Transmitido ao vivo direto do Espaço Kasulo, espetáculo criado e dirigido por Sandro Borelli traz um retrato crítico de Joana D’arc com uma interpretação de um artista diferente a cada final de semana da temporada…
Criado em 2018 por Sandro Borelli para que ele próprio interpretasse, além de se dirigir, o espetáculo Balada da Virgem – Em Nome de Deus ganha uma nova montagem online que estreia no dia 9 de julho, às 20 horas pelo YouTube da Cia Carne Agonizante. Em cada um dos finais de semana, um intérprete diferente em cena. Dias 9 e 10 de julho, Renata Aspesi dá vida à Joana D’arc novamente, uma vez que ela já interpretou a personagem em Balada da Virgem – Em Nome de Deus; dias 16 e 17, é a vez de Yorrana Soares; no final de semana de 23 e 24 de julho, a apresentação será de Alex Merino; a temporada se encerra nos dias 30 e 31 de julho, com Rafael Carrion. As apresentações são gratuitas e transmitidas ao vivo direto do Espaço Kasulo. O projeto foi contemplado na 1ª Edição do Prêmio Aldir Blanc de Apoio à Cultura da cidade de São Paulo, módulo Maria Alice Vergueiro.
Balada da Virgem – Em Nome de Deus traz uma solitária Joana D’arc em seus momentos finais. Quando foi criado, em 2018, o cenário político recente ecoava na temática de seu injusto julgamento. O impeachment da presidente Dilma Roussef e a prisão do ex-presidente Lula traziam a tona o mesmo clima de caça às bruxas e farsa política, que trazem consequências nefastas para o país até hoje.
A Joana que a obra evoca está mais na reflexão sobre as contradições de sua fé do que na tentativa de uma personificação biográfica. A obra duvida do discurso devoto e subserviente a Deus da Joana histórica e impõe a ela a necessidade de revolta contra essa figura masculina e patriarcal de Deus, uma figura que violenta seu corpo em um martírio físico e psíquico.
A ação coreográfica se dá nessa batalha de cosmovisões, um duelo simbólico entre os anjos e demônios que movem a mente e o corpo de Joana em seus momentos finais e a arrastam inconclusivamente para a morte na fogueira.
“Trazemos uma Joana crítica, que duvida do seu Deus/ mentor e coloca em dúvida tudo o que fez por e para ele. Quisemos sair da Joana D’arc católica e trazê-la de uma maneira mais revolucionária e questionadora”, explica o diretor Sandro Borelli.
Dança e gênero
Em Balada da Virgem – Em Nome de Deus e em outros trabalhos do grupo, o tema gênero é sempre abordado a partir de uma perspectiva de deslocamento e habitação. O/a intérprete se desloca rumo às contradições, dúvidas, fragilidades e potências da personagem e, nesse território, ele/ela habita o conteúdo dessas vivências a partir de uma poética coreográfica e de uma disponibilidade física para a construção de corporalidades que tornem presente uma figura que se cria nessa relação entre o que já está ali e o imaginário que provoca a criação.
“Quando montei esse espetáculo, estava há um tempo sem ir para a cena. E resolvi encarnar uma figura lendária. Depois de um tempo em cena, fiquei incomodado de estar ali emprestando meu corpo para uma figura feminina por algum motivo. Depois de um ano, resolvemos montar o trabalho e resolvi recriá-lo com outra pessoa. Chamei a Renata, que também está nessa temporada. Esse olhar de fora me fez ver que o trabalho cresceu muito. Agora, trouxemos a Joana para quatro corpos bem diferentes, que irão trazer novas perspectivas para o espetáculo, mesmo com o meu roteiro de direção em comum. A ideia é enriquecer a cena e trazer não só uma Joana diferente do que é comumente retratada, como ela retratada por diferentes corpos, experimentando diferentes maneiras dessa pesquisa se reverberar”, comenta Sandro.
Cada intérprete contamina e desloca a obra, suscitando questões sobre a representatividade do corpo que está na cena em paralelo ao corpo histórico/literário/mitológico que a obra investiga. “Também é importante ressaltar que esses mesmos corpos históricos/literários/mitológicos aparecem em cena enquanto conteúdo simbólico muito mais do que em seu conteúdo biográfico, talvez se possa dizer que o corpo aparece enquanto idéia. Uma idéia que em sua potência desloca a poética de uma infinidade de outros corpos não se cabendo ou não se contendo num conceito de identidade individual”, diz o diretor.
Sandro diz que não fez adaptações para a montagem para levá-la para o online. Ele diz que em vez de o público trabalhar o seu olhar, ele assistirá um espetáculo muito baseado no que o grupo vê do espetáculo, uma vez que os artistas irão selecionar como a câmera irá se movimentar e no que irá focar.
Ficha Técnica
Concepção, Coreografia, Direção, Luz: Sandro Borelli
Intérpretes: Renata Aspesi, Yorrana Soares, Alex Merino e Rafael Carrion
Assistência Coreográfica: Rafael Carrion
Trilha Sonora: Gustavo Domingues com trechos das obras de Olafur Arnalds e Levon Minassian & Armand Amar.
Luz: Sandro Borelli
Figurino: Grupo
Arte Gráfica: Gustavo Domingues
Fotografia: Alex Merino e Rafael Carrion
Direção de Produção: Júnior Cecon
Balada da Virgem – Em Nome de Deus
Youtube – https://www.youtube.com/user/ciaborellidedanca
Data: De 9 a 31 de julho
Sextas e sábados, às 20 horas
Dias 9 e 10 – Com Renata Aspesi
Dias 16 e 17 – Com Yorrana Soares
Dias 23 e 24 – Com Alex Merino
Dias 30 e 31 – Com Rafael Carrion
Duração: 45 minutos.
Recomendação etária: Maiores de 16 anos
Sobre a Cia
Criada em 1997, a cia desenvolve pesquisas e criações em dança, tendo em seu repertório 27 peças coreográficas. O percurso do Grupo é pautado por uma dança teatralizada, seus trabalhos criativos tem a intenção de gerar uma potência que possa provocar reflexão na plateia e não a deixar apenas na superfície do entretenimento.
Os espetáculos do seu acervo discutem a urgente resistência à massificação dos indivíduos, se contrapondo à transformação da vida em mercado e do homem em mercadoria. Por conta disso, trafega na contramão do Shopping Center cultural, muito preocupado com cifras, público e pouco inquieto com as relações sócio-políticas.
Para a Cia Carne Agonizante, a cena deve ser preponderantemente o lugar de uma poderosa manifestação poética de guerra com corpos bélicos sob seu comando. Sendo assim, de nada adiantará buscar novos sentidos e olhares para uma construção cênica coreográfica, sem que com eles não sejam produzidas metamorfoses capazes de ao menos impactar o público presente, convidando-o à emoção e à reflexão. Sob as energias apolíneas e dionisíacas, uma constante pulsão de vida e morte.
Foto: Alex Merino
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