Breves Partituras para Muitas Calçadas interage com as crianças da cidade

Breves Partituras para Muitas Calçadas interage com as crianças da cidade; performance de dança faz sessões no Parque Lina e Paulo Raia, no Jabaquara…

 

 

 

Como as crianças se apropriam dos espaços públicos ?
A calçada ainda é um lugar de jogar e criar mundos imaginários?
As performers criam encontros com as crianças a partir do traço do giz e assim, vão criando caminhos, jogos e mundos imaginários na cidade.

 

Criado em 2010 pela artista e educadora Uxa Xavier, o grupo Lagartixa na Janela tem como identidade apresentações em espaços não convencionais, como ruas, praças, parques e áreas externas de equipamentos culturais. Breves Partituras para Muitas Calçadas, o trabalho mais recente do grupo, fará temporada a partir do dia 9 de agosto, quinta-feira, 10h, no Parque Lina e Paulo Raia, no Jabaquara. Em setembro, o grupo se apropria do espaço do Vale do Anhangabaú com as crianças do entorno para performar o brincar na rua a partir dos traços do giz.

Cinco performers utilizam o giz como objeto relacional para criar novos espaços no ambiente urbano. O giz foi escolhido pela sua associação rápida com a infância e pelas infinitas formas que pode originar. Além disso, o fato de se tratar de um material efêmero, contribui para a concepção da performance, que também revela os rastros deixamos para trás por onde quer que passemos. “Nosso trabalho é construído a partir de muita investigação e reflexão, principalmente no que se refere a conectividade das performers e ao outro. Temos partituras que são como eixos móveis, onde o encontro com a criança e o que ela responde é absorvido pelas artistas. Estamos lá para viver encontros”, diz Uxa.

Realizada em plena relação com as crianças, Breves Partituras para Muitas Calçadas ressalta as principais características do Lagartixa na Janela, como não dissociar os processos criativos dos pedagógicos – no sentido de que viver arte também é uma forma de construir conhecimento – e também em olhar/viver arte de uma forma menos hierárquica. “Uma das prioridades do Lagartixa é a busca por desarticular o estigma de que a arte é algo que não se pode tocar, sentir e até mesmo se envolver”, conta a diretora. Para ela, a arte ainda ocupa um lugar muito mítico na sociedade, em que seu discurso é produzido para uns e não para todos: motivo que reforça ainda mais a importância de estimular encontros nos espaços urbanos.

O grupo criou três eixos de sustentação na construção de seus trabalhos: o ético, o político e o estético. “A partir do momento em que estamos ocupando um espaço público, sabemos que essa ação é política, pois ela transforma, atravessa, muda direções e gera contemplações. Isso reverbera no outro, em suas percepções, devaneios e imagens poéticas sobre a cidade”, diz Uxa.

Mesmo fora das salas de aula tradicionais, o grupo não perde de vista sua relevância no campo da educação. Para os próximos meses, está previsto o lançamento de um e-book que tem a performance Breves Partituras para Muitas Calçadas como proposta para a criação de espaços de investigação em dança tanto para educadores como para crianças que está na mesma direção do livro Mapas Para Dançar em Muitos Lugares, publicado em 2014 pela Editora Patuá, organizado por Uxa e utilizado em salas de aula e companhias que trabalham a linguagem da dança para crianças no Brasil, México e China.

A pesquisa do grupo tem construído relações com o público que permitem as diferentes entradas e saídas das crianças, adultos e todos que estão ocupando o mesmo espaço, em uma reconfiguração construída pelo imaginário. Ao dispor do espaço público para estabelecer relações, o Lagartixa na Janela propõe um novo discurso e rompe com modos mais comuns de criação artística. “Encontrar crianças de um jeito que não fique só encerrado na sala de aula ou num espetáculo tradicional de dança é uma necessidade pra mim. Além disso, nosso trabalho também gera proposição de oficinas não só para crianças, mas também para adultos que trabalhem com dança e educação”, ressalta.

Sempre baseada no encontro, o Lagartixa na Janela começou como um grupo de estudos formado por Uxa e as futuras “lagartixas”, como a diretora chama as performers que trabalham ao seu lado – todas suas antigas estagiárias em sala de aula. “Uma lagartixa ficava na janela da nossa sala testemunhando por um ano nossos encontros antes de nos tornarmos um grupo de dança, então nosso nome não podia ser outro”, conta. Além da coincidência, a lagartixa também é conhecida em muitas culturas como a protetora dos sonhos, além da sua forte conexão com o corpo, já que é um animal que reconstitui a cauda caso a perca durante a vida. “O nome foi trazendo os significados pra gente”, completa a Uxa.

 

A calçada é um universo, um território cheio de paisagens, de objetos e modos de estar…
A calçada é mar? É rio? É córrego? É quintal? A calçada ficava a beira de uma criança…
A calçada é casa, é cama, mesa, jardim, cadeira, sala, banheiro, teatro, lojinha, sala de dança, lugar de brincar, espaço de ir e vir, de esperar, de encontrar, de se despedir…
A calçada é uma margem de uma ilha chamada quarteirão…
(Uxa Xavier)

 

Lagartixa na Janela

Lagartixa na Janela, grupo dirigido por Uxa Xavier – artista e educadora da dança -, existe desde 2010. Tem como proposta pesquisar o território de criação e pedagogia em dança contemporânea para crianças.

O grupo, que, inicialmente, se reunia para trocas de experiências e práticas de aula para crianças, abre um espaço inaugural de investigação e pesquisa de linguagem: aprofundar-se nas relações e interfaces entre a dança e o espaço urbano, tendo o universo da infância, a noção de criança performer, a contemplação ao movimento e a delicadeza como eixos de pesquisa.

Ocupar um espaço na cidade, seja uma praça, a rua, uma calçada, a escola, nos leva a ampliar percepções e, principalmente, o contato com o público. O grupo busca acessar, nos espaços públicos, lugares de encontros e trocas, estimulando olhares e percepções afetivas sobre o espaço cotidiano e/ou de passagem. Nasce, assim, um novo olhar diante da criação, do público e da cidade.

As ações artístico-pedagógicas do Lagartixa na Janela são pautadas pela ideia de que o processo criativo e o pedagógico são indissociáveis, ambos precedendo do ato de criação e de conhecimentos específicos, sob a luz das relações entre corpo, criança, adulto e criação. Os conteúdos das oficinas, ou mesmo cursos temporários, estão articulados com os percursos criativos das performances, em que cada partitura coreográfica também é um conteúdo a ser investigado e explorado como proposição em dança para os participantes.

Direção artística é de Uxa Xavier, artista e educadora de dança, do grupo Lagartixa na Janela. Em setembro as performances serão no Vale do Anhangabaú.
A diretora do grupo, Uxa Xavier, é professora de dança para crianças há mais de trinta anos e teve como mestres Maria Duschenes (1922 – 2014), uma das pioneiras da dança moderna no Brasil, e o bailarino e preparador corporal Klauss Vianna (1928 – 1992). Especialista no Método Laban pela USP, Uxa faz consultoria e curadoria de dança em diversas instituições, além de ter recebido prêmios como o Prêmio Klauss Vianna de Dança Funarte (2006), o PAC (Programa de Ação Cultural), da Secretaria de Estado da Cultura (2007), PROAC (Programa de Ação Cultural), em 2011, e o Edital de Fomento à Dança da Cidade de São Paulo (2013)

Ficha Técnica
Direção Artística – Uxa Xavier
Performers – Aline Bonamin, Barbara Schil, Suzana Bayona, Tatiana Cotrim e Thais Ushirobira
Produção – Rafael Petri
Fotos – Silvia Machado

 

 

 

 

Breves Partituras para Muitas Calçadas
Parque Lina e Paulo Raia
Rua Volkswagen – Jabaquara
Tel.: (11) 5017-6522
Duração: 40 minutos
Quinta-feira, 9 de agosto, às 10h
Quarta-feira, 22 de agosto, às 15h
Terça-feira, 28 de agosto, às 10h
Quinta-feira, 30 de agosto, às 10h
Gratuito
Classificação: Livre

 

Fotos: Silvia Machado

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