Teatro Arthur Azevedo recebe nova temporada do espetáculo Por Um Pingo

Texto de Dante Passarelli mescla suspense, sarcasmo e toques de absurdo para abordar as diferentes facetas da disputa política pelo espaço urbano. O cenário, um apartamento sem móveis, aposta na ilusão de ótica para criar estranhamentos na plateia…

 

 

 

 

Após temporada sucesso de público e crítica no Centro Cultural São Paulo, Por Um Pingo, montagem do Manás Laboratório de Dramaturgia para o texto de Dante Passarelli, que também assina a direção em parceria com Fernanda Zancopé, faz uma nova temporada na capital paulista. As apresentações gratuitas acontecem de 12 a 28 de julho, quinta-feira a sábado às 21h e domingo às 19h, no Teatro Arthur Azevedo.

O texto de Dante Passarelli – menção honrosa no 31º Programa Nascente, tradicional concurso artístico da Universidade de São Paulo – traz à cena reflexões sobre a especulação imobiliária agressiva na cidade de São Paulo e o direito à cidade, mas sempre pontuada com um tom ácido e cômico e toques de absurdo.

Em Por Um Pingo, o elenco formado por Ana Paula Lopez, Cris Lozano, Diego Chilio e Fernando Aveiro conta a história de um casal, que aguarda a visita de um corretor de imóveis em seu apartamento. Mas surge uma mancha de mofo no teto, um vazamento de água iminente. A misteriosa vinda de um trabalhador para consertar o teto revela o que está escondido nas paredes do edifício.

 

Distorção da realidade
Contemplado pelo 18º Prêmio Zé Renato da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, Por Um Pingo ganhou forma a partir de um acontecimento real com o dramaturgo Dante Passarelli. Em 2019 uma mancha ocasionada por um vazamento de água apareceu em seu apartamento. “A peça começa justamente com uma mancha no teto, assim como aconteceu na minha casa. A partir disso, desenvolvi a história e usei a metáfora do crescimento da mancha como reflexo do interior das personagens em relação à cidade e ao que está soterrado entre os edifícios que não param de ser construídos, algo sempre pingando e expandindo”, adianta o autor e diretor.

Como forma de potencializar o tema, Dante optou por escrever algo não realista, uma distorção da realidade. A ideia principal é lançar um olhar para a cidade e o comportamento e organização da sociedade, sempre com uma reflexão sobre a forma violenta que se dá essa convivência. Por Um Pingo leva para a cena o debate sobre o direito à cidade e os efeitos psicológicos de tamanha hostilidade nos indivíduos e suas relações. Para isso, o texto colhe inspirações em elementos da tragédia Hamlet, de William Shakespeare, do filho que busca vingar o pai, assim como uma das personagens da peça.

“Nosso desejo é examinar o microcosmo das personagens em conexão com a história da cidade tratada como produto comerciável, por isso a mancha cresce sem controle o que leva as personagens ao auge da paranoia. São heranças aparentemente particulares, mas que se amplificam para o campo social e político”, explica Dante Passarelli.

 

Comédia e suspense
Por Um Pingo tem direção do próprio autor Dante Passarelli em parceria com Fernanda Zancopé. Na encenação, a dupla, que explora um equilíbrio entre comédia e suspense, buscou inspiração nos filmes de Alfred Hitchcock, além de uma orientação em técnicas de comédia com o ator e diretor especializado em circo-teatro Fernando Neves.

A diretora Fernanda Zancopé explica que nos projetos do Manás Laboratório de Dramaturgia o texto sempre é o ponto de partida. “Sempre chegamos na sala de ensaio com o texto pronto. Com isso já resolvido, focamos no processo criativo da encenação”. Em Por Um Pingo os encenadores investem em uma linguagem expressionista com elementos que partituram as ações do elenco com movimentos bem definidos.

“No espetáculo, questionamos paradigmas sobre a nossa sociedade, estruturada em sua origem a partir de interesses mercadológicos, individualistas, antissustentáveis, de consumo descontrolado, que têm consequências violentas para a maneira como as pessoas convivem na cidade. A paranoia das pessoas nesses grandes centros urbanos e o medo do invisível também estão presentes”, pontua Fernanda Zancopé.

Com cenografia de Julio Dojcsar, iluminação de Aline Santini, sonoplastia de Ale Martins e figurino de Silvana Marcondes, Por Um Pingo reúne uma equipe criativa na direção de arte, que dialoga diretamente com o cinema. O cenário, um apartamento sem móveis, aposta na ilusão de ótica para criar estranhamentos na plateia. Além disso, o espaço é filmado por câmeras de segurança transmitidas ao vivo à plateia, em desenho de vídeo assinado por Marcelo Moraes, o que propõe novas perspectivas da cena. Já o figurino aposta na decadência e na distorção de proporções com materiais que rementem ao elemento água.

Sinopse
Casal aguarda a visita de um corretor de imóveis em seu apartamento. Mas surge uma mancha de mofo no teto: um vazamento de água iminente. Ao chamar um homem dos serviços, ele faz a primeira visita e desaparece. A mancha cresce e os pingos não param, revelando o passado que está soterrado por trás das paredes do edifício.

Ficha Técnica
Dramaturgia – Dante Passarelli. Direção Geral – Dante Passarelli e Fernanda Zancopé. Elenco – Ana Paula Lopez, Cris Lozano, Diego Chilio e Fernando Aveiro. Trilha Sonora – Ale Martins. Cenografia – Julio Dojcsar. Desenho de Luz – Aline Santini. Figurino – Silvana Marcondes. Orientação em Técnicas de Circo-Teatro – Fernando Neves. Desenho de Vídeo – Marcelo Moraes. Cenotécnicos – Fernando Lemos (Zito) e Michel Gonzalez. Preparação Corporal – Marcus Moreno. Assistente de Figurino – Rud Fiamini. Assistente de Iluminação – Claudio Gutierres. Operação de Luz – Marina Gatti. Operação de Som – Ale Martins e Gabriel Bessa. Operação de Vídeo – Gabriel Bessa. Costureira – Daniela Leóz. Design Gráfico – Renan Suto. Fotos e Vídeo – Jamil Kubruk. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Marketing Digital – Platea Comunicação e Arte. Produção – Anayan Moretto. Produção Executiva – Marcelo Leão. Realização – Manás Laboratório de Dramaturgia, Cooperativa Paulista de Teatro, Prêmio Zé Renato e Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo.

 

 

 

 

 

Por Um Pingo
Manás Laboratório de Dramaturgia
Teatro Arthur Azevedo
Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca, São Paulo.
De 12 a 28 de julho de 2024
Quinta-feira a sábado às 21h
Domingo às 19h (sessões extras dias 25 e 26 de julho, quinta e sexta-feira, às 18h).
Duração: 70 minutos
Classificação: 12 anos
Gratuito.

 

Sobre o Manás Laboratório de Dramaturgia
Grupo de pesquisa em escrita cênica autoral criado em 2019, que nasceu entre as aulas do CPTzinho de Antunes Filho, quando Dante Passarelli e Fernanda Zancopé se reuniam para discutir e escrever dramaturgia. Seu primeiro trabalho foi a peça Uma Cena de amor para Francis Bacon, contemplada pelo PROAC LAB 2020, texto de Fernanda, dirigido pela dupla, que cumpriu 30 apresentações entre 2020 e 2021. A peça foi convidada para participar do 25º FESCETE de Santos e da Virada Cultural de São Paulo 2020. Sempre buscando expandir sua pesquisa para além do grupo, a dupla de diretores criou a série de lives Compartilhando a Tela, sobre o processo criativo do espetáculo. Desde então, ambos iniciaram pesquisas de mestrado sobre dramaturgia na USP e na UNICAMP, respectivamente. O Manás também realiza os laboratórios de escrita Compondo Sem Filtro, que desde 2020 propõem trocas poéticas entre artistas da cena, mediados pela dupla, por onde já passaram inúmeras autoras e autores teatrais, como Luís Alberto de Abreu, Janaina Leite, Newton Moreno, Marcio Abreu, Maria Shu, Michelle Ferreira, Ave Terrena, Silvia Gomez, Kiko Marques e Alexandre Dal Farra. Outros textos desenvolvidos dentro do contexto do grupo foram publicados: Fernanda publicou O Auto do Fim do Tempo na Revista Maldita (2020) e Dante publicou Um Ato de Uma Nação ou o Sol é feito de LED na revista Dramaturgia em Foco (2021) e O fim é sempre pop (editora SESI, 2022). Dando início ao seu segundo trabalho, Por Um Pingo, o grupo idealizou e realizou um ciclo de encontros no Centro Cultural São Paulo, em outubro de 2022 com rodas de discussão e leitura dramática da peça. Os três debates tiveram a presença do Instituto Pólis e BR Cidades, do pesquisador Deivison Faustino e de Carmen Silva, do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC). A pesquisa do Manás Laboratório é voltada para criação de dramaturgias originais desenvolvidas com um trânsito de artistas e parcerias que se moldam de acordo com os novos projetos.

 

Foto: Jamil Kubruk

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