Performer e Artista Visual Shima faz ocupação no Centro da Terra

Há um mês o artista Marcio Shimabukuro, o Shima, descobriu que a família de seu avô paterno trocou, no século passado, o sobrenome familiar. Ainda em pesquisa e sem saber exatamente o porquê dessa mudança, decidiu abolir seu nome e permanecerá 40 dias sem nome. Para isso, na véspera de seu 40º aniversário – dia 9 de setembro, – realiza a peça performática A Morte de Shima: um minuto para cada ano de vida. A ação integra a ocupação RE/DES, que o artista realiza de 8 a 23 de setembro no Centro da Terra com mais cinco artistas/ coletivos de diferentes áreas…

 

 

 

 

Em um intercâmbio de linguagens, a cada dia, os artistas convidados farão uma apresentação diferente. As ações podem ou não contar com a participação de Shima e orbitam em torno dos temas ancestralidade, tradição, sexualidade, gênero e o que é ser asiático no Brasil.

Bia Nagahama dá início a ocupação no dia 8 de setembro com a palestra-performance Mi Nu Mé – Vivendo o Agora!, e Shima realiza sua performance derradeira no dia 9 de setembro. Já no dia 15 de setembro os artistas Eduardo Colombo, Tiago Viudes e Vitoru Kinjo apresentam a performance Nomes e Lúcia Kakazu sobe ao palco dia 16 de setembro com um work in process da sua coreografia Obá nu Mun. A projeção do filme Lembro mais dos Corvos, de Gustavo Vinagre com a participação da roteirista e atriz Julia Katharine (premiada na 21ª Mostra de Cinema de Tiradentes) acontece dia 22 de setembro e Vitoru Kinjo encerra a ocupação no dia 23 de setembro com a performance Diaspórico Regional.

Shima conta que para a primeira edição RE/DES procurou reunir artistas em torno de trabalhos que se voltassem ao povo uchinanchu, da região de Okinawa, no Japão. “O povo uchinanchu é um povo indígena que só foi reconhecido pela ONU em 2018”, explica o artista, que escolheu o nome da ocupação pensando em duas partículas precisas. “Re significa volta e repetição, e des remete a destruição e desmanche”, complementa.

 

Okinawa
RE/DES começa dia 8 de setembro, sábado, com a ação Mi Nu Mé – Vivendo o Agora!, de Bia Nagahama, uma das poucas kamin-tyu (pessoa de Deus, em livre tradução) atuantes no Brasil, que com sua presença performática discorrerá sobre o Agora segundo a espiritualidade do povo uchinanchu (povo indígena da região de Okinawa, no Japão). A espiritualidade de Okinawa envolve o culto aos antepassados e às forças da natureza (animismo), não sendo considerada uma religião, pois não considera líderes espirituais ou dogmas, mas o Destino e as escolhas de cada um.

Já no domingo, dia 9 de setembro, acontece a peça performática A Morte de Shima: um minuto para cada ano de vida planejada por Shima, onde as vésperas do seu 40º aniversário, o artista, professor e pesquisador em artes visuais decide decretar sua morte, após descobrir que a família de seu avô paterno trocou o sobrenome da família.

Na performance Nomes, que acontece dia 15 de setembro, sábado, o público é recebido pelos artistas Eduardo Colombo, Tiago Viudes e Vitoru Kinjo para um ritual de família. Entre a bebida e a comida, conversas e confissões, são ofertados cantos, danças e histórias de um amor autobiográfico. A ação é, a um só tempo, pesquisa continuada e obra performativa que fricciona as fronteiras entre vida e arte, intimidade e alteridade, presença cênica e presença cotidiana, e faz do público cúmplice e parceiro de uma relação de amor a três.

Work in process de uma dança documental que busca no fluxo uma estratégia de ser, Oba nu Mun (em uchinaguchi, língua tradicional de Okinawa, significa “Coisas da Avó”), de Lúcia Kakazu, dá continuidade a ocupação RE/DES e acontece no domingo, dia 16 de setembro. A apresentação parte de objetos, registros diversos e relatos de memórias de uma avó, natural de um Japão Pós-Guerra, para encontrar uma dramaturgia do corpo que evidencie o embate de culturas presente na relação com sua neta em uma dança de travessias e espirais, de busca e encontro, de gestos efêmeros que nascem e desvanecem no abismo entre duas línguas e se inflamam na presença do que é finito.

 

Cinema
O último fim de semana da ocupação RE/DES começa dia 22 de setembro, sábado, com a projeção do filme Lembro mais dos Corvos, de Gustavo Vinagre. No longa, durante uma crise de insônia, a atriz Julia Katharine, uma mulher transexual, conta a história de sua vida através de um monólogo. A intimidade da personagem central é exposta através de relatos reais de resistência e autoaceitação. Após a projeção a roteirista e atriz Julia Katharine (premiada na 21ª Mostra de Cinema de Tiradentes) bate-papo com o público presente.

Vitoru Kinjo com sua performance Diaspórico Regional sobe ao palco do Centro da Terra no dia 23 de setembro, domingo. Performance de registro musical, fruto de um processo de pesquisa, reflexão e criação de mais de 15 anos, em que o artista e sociólogo pesquisou temas como cidade, economia-ecologia, cultura-sociedade, identidade, gênero, diáspora, etnicidade, sexualidade, corpo, performance, política, canto e ação social. Ele parte da imaginação sobre as raízes, sempre transculturais, mas ligadas ao presente e ao passado do mundo e da terra, para uma música que seja ao mesmo tempo antropofagicamente ancestral e contemporânea.

 

Espaço de experimentação
A ocupação RE/DES integra a programação de Artes Cênicas do Centro da Terra. O espaço cultural abre as portas para receber apresentações de teatro, música, dança e performance naquilo que mais lhe parece óbvio: o experimentar. Sem a busca por produtos definitivos ou meras apresentações circunstancias para cumprir temporadas, os artistas são convidados a construírem experiências cênicas e musicais, estéticas, dramatúrgicas, coreográficas, performáticas e conceituais.

As Ocupações propostas pelo curador de Artes Cênicas Ruy Filho tem como diretriz a provocação de artistas ao experimentalismo de novas criações em processo, com foco em suas inquietações; não limitadas a resultados esperados, mas aos riscos, possibilidades e radicalidades da Arte. Definiu-se, ainda, frente ao valor experimental que as realizações não ocupariam os espaços como temporadas normais, mas na condição de pequenos eventos, ruídos disponíveis ao todo, nos quais relevantes nomes serão convidados a expor suas ideias e pesquisas. “Instituir um espaço de experimentação é fundamental ao crescimento da cena teatral, de modo a estabelecer no contexto da cidade de São Paulo novos parâmetros e proposições. O Centro da Terra entende estar no movimento sua pequena revolução participativa. Torcemos, o que é especialmente positivo, para que nem seja tão pequena assim”, acredita o curador.

 

 

 

RE/DES
Artista – Shima
Curadoria – Ruy Filho
Centro da Terra
Rua Piracuama, 19 – Perdizes
Tel.: (11) 3675-1595
Capacidade: 100 lugares
De 8 a 23 de setembro
Sábado e domingo, às 20h
Ingressos:
Ingresso consciente de R$ 15,00 a R$ 50,00 (o público, consciente do trabalho envolvido para realização do espetáculo, e do valor que ele dá para vivenciar esta experiência, escolhe quanto acha adequado pagar pelo seu ingresso, de acordo com sua condição financeira)
Vendas: Sympla
Classificação: Livre

 

Programação

Mi Nu Mé – Vivendo o Agora!
Com Bia Nagahama
Duração: 60 minutos
Sábado, 8 de setembro, às 20h

A Morte de Shima: um minuto para cada ano de vida
Com Shima
Duração: 39 minutos
Domingo, 9 de setembro, às 20h

Nomes
Com Eduardo Colombo, Tiago Viudes e Vitoru Kinjo
Duração: 60 minutos
Sábado, 15 de setembro, às 20h

Oba nu Mun
Com Lúcia Kakazu
Duração: 30 minutos
Domingo, 16 de setembro, às 20h

Lembro mais dos Corvos
Com Gustavo Vinagre e Julia Katharine
Duração: 120 minutos
Sábado, 22 de setembro, às 20h

Diaspórico Regional
Com Vitoru Kinjo
Duração: 30 minutos
Domingo, 23 de setembro, às 20h

 

Centro da Terra
O Centro da Terra é um espaço cultural independente sem fins lucrativos mantido por Keren e Ricardo Karman. Inaugurado em 2001 e reformado em 2015, suas instalações abrangem um teatro com palco italiano, um ateliê, uma praça de convivência com um café, um terraço e salas multiuso. O teatro situa-se doze metros abaixo da superfície terrestre e foi aberto, após dez anos de obras e escavações no quarto e quinto subsolos de um edifício, no bairro de Perdizes, na capital paulista. Seu nome vem da sua localização subterrânea e é, também, uma homenagem ao espetáculo Viagem ao Centro da Terra realizado, em 1992, pela Kompanhia do Centro da Terra.

A programação é dirigida a todos os públicos, focada em produções, apresentações e ações de formação em Música, Artes Cênicas e Visuais que priorizem a linguagem contemporânea, e que dialoguem com a pesquisa da Kompanhia do Centro da Terra. A escolha da programação é feita por uma equipe de curadores que, a partir de suas pesquisas autorais, trazem para o Centro da Terra trabalhos experimentais de artistas emergentes e/ou consagrados, lançamentos, remontagens, temporadas pós estreia e projetos especiais. O local também abriga a escola de Arte Grão do Centro da Terra, que desenvolve um curso livre em que crianças e adolescentes participam de experiências nas diversas linguagens artísticas e que tem como fundamento a liberdade de criação, a ludicidade e a participação coletiva em percursos singulares.

 

Fotos: Divulgação
Foto Nomes: Chun Fotografia

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