No dia 17 de agosto, sábado, às 16h, estreia o espetáculo infantil “Invocadxs” no Teatro Alfredo Mesquita, em Santana. A peça integra a Mostra Sonhos em Tempos de Guerra da República Ativa de Teatro, contemplada pela 32ª Edição da Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. A temporada vai até 08 de setembro. Grátis!
“Invocadxs” é um espetáculo teatral que aborda a criança na escola, seus anseios e problemas, com muita música e memórias reais dos atores. Em cena estão Leandro Ivo, Rodrigo Palmieri, Thiago Ubaldo e Vivi Gonçalves. A provocação cênica é de Marcelo Soler.
A Mostra Sonhos em Tempos de Guerra contempla seis espetáculos teatrais, com linguagens distintas e com a participação de diversos outros artistas. O Inimigo foi apresentado no Teatro Décio de Almeida Prado em Junho; e A Sombra do Vale foi apresentada no Teatro João Caetano, em Julho. “Invocadxs” é o terceiro dentre os seis espetáculos que serão apresentados gratuitamente em Teatros Públicos Municipais. O projeto promoverá ainda debates públicos sobre o Teatro e a Criança na Embaixada Cultural – sede da República Ativa -, que fica na Vila Dom Pedro II – Zona Norte da cidade.
O Espetáculo
Como é a relação da escola com a criança? É baseada no diálogo ou na imposição de regras e valores? Quanto o sistema educacional subestima os pequenos? Esses e outros questionamentos nortearam a criação do espetáculo “Invocadxs”.
Baseando-se em experiências vividas pelos integrantes da República Ativa de Teatro e também por relatos e reportagens, o espetáculo vem questionar o sistema educacional tradicional, dando voz à quem mais precisa ser ouvido: as crianças. Afinal, a escola é a base da construção de uma sociedade, e essa instituição manteve praticamente o mesmo sistema impositivo ao longo do tempo. Como incentivar e promover experiências que ajudem esse aluno a lidar com os problemas da vida? Será que os mesmos métodos ainda são eficientes, ou a realidade das crianças mudou e é necessário repensá-los?
A criança é uma página em branco, que desde o nascimento recebe cores e linhas daqueles que passam por sua vida. Quando chega à escola, ela já possui muitos traços da família, e agora irá aprender a desenvolver os próprios traços e também a conviver com os diferentes. Ela já possui uma experiência anterior, e a escola é uma continuidade da vida, e não uma preparação para a mesma como muitos afirmam. E por ser essa continuidade, a relação poderia ser muito mais saudável se essa escola proporcionasse mais experiências para que os conteúdos fossem conquistados, e não apenas decorados. Sonhamos com uma escola mais humana, que instrumentaliza o pequeno para que ele saiba reconhecer como pode atuar nas situações que a vida lhe traz, e não apenas um repetidor de conceitos que, muitas vezes, ele não compreende suas razões, mesmo que necessárias.
Em uma época em que o professor é tido como um grande vilão da educação, a Cia ressalta sua visão ao mostrar que ele é também vítima desse sistema. Mesmo com ideias e tentativas, muitas vezes ele é tolhido porque a instituição exige resultados numéricos, que nem sempre reproduzem a real absorção dos conceitos. Então, mais do que buscar culpados, o espetáculo escancara o problema e alimenta a esperança de dias melhores. Mais do que respostas, o espetáculo traz luz à essa crise educacional.
O título do espetáculo anula as questões de gênero do nome “Invocados” como forma de se aproximar da atual geração que reflete sobre assuntos como esse. Atualmente os jovens tem atuado de forma muito inovadora em relações as gerações passadas, transgredindo regras e questionando muitos padrões. Trata-se de uma geração muito mais inclusiva. Para um espetáculo infantil, usar esta grafia no título da peça chega ao ponto de agregar um caráter rebelde. E sim, é exatamente do que isso trata, elevando, inclusive, o questionamento para além das questões de gênero.
A estética do espetáculo é apresentada no formato de uma banda. Abusando dos diversos elementos do universo da música, o cenário e os adereços remetem a esse estilo e propõe rememorar aquelas bandas musicais infantis. As canções apresentadas transcendem e potencializam o discurso da peça.
Outro recurso utilizado é a linguagem documental – que utiliza-se de memórias que se tornam documentos para a criação. Através da experiência de Marcelo Soler (Provocador Cênico) com a Cia de Teatro Documentário, a República Ativa pôde se aproximar de técnicas e perspectivas que ajudaram na composição dessa encenação, aproximando o tema dos artistas e criando laços com nossas próprias histórias (tanto individuais como do coletivo), além de se utilizar de matérias de jornais, relatos e episódios reais sobre a relação da criança e a escola. Ao expor essas memórias, queremos que as crianças identifiquem esses fatos em seus cotidianos, aproximando-as da discussão proposta.
Sobre a Mostra Sonhos em Tempos de Guerra
A partir da temática do espetáculo “O Inimigo”, a República Ativa de Teatro criou e desenvolveu o projeto “Sonhos em tempos de Guerra”, contemplado pela 32ª Edição da Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. Trata-se do aprofundamento da pesquisa da Cia que aborda questões relevantes e delicadas para crianças e jovens, e que proporciona o desenvolvimento de 5 (cinco) novos espetáculos teatrais, com linguagens e abordagens distintas e a participação de diversos outros artistas.
O projeto propõe debater poeticamente a relação da criança com as chamadas “guerras cotidianas” – conflitos que fazem parte do dia a dia e que a criança nem sempre é convidada a refletir sobre eles. Debater é trocar argumentos, discutir ideias. A partir de um debate rico, em que os lados têm liberdade para colocarem suas opiniões livremente, quem assiste ou participa poderá construir o seu ponto de vista com base no que lhe pareceu mais verossímil. Numa sociedade cada vez mais binária, os debates tendem a ser menos honestos, pautados na intenção de apenas defender a própria ideia sem permitir conhecer a ideia do outro. As pessoas se encastelaram em verdades prontas, e quem discorda delas está contra quem as defende. Essa intolerância que se vê entre adultos também reflete entre as crianças e adolescentes, com consequências igualmente grandes para eles e para a sociedade.
A Cia traz à tona esses questionamentos, se propondo a pensar, discutir e direcionar o olhar para a formação de nossas crianças que cresce em meio a uma sociedade tomada por diversas guerras – como gênero, educação, institucional, entre outras –, apresentando ao público essas problemáticas com responsabilidade e poesia. Os resultados desse processo de pesquisa poética serão apresentados nesse formato de Mostra, que se iniciou em Junho e vai até Dezembro de 2019, ocupando diversos Teatros Públicos Municipais em apresentações gratuitas. Ainda como parte dessa Mostra, a República Ativa promoverá o “Fórum Permanente de Discussão”, que visa discutir assuntos pertinentes à criança e diferentes tipos de linguagens no teatro para esse público. Esses debates ocorrerão na Embaixada Cultural – sede da República Ativa -, que fica na Vila Dom Pedro II – Zona Norte da cidade.
Ficha Técnica
Dramaturgia e Encenação: República Ativa de Teatro
Provocação Cênica/Direção: Marcelo Soler
Elenco: Leandro Ivo, Rodrigo Palmieri, Thiago Ubaldo e Vivi Gonçalves
Letras das Músicas: Vivi Gonçalves
Trilha Sonora: República Ativa de Teatro
Iluminação: Rodrigo Palmieri
Cenário, Figurinos e Adereços: República Ativa de Teatro
Cenotécnico: Zé Valdir Albuquerque
Fotografia: Fernanda Oliveira
Design Gráfico: Elaine Alves
Assessoria de Imprensa: Bemelmans Comunicações
Produção: Fulano’s Produções Artísticas
Produção Executiva: Célia Ramos
Mostra Sonhos em Tempos de Guerra
32ª Edição da Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.
Espetáculo: Invocadxs
República Ativa de Teatro
Teatro Alfredo Mesquita
Av Santos Dumont, 1770 – Santana
Tel.: (11) 2221-3657
Lotação: 198 lugares
Temporada: de 17 de agosto a 08 de setembro de 2019
Sábados e Domingos, às 16h
Sessões extras: 22, 23, 29 e 30 de agosto, 05 e 06 de setembro, às 10h e as 14h30
Entrada Gratuita
Classificação: Livre
Sobre a Cia
A República Ativa de Teatro desenvolve desde 2006 uma sólida pesquisa dentro do universo teatral para crianças, intitulada “O Real Imaginário”. Com um premiado repertório de espetáculos, contações de histórias e oficinas, a Cia continua atuante, experimentando e reafirmando escolhas em prol de um teatro infantil artisticamente relevante.
O início dessa pesquisa se deu através da busca por textos consagrados na dramaturgia brasileira para crianças. Com o olhar atento para temas que fossem relevantes nos dias atuais, a Cia encenou a aceitação do ser diferente em nossa sociedade (“A Bruxinha Que Era Boa” – 2006), as perdas sofridas ao longo da vida e a busca por nossos sonhos (“O Cavalinho Azul” – 2008), a descoberta da liberdade, maturidade, autonomia e autenticidade (“A Menina e o Vento” – 2012). Junto a essa trilogia, foram criadas uma série de contações de histórias e oficinas a partir dos temas dos espetáculos, com adaptações de diversos livros infantis, que somadas à debates, oficinas e reflexões, fizeram parte do projeto “O Universo Infantil em Maria Clara Machado”.
Com o intuito de discutir os medos da criança contemporânea, a solidão, o abandono e as relações entre pais e filhos, a Cia estreou seu primeiro espetáculo totalmente autoral “Quem Apagou a Luz?” (2012). O segundo trabalho autoral foi o espetáculo “Splash ou A História da Gota Que Sonhava Ser Rio” (2016) que trouxe à cena uma discussão sobre os anseios e angústias da criança (e do ser humano) ao ter de se relacionar com o outro. No mesmo ano, a Cia estreou no Centro Cultural São Paulo o espetáculo “O Inimigo” (2016), baseado na obra homônima de Davide Cali e direção de Val Pires, levando à cena as incoerências de uma guerra, com todas as suas contradições e possíveis desdobramentos.
Recentemente, a Cia foi contemplada pela 32ª Edição da Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, com o projeto “Sonhos em Tempos de Guerra”, que conta com a participação de diversos artistas e coletivos para a criação, desenvolvimento e reflexão da criança dentro das pequenas guerras cotidianas. O projeto está em desenvolvimento desde setembro de 2018.
Esse repertório recebeu 29 prêmios em diversos festivais pelo país, além de duas participações em festivais internacionais no Chile – “3º Encuentro de La Red Iberoamericana de Artes Escènicas” (2007) e “XIV Festival Internacional de Teatro Entepach” (2009) – e grande repercussão de público e crítica.
Foto: Fernanda Oliveira
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