivianos. Na oportunidade, ouvindo em rodas de viola, aprendeu e transferiu para o seu projeto musical o estilo latino. Ele destacava, porém, que sua música possui a identidade cabocla, nascida no fundo da lavoura e do interior do Brasil, nas brincadeiras genuínas.
“Com os instrumentos que crio, eu domino os estilos tradicionais. E muitas mulheres se apaixonaram pela minha viola. Já levei foras em paqueras de shows, pensando que elas estavam interessadas em mim. Mas era pelo som do meu instrumento”, contava Cachoeira.
Índio Cachoeira
Aos oito anos de idade o músico teve contato com a viola ouvindo um velho violeiro da região; sua mãe não gostava que ele ficasse nas rodas de viola e folias de reis, mas ele fugia de casa para ouvir de perto os ponteados. Cachoeira começou a tocar de fato aos 13 anos de idade numa festa tradicional de sua cidade natal, Junqueirópolis, no interior de São Paulo e na divisa com Mato Grosso. Ele aprendeu a tocar sozinho, com base em canções de rádio ouvidas na sua casa.
Aos 15 anos construiu a primeira viola com os restos de um instrumento quebrado. O artista remendou com pregos, pois não tinha dinheiro para comprar uma viola nova. Aí se mostrou um autodidata na música.
Mas foi aos 17 anos que começou sua vida profissional, tocando nas rádios da região já com o nome de Cachoeira. Formou sua primeira dupla com Tião do Gado (hoje Carreiro, da dupla Carreiro e Carreirinho).
Em 1995 tornou-se o Pajé, da dupla Cacique e Pajé, onde atuou por cinco anos e gravou cinco CD´s. Cachoeira é um virtuoso da viola. Trabalhou muito em estúdios gravando com Rodrigo Mattos (seu aluno mais ilustre), Ronaldo Viola e inúmeras duplas que, de tantas seções, ele nem se recorda de todos os discos que gravou. No ano de 2005 Cachoeira tocou com o guitarrista norte americano Woody Mann, professor de Paul Simon e especialista em blues e ragtime.
Para sobreviver, durante o dia ele era Zé Pereira, motorista de ônibus em Guarulhos (Grande São Paulo). Nos finais de semana ele transportava crianças de escolas para eventos. E sempre encontrava uma pausa para cantar e tocar a sua viola para os passageiros. O descendente de índios pataxós narrava em suas canções sobre a vida dos violeiros. Aprendeu ouvindo, tocando em rádios, conhecendo influências. E sem nunca fugir do estilo regional, característica de sua infância. Queria realizar o sonho de mostrar o potencial da música instrumental e de raiz brasileira ao grande público, além de ensinar como se constrói um instrumento de cordas a pessoas de baixa renda.
“Foi uma grande honra ter realizado esse trabalho que eu considero histórico para viola brasileira. Cachoeira é com certeza o melhor violeiro que eu conheci”, destacou em 2007 Ricardo Vignini, produtor do CD. Para ele, a viola nos últimos 15 anos tem se mostrado o instrumento de corda que mais cresce no Brasil: “devido ao grande número de violeiros que tem surgido tanto no interior, quanto nos grandes centros urbanos”. O instrumento ganhou as grandes salas de concerto do mundo, se tornou erudita, foi abraçada até por bandas de rock.
Pelo selo Folguedo teve CDs solo instrumentais e um DVD, lançou também em 2014 o CD “Viola Caipira Duas Gerações” (Prêmio da Música Brasileira da Funarte) com o violeiro Ricardo Vignini, juntos também realizaram dezenas de apresentações pelo país e na França.
2014
A união desses dois violeiros, Índio Cachoeira e Ricardo Vignini representa o que temos de mais verdadeiro em viola no Brasil. em setembro de 2012 a dupla se apresentou na França conseguindo uma excelente visibilidade, e a dupla acabou de ganhar o Prêmio da Música Brasileira da Funarte para realizar o CD “Viola Caipira Duas Gerações”.
2017
Índio Cachoeira retornou em 2017 ao formato tradicional de dupla caipira com Santarém, e no mesmo ano, lançaram o CD “Ponteando Tradições”, vencedor do prêmio ProAC de Culturas Tradicionais 2016 da Secretaria do Estado da Cultura com a produção do violeiro Ricardo Vignini (Matuto Moderno e Moda de Rock)
2010
Primeiro DVD Um Violeiro Nato, do violeiro Índio Cachoeira que retrata vários momentos da sua carreira.Filmado no ano de 2009, foi dirigido e produzido por Ricardo Vignini e Eduardo Gaspar. Participam do DVD Ricardo Vignini e Marcelo Berzotti, ambos do Matuto Moderno, Cuitelinho e Carreiro. O Projeto foi realizado Secretaria de Estado da Cultura através do ProAC.
2008
Segundo CD “Violeiro bugre”, com solos de viola caipira de Índio Cachoeira, patrocinado pela Petrobrás e produzido por Ricardo Vignini o álbum tem 15 músicas de sua própria autoria.
2007
“Solos de viola caipira” se tornou possível graças o incentivo de lei cultural o Fundo Municipal de Cultura de Guarulhos, o FunCultura, e Cachoeira foi um dos selecionados pelo programa. Parte dos CDs ganhou a distribuição para escolas públicas, bibliotecas e centros culturais. Dentro do projeto estava a vontade em ensinar jovens e idosos carentes na fabricação de instrumentos e realização de oficinas musicais. O CD “Solos de viola caipira” traz 15 faixas instrumentais compostas pelo músico, como “Prelúdio dos Pássaros, “Trocadilho dos Dedos” e “O Verdadeiro Pagode”. Cachoeira destaca que em suas canções existe a inspiração na natureza, na vida do campo.
Um dia voltamos a nos encontrar, Índio Cachoeira!
Índio Cachoeira, esta sendo velado hoje, dia 5 de abril de 2018, no Salão do Conservatório (antiga Casa da Cultura), localizado na Praça Amália Engel (Praça da Estação), s/n – Centro – Alfenas – MG.
O sepultamento será sexta-feira, dia 6 de abril, às 10h, no 3º Cemitério de Alfenas – Rua Gabriel Monteiro da Silva, 1400 – Vila Borges, na cidade de Alfenas – MG.
Fotos: Iepha-MG / Roberto Mourão / Divulgação
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