Primeira criação do Coletivo Seiva Bruta, grupo de jovens artistas formado no Departamento de Artes Cênicas da Universidade de São Paulo (USP), A Iminência da Morte das Plantas pelos Canhões de Guerra faz quatro apresentações – de 14 a 17 de setembro, sexta, sábado e segunda-feira e domingo, na SP Escola de Teatro – Sede Roosevelt…
Com Direção de Victor Walles, que assina a dramaturgia ao lado de Maíra do Nascimento, montagem, que cumpriu temporada no Teatro de Contêiner Mungunzá, traz no elenco os atores Camila Móra, Fernando Moraes e Henrique de Paula.
O espetáculo traz à cena pesquisas histórico-sociais sobre o ano de 1968 no Brasil, suas revoluções de costumes, lutas do movimento estudantil e o avanço brutal da repressão do aparato militar até culminar no AI-5. Para isso, a montagem tem como base de sua criação, três referências fundamentais de pesquisa: o filme Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci, sobre três jovens universitários vivendo em um apartamento em pleno fervor das manifestações e lutas do maio francês nas ruas de Paris; o livro 1968 – O Ano que não Terminou, de Zuenir Ventura, que trata das transformações e lutas que ocorreram no Brasil durante o ano e o artigo Sobre o Conceito de História, de Walter Benjamin.
Em A Iminência da Morte das Plantas pelos Canhões de Guerra dois irmãos Téo (Fernando Moraes) e Isa (Camila Móra) moram na Rua Maria Antônia e recebem o estrangeiro Mateus (Henrique de Paula) para passar um tempo junto com eles no apartamento. Trancados como forma de proteção e esconderijo ao avanço da repressão do governo militar, os três atravessam o ano de 1968 passando pelas revoluções culturais e as revoltas políticas lideradas pelo movimento estudantil. Narram a morte do estudante Edson Luís, expõe suas contradições na Batalha da Maria Antônia, viajam até o congresso de Ibiúna e como um delírio de um dia ter achado a possibilidade de impedir o avanço opressor do aparato militar, terminam separados com a decretação do AI-5.
Resgate da memória
Contemplado pelo ProAC Primeiras Obras do Estado de São Paulo, o espetáculo traz para o contexto das movimentações políticas e sociais do Brasil de 1968 a situação dos três jovens do filme de Bertolucci. Para o diretor Victor Walles, a pesquisa da peça possui um caráter de resgate da memória no intuito de desvelar ecos do passado que foram adormecidos durante esses quase cinquenta anos que separam a nossa geração, daquela de 1968. “Como um coletivo de jovens artistas universitários nos interessa olhar para os que vieram antes de nós, e, a partir daí, entender de onde estamos falando, de onde parte a nossa construção, em busca de compreender melhor os conflitos e contradições do presente”, define ele.
Em Os Sonhadores os personagens fazem jogos cinematográficos e na peça eles falam sobre espetáculos emblemáticos de teatro buscando uma forma de entender a vida. Outra mudança em relação ao longa é a construção de uma nova personagem feminina sem, como no filme, ser retratada de forma submissa, sexualizada e objetificada. O relacionamento dos três jovens também sai da reprodução de padrões e vira uma relação homossexual.
“Através da metalinguagem, presente em todo o texto, trago à tona dramaturgias históricas. Nosso processo de pesquisa para a montagem teve início com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, depois vieram as ocupações das escolas pelos estudantes do ensino médio, a intervenção militar o Rio de Janeiro e o assassinato da vereadora Marielle Franco. Impossível não fazer vários comparativos com 1968”, explica o diretor.
Fora da universidade
O processo de criação de A Iminência da Morte das Plantas pelos Canhões de Guerra começou no segundo semestre do ano de 2016, durante a disciplina de Direção III, orientada pelo Prof. Dr. Antônio Araújo dentro do Departamento de Artes Cênicas da Universidade de São Paulo (USP). O grupo, então se debruçou na elaboração do texto e também de um primeiro experimento cênico, o que gerou no ano seguinte a criação do coletivo e a ideia de levar o espetáculo aos palcos fora dos muros da universidade.
Durante a pesquisa para a construção do espetáculo, o Coletivo Seiva Bruta passou por três locais que protagonizaram eventos e ideologias marcantes do ano de 1968 e que foram fundamentais no trabalho com a criação da dramaturgia, como a Rua Maria Antônia e região (Batalha da Maria Antônia entre Mackenzie e USP); a cidade de Ibiúna onde ocorreu o Congresso da UNE e o antigo prédio do DOPS que hoje é o Memorial da Resistência de São Paulo.
Tropicália
De acordo com o diretor Victor Walles, a montagem busca referências na Tropicália. “Não queremos reproduzir o conceito, mas sim flertar com o tropicalismo, que é uma troca e mistura de linguagens”, explica ele. O cenário da peça é uma referência ao artista performático, pintor, escultor Hélio Oiticica e suas obras Penetráveis, labirintos sensoriais feitos de diversos materiais e texturas, como areia, asfalto, terra, água, tecido, cordas e plantas.
“No espetáculo cada personagem cuida de uma planta, que acabam integrando a cenografia e possuem até nomes – Cacilda, Brigite e Gal”, conta o diretor. O cenário – o apartamento onde vivem os três personagens – se completa com poucos elementos que são resignificados a cada cena e se transforma na Rua Maria Antônia e também na cidade de Ibiúna.
Ficha Técnica
Direção – Victor Walles
Dramaturgia – Maíra do Nascimento e Victor Walles
Atuação – Camila Móra, Fernando Moraes, Henrique de Paula
Iluminação – Valmir OS
Cenografia – Guilherme Wolff Lemos
Figurino – Guilherme Wolff Lemos
Sonoplastia – Edézio Aragão e Hayeska Somerlatte
Produção – Ana Bonetti
Voz Off – Alice Máximo, Ana Bonetti, Giovanna Monteiro e Victor Walles
Arte Gráfica – Nina Menezes.
A Iminência da Morte das Plantas pelos Canhões de Guerra
Com o Coletivo Seiva Bruta
SP Escola de Teatro
Sede Roosevelt
Praça Franklin Roosevelt, 210 – Consolação
Tel.: 3775-8600
Capacidade: 50 lugares
Duração: 120 minutos
De 14 a 17 de setembro
Sexta, sábado e segunda-feira, às 21h
Domingo, às 19 horas
Recomendado para maiores de 16 anos
Ingressos:
R$ 20,00
R$ 10,00 (meia-entrada)
Fotos: Divulgação
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