A Iminência da Morte das Plantas pelos Canhões de Guerra no Teatro de Contêiner Mungunzá

Primeira criação do Coletivo Seiva Bruta, grupo de jovens artistas formado no Departamento de Artes Cênicas da Universidade de São Paulo (USP), A Iminência da Morte das Plantas pelos Canhões de Guerra, faz temporada até dia 17 de junho, no Teatro de Contêiner Mungunzá…

 

 

 

 

Com Direção de Victor Walles, que assina a dramaturgia ao lado de Maíra do Nascimento, montagem traz no elenco os atores Camila Móra, Fernando Moraes e Henrique de Paula. O espetáculo traz à cena pesquisas histórico-sociais sobre o ano de 1968 no Brasil, suas revoluções de costumes, lutas do movimento estudantil e o avanço brutal da repressão do aparato militar até culminar no AI-5. Para isso, a montagem tem como base de sua criação, três referências fundamentais de pesquisa: o filme Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci, sobre três jovens universitários vivendo em um apartamento em pleno fervor das manifestações e lutas do maio francês nas ruas de Paris; o livro 1968 – O Ano que não Terminou, de Zuenir Ventura, que trata das transformações e lutas que ocorreram no Brasil durante o ano e o artigo Sobre o Conceito de História, de Walter Benjamin.

Em A Iminência da Morte das Plantas pelos Canhões de Guerra dois irmãos Téo (Fernando Moraes) e Isa (Camila Móra) moram na Rua Maria Antônia e recebem o estrangeiro Mateus (Henrique de Paula) para passar um tempo junto com eles no apartamento. Trancados como forma de proteção e esconderijo ao avanço da repressão do governo militar, os três atravessam o ano de 1968 passando pelas revoluções culturais e as revoltas políticas lideradas pelo movimento estudantil. Narram a morte do estudante Edson Luís, expõe suas contradições na Batalha da Maria Antônia, viajam até o congresso de Ibiúna e como um delírio de um dia ter achado a possibilidade de impedir o avanço opressor do aparato militar, terminam separados com a decretação do AI-5.

 

Resgate da memória
Contemplado pelo ProAC Primeiras Obras do Estado de São Paulo, o espetáculo traz para o contexto das movimentações políticas e sociais do Brasil de 1968 a situação dos três jovens do filme de Bertolucci. Para o diretor Victor Walles, a pesquisa da peça possui um caráter de resgate da memória no intuito de desvelar ecos do passado que foram adormecidos durante esses quase cinquenta anos que separam a nossa geração, daquela de 1968. “Como um coletivo de jovens artistas universitários nos interessa olhar para os que vieram antes de nós, e, a partir daí, entender de onde estamos falando, de onde parte a nossa construção, em busca de compreender melhor os conflitos e contradições do presente”, define ele.

Em Os Sonhadores os personagens fazem jogos cinematográficos e na peça eles falam sobre espetáculos emblemáticos de teatro buscando uma forma de entender a vida. Outra mudança em relação ao longa é a construção de uma nova personagem feminina sem, como no filme, ser retratada de forma submissa, sexualizada e objetificada. O relacionamento dos três jovens também sai da reprodução de padrões e vira uma relação homossexual.

“Através da metalinguagem, presente em todo o texto, trago à tona dramaturgias históricas. Nosso processo de pesquisa para a montagem teve início com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, depois vieram as ocupações das escolas pelos estudantes do ensino médio, a intervenção militar o Rio de Janeiro e o assassinato da vereadora Marielle Franco. Impossível não fazer vários comparativos com 1968”, explica o diretor.

 

Fora da universidade
O processo de criação de A Iminência da Morte das Plantas pelos Canhões de Guerra começou no segundo semestre do ano de 2016, durante a disciplina de Direção III, orientada pelo Prof. Dr. Antônio Araújo dentro do Departamento de Artes Cênicas da Universidade de São Paulo (USP). O grupo, então se debruçou na elaboração do texto e também de um primeiro experimento cênico, o que gerou no ano seguinte a criação do coletivo e a ideia de levar o espetáculo aos palcos fora dos muros da universidade.

Durante a pesquisa para a construção do espetáculo, o Coletivo Seiva Bruta passou por três locais que protagonizaram eventos e ideologias marcantes do ano de 1968 e que foram fundamentais no trabalho com a criação da dramaturgia, como a Rua Maria Antônia e região (Batalha da Maria Antônia entre Mackenzie e USP); a cidade de Ibiúna onde ocorreu o Congresso da UNE e o antigo prédio do DOPS que hoje é o Memorial da Resistência de São Paulo.

 

Tropicália
De acordo com o diretor Victor Walles, a montagem busca referências na Tropicália. “Não queremos reproduzir o conceito, mas sim flertar com o tropicalismo, que é uma troca e mistura de linguagens”, explica ele. O cenário da peça é uma referência ao artista performático, pintor, escultor Hélio Oiticica e suas obras Penetráveis, labirintos sensoriais feitos de diversos materiais e texturas, como areia, asfalto, terra, água, tecido, cordas e plantas.

“No espetáculo cada personagem cuida de uma planta, que acabam integrando a cenografia e possuem até nomes – Cacilda, Brigite e Gal”, conta o diretor. O cenário – o apartamento onde vivem os três personagens – se completa com poucos elementos que são resignificados a cada cena e se transforma na Rua Maria Antônia e também na cidade de Ibiúna.

Ficha Técnica
Com o Coletivo Seiva Bruta
Direção – Victor Walles
Dramaturgia – Maíra do Nascimento e Victor Walles
Atuação – Camila Móra, Fernando Moraes, Henrique de Paula
Iluminação – Valmir OS
Cenografia – Guilherme Wolff Lemos
Figurino – Guilherme Wolff Lemos
Sonoplastia – Edézio Aragão e Hayeska Somerlatte
Produção – Ana Bonetti
Voz Off – Alice Máximo, Ana Bonetti, Giovanna Monteiro e Victor Walles
Arte Gráfica – Nina Menezes

 

 

 

 

A Iminência da Morte das Plantas pelos Canhões de Guerra
Teatro de Contêiner Mungunzá
Rua dos Gusmões, 43 – Luz (próximo à estação Luz do metrô)
Capacidade: 99 lugares
Duração: 120 minutos
Temporada: até 17 de junho
Sábados e domingos, às 20h
Ingressos:
R$ 20,00
R$ 10,00 (meia-entrada)
Classificação: Recomendado para maiores de 16 anos
Bilheteria – Abre uma hora antes do início das apresentações (aceita dinheiro e cartões débito/ crédito Visa e MasterCard).
Vendas Online: Sympla
Acesso para deficientes físicos

 
Fotos: Maitê Arouca / Giulia Martini

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