A Catástrofe do Sucesso estreia no Instituto Capobianco

Fruto de residência no Instituto Capobianco, a peça A Catástrofe do Sucesso, com textos de Tennessee Williams, estreia dia 8 de março com direção de Marco Antônio Pâmio…

 

 

 

 

 

 

Espetáculo inédito idealizado por Camila dos Anjos e dirigido por Marco Antônio Pâmio une duas peças e artigo do dramaturgo americano Tennessee Williams para compor um registro autobiográfico do autor. O processo de criação e montagem do espetáculo – incluindo tradução, pesquisa de linguagem e ensaios – foi viabilizado pelo Instituto Cultural Capobianco, com curadoria e direção assinadas pela atriz e produtora Fernanda Capobianco. Além da peça, o Capobianco lança na mesma época a publicação Caderno Teatro da Memória, com ensaios de Danilo Santos de Miranda, Denise Weinberg, Kiko Marques, Vinicius Calderoni e Luciano Chirolli, entre outros. O livro, que também tem fotos feitas por Bob Sousa, será doado a instituições.

Desde outubro de 2018, o diretor Marco Antônio Pâmio e a atriz Camila dos Anjos, criadora da Episódica Companhia, ocupam o Instituto Cultural Capobianco em uma residência artística que possibilitou o aprofundamento da pesquisa, desenvolvimento de linguagem, tradução de textos, ensaios e montagem da peça A Catástrofe do Sucesso.

Trata-se de uma união das peças Mister Paradise e Fala Comigo Como a Chuva e me Deixa Escutar com o artigo autobiográfico A Catástrofe do Sucesso, todos de autoria do dramaturgo americano Tennessee Williams (1911 – 1983). O espetáculo estreia dia 8 de março, sexta-feira, 20 horas, no Instituto Cultural Capobianco (Rua Álvaro de Carvalho, 97 – Centro). Camila dos Anjos, idealizadora do projeto, também está em cena ao lado do ator Iuri Saraiva.

Com figurino e direção de movimento de Marco Aurélio Nunes, iluminação de Wagner Antônio e trilha sonora de Gregory Slivar, a montagem tem cenário minimalista, criado por Cesar Rezende, e recursos do teatro físico trabalhados por Marco Aurélio Nunes com os atores.

Residência
Sobre a residência artística no Capobianco, Pâmio ressalta que a iniciativa possibilitou a verticalização de todos os aspectos que compõem uma montagem cênica. “O fato de termos quase seis meses para ensaiar nos permitiu dedicar cinco semanas inteiras somente ao trabalho de mesa e análise de texto, além de realizar uma pesquisa muito mais aprofundada sobre a obra de Tennessee Williams como um todo, o que seria inconcebível num processo tradicional de montagem”, diz.

Camila dos Anjos complementa que a residência também se destaca por possibilitar que os ensaios ocorram no mesmo lugar em que a peça fará temporada, o que auxilia no ganho de intimidade dos atores com o espaço. “Foi possível conduzir o processo com liberdade e com um tempo ideal para cada etapa”, ressalta a atriz.

A peça marca uma continuidade da parceria de Camila dos Anjos e Marco Antônio Pâmio, que, em 2014, montaram a peça Propriedades Condenadas, união de dois textos curtos de Tennessee Williams: Esta Propriedade Está Condenada e Por Que Você Fuma Tanto, Lily?. Neste novo projeto, a dupla optou po exibir as peças na íntegra e em sequência, entremeadas por trechos do artigo de Williams. Para Pâmio, querer picotar e alternar os textos ou movê-los de outra forma poderia confundir o espectador ou propor um “invencionismo” desnecessário aos escritos de Williams. O artigo está dissolvido em três momentos: no início, entre as duas peças e no final.

Para Pâmio, o maior desafio do projeto foi criar um fio narrativo que fizesse com que os três textos dialogassem entre si. Durante o processo, a pesquisa do quinteto – formado por Pâmio, Camila, Iuri Saraiva, o assistente de direção Gonzaga Pedrosa e o diretor de movimento Marco Aurélio Nunes – incluiu também o documentário Tennessee Williams: Orfeu do Teatro Americano que, segundo o diretor, é um material fundamental para quem quer se aprofundar na obra de Williams. “Como resultado, chegamos a uma narrativa clara, onde as ideias aparecem de forma a aproximar a plateia do mundo e da cabeça de Tennessee Williams, e não a afastar dele”, diz o diretor.

Camila chegou às peças Mister Paradise e Fala Comigo Como a Chuva e me Deixa Escutar enquanto buscava textos e personagens que fossem projeções autobiográficas das experiências vividas pelo autor. A atriz explica que a obra de Williams se baseia essencialmente nos seus conflitos familiares. Filho de mãe com temperamento instável e extremamente opressora e de um pai alcoólatra e viciado em jogos, o artista também teve que lidar com a internação psiquiátrica de sua irmã Rose, que em seguida foi submetida a um tratamento de lobotomia que a incapacitou pelo resto da vida.

“Das memórias desse ambiente familiar ríspido, Tennessee encontrou inspiração para criar suas personagens e um universo imaginário”, conta Camila. Segundo ela, o artigo A Catástrofe do Sucesso não é apenas um elemento de inspiração, mas sim um recurso dramatúrgico que une os dois textos e serve como base textual para o espetáculo.

Nele, o autor discorre sobre a dificuldade de lidar com a fama e o reconhecimento repentino devido ao sucesso de sua primeira peça, À Margem da Vida. “Nas duas peças as personagens são cheias de camadas e conexões com o artigo A Catástrofe do Sucesso. São personagens que experimentam o desejo de exílio, inadequações e conflitos familiares, questões que eram reais e que Tennessee sublimava na sua escrita”, diz Camila.

Mister Paradise conta a história de um escritor de um único livro de poemas que recebe a visita de uma estudante após anos recluso em seu apartamento; Fala Comigo Como a Chuva e me Deixa Escutar acompanha a trajetória de um casal perturbado que vive um de seus muitos momentos de crise em meio a sua relação disfuncional.

Marco Antônio Pâmio avalia que Tennessee se projeta nas personagens desajustadas que existem nas duas peças. “Só que desta vez as peças são alinhavadas pelo artigo A Catástrofe do Sucesso, em que o autor faz um depoimento contundente sobre sua relação com a fama, as consequências sofridas por quem a tem como objetivo principal na realização artística e de como ela pode se revelar um animal traiçoeiro e implacável”, complementa o diretor.

 

Sobre a encenação
A cenografia de A Catástrofe do Sucesso é um desdobramento da primeira parceria de Pâmio e Camila em Propriedades Condenadas, onde linhas desenhadas em uma lousa pontuavam os espaços em que ocorriam as ações. Desta vez, Cesar Rezende, que também assinava o cenário da peça anterior, constrói com cordas as figuras que são manipuladas pelos atores para se tornarem portas, janelas, poltronas e demais objetos necessários para a construção das cenas. “Na primeira peça trabalhamos com os desenhos sobre a lousa e agora as cordas aparecem como uma versão em três dimensões dessa linguagem com desenhos”, conta Pâmio.

Para o artista, a simplicidade no cenário, nos figurinos e na iluminação dão ênfase à força dramatúrgica dos textos de Williams. “O discurso desses textos, ainda que escritos entre as décadas de 1930 e 1950, são altamente contemporâneos e especificamente pertinentes ao que vivemos hoje no Brasil”, diz.

Extremamente narrativas, as peças contam com direção de movimento de Marco Aurélio Nunes, que trabalhou uma partitura física minuciosa com os atores, através de um gestual coreográfico e recursos do teatro físico. “Há textos longos que foram reconstituídos com a movimentação proposta pela direção para que tenhamos essa nova camada na peça”, diz Camila.

Ficha Técnica
Textos: Tennessee Williams
Direção: Marco Antônio Pâmio
Idealização: Camila dos Anjos
Elenco: Camila dos Anjos e Iuri Saraiva
Assistente de Direção: Gonzaga Pedrosa
Cenário: Cesar Rezende
Figurino e Direção de Movimento: Marco Aurélio Nunes
Iluminação: Wagner Antônio
Trilha Sonora: Gregory Slivar
Fotos: Bob Sousa
Tradução:
Mister Paradise e Fala comigo como a chuva e me deixa escutar – Camila dos Anjos
A catástrofe do sucesso – Clara Carvalho
Assistente de Produção: Marcela Horta
Direção de Produção: Selene Marinho e Camila dos Anjos

 

 

 

 

 

A Catástrofe do Sucesso
Instituto Cultural Capobianco
Rua Álvaro de Carvalho, 97 – Centro
Tel.: (11) 3237-1187
Capacidade: 75 lugares
Duração: 60 minutos
Estreia: sexta-feira, 8 de março, às 20h
Temporada: Até 28 de abril
Sextas e sábados, às 20h
Domingos, às 18h
Ingressos:
R$ 30,00 (inteira)
R$ 15,0 (meia)
Classificação indicativa: 14 anos
Bilheteria abre 1 hora antes do espetáculo

 

Instituto Cultural Capobianco
O Instituto Capobianco funciona em um imóvel tombado, casarão charmoso dos anos 20, de arquitetura de influência florentina, onde viveu o bisavô de Fernanda, Remo Capobianco, e onde funcionou uma oficina de escultura e fábrica de azulejos.

O casarão foi construído por Remo Capobianco, filho dos romanos Erasmo Damiano Capobianco Della Spiaggia e Maria Volpi, que vieram casados para o Brasil em 1888 e aqui se estabeleceram. O edifício se destinou à residência familiar e escritório da indústria e comércio Officina de Esculptura e Fábrica de Ladrilhos R. Capobianco & Cia, conforme publicações da época, que ali se instalara nos anos da primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918).

 

Sobre os projetos e residências do ICC
Ao assinar a curadoria e a direção do Instituto Cultural Capobianco, a atriz e produtora Fernanda Capobianco, psicóloga de formação, vem firmando seu nome no cenário teatral da cidade. Atuante à frente do espaço, ela apresenta a programação 2019 para comemorar os 19 anos do teatro e os 10 anos de seu projeto de residência artística.

O projeto de residência artística no Capobianco nasceu de um questionamento de Fernanda Capobianco sobre seu trabalho como curadoria de instituto cultural. Para ela, o formato convencional de aluguel de espaço deixava a desejar. Seus anseios sobre o processo artístico eram mais ambiciosos.

Depois de uma viagem de pesquisa à Europa, passou a se interessar mais pelo assunto. A vontade de construir um projeto maior encontrou eco nos patrocinadores. “É importante ter o artista habitando o espaço do teatro. A residência artística propicia que ele tenha seu habitat, viva e respire sua arte”, diz Fernanda, que gosta de compartilhar a criação.

“É quando mais gosto de trabalhar, pois sinto pulsar a criatividade de cada artista envolvido. É um momento de grande explosão, reunindo vários profissionais focados em cada detalhe do processo artístico. É um habitar necessário para a construção de um personagem, de uma luz, de um cenário, de uma dramaturgia e de uma direção. É um crescimento importantíssimo para o teatro.”

Entre as residências artísticas promovidas pelo Capobianco, destaque para a que acolheu a diretora franco-americana Lea Dant, diretora artística do Théatre du Voyage Interieur, para a montagem da obra inédita Antes de Partir, com atores brasileiros. Em seguida vieram projetos com o diretor Kiko Marques com Cais e a Indiferença das Embarcações e Sinthia; e A Vida Dela, de Priscila Gontijo, dirigida por Mario Vedoya, com Silvio Restiffe, Donizeti Mazonas, Ernani Sanchez e Gabriela Flores; e Rafael Gomes com Gotas d’Água Sobre Pedras Escaldantes, de Rainer Werner Fassbinder, com Felipe Aidar, Nana Yazbek, Luciano Chirolli e Gilda Nomacce no elenco.

O teatro realizou, entre outras atividades de incentivo e fomento à dramaturgia, oficinas, workshops, debates, palestras e mostras de repertório. Destaque para projetos como os que comemoraram os 70 anos do dramaturgo espanhol Jose Sanchis Sinisterra e o centenário do dramaturgo Samuel Beckett, com a encenação das peças A Última Gravação de Krapp (com Antônio Petrin e direção de Chiquinho Medeiros; e Espertando Godot (com direção de Marcelo Lazzaratto). Vale ressaltar, ainda, o intercâmbio com o Teatro Fronterizo de Madrid e Laminimal Companhia de Barcelona (Jose Sanchis Sinisterra e Daniela De Vecchi).

Segundo Fernanda Capobianco, todo projeto só foi possível pela entrega de Julio e Hellen Capobianco a frente da presidência do Instituto Capobianco. “De mãos dadas com Julio, a Hellen garantiu a fluidez e crescimento da nossa história – quase abreviada – não fosse por ela”, concluiu Fernanda.

Foto: Bob Souza

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