Companhia Letras em Cena apresenta Mau Encontro

A Companhia Letras em Cena leva para o palco os preconceitos e a impotência dos privilegiados na sua relação com os excluídos no espetáculo Mau Encontro, às quintas-feiras, às 20h, no Espaço Companhia da Revista. Com direção de Imara Reis e texto de Guilherme Mattos, a montagem traz no elenco os atores Eduardo Silva, Gabriela Rabelo, Graça Berman, Pedro Lopes, Telma Dias, Valéria Simeão e William Amaral…

 

 

 
Contemplado pela 8ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro, da cidade de São Paulo, Mau Encontro põe em cena um grupo de brasileiros, de status e poder aquisitivo elevado, presos na Sala VIP de um aeroporto internacional, por conta de situações climáticas adversas. Os saguões estão caóticos, com muito mais gente que o normal. Quando, depois de uma recusa, um arrogante ator de novelas quebra uma garrafa de vidro na cabeça de um segurança negro da Sala VIP, o grupo é obrigado a lidar com uma situação incomum.

Luiz (Eduardo Silva) é um professor de Antropologia. Mônica (Valéria Simeão) é uma jovem administradora de empresas. Francisca (Graça Berman) é engenheira de computação. Teresa (Gabriela Rabelo) é viúva de um dos maiores empresários da cidade. Felipe (Pedro Lopes) é publicitário e Cecília (Telma Dias), sua jovem esposa, cuida de uma ONG. Todos são frequentemente servidos por um barman (William Amaral). O confinamento obrigatório conduz à exposição pública das suas maneiras de ser, de pensar, de agir, de se relacionar, de constranger, de oprimir, e até de serem solidários.

 

Mau Encontro é o primeiro texto de Guilherme Mattos que ganha os palcos. Escrito entre 2013 e 2014, o autor inscreveu o texto em um concurso de novos dramaturgos da Funarte. “ Não ganhei nada, mas a Graça Berman estava como jurada e levou meu texto e mais dois para Companhia Letras em Cena”, conta ele.

Guilherme foi motivado a escrever a peça pela ebulição política da época, aliada aos conflitos prestes a explodirem: “Acho que tudo começou com a PEC das Domésticas. Boa parte do ódio que as classes médias iriam manifestar vem dali. Depois, dois casos de professoras universitárias que fizeram declarações revoltadas porque os aeroportos teriam se tornado ‘rodoviárias’. O acesso de camadas populares ao consumo de serviços era insuportável. Por fim, havia uma euforia no Brasil e no Rio de Janeiro graças à Copa do Mundo de Futebol e aos Jogos Olímpicos. Havia sobretudo um orgulho desmedido. Foi a nossa húbris”, explica o autor.

Já para a diretora Imara Reis, Mau Encontro seria um acidente cujos efeitos amplificam preconceitos, egoísmos e a impotência de lidar com problemas evidentes: “A Sala VIP se torna uma metáfora de uma situação generalizada: aquelas parcelas da população que detêm algum tipo de privilégio, tentam viver em bolhas de segurança protetoras da fúria da maioria dos excluídos na sociedade brasileira. Todos querem, mas nem todos podem entrar na Sala Vip”.

 

Personagens invisíveis
O espetáculo traz ainda mais dois personagens – o segurança e a babá –, que não aparecem, mas são importantes para o desenrolar da trama. Para dar uma nova camada de leitura, Imara Reis teve a ideia de que esses dois personagens fossem caracterizados como duas esculturas, apenas com o tronco. “As obras de René Magritte, geralmente sem rostos, foram uma inspiração. Nessa época de objetificação do sujeito e em que as pessoas são vistas por aquilo que elas fazem e não pelo que elas são, tento mostrar a inércia em que a sociedade está, além da realidade cruel em que vivemos, sintetizando esses aspectos críticos”, pontua a diretora.

Imara Reis acredita que o texto dialoga com o atual momento do Brasil e do mundo e diz que foi uma das prioridades deixar a história mais contemporânea: “O texto foi escrito há cinco anos e com esse passar do tempo estamos vivendo numa realidade mais dura, tensa e desumana, então tive que ter um novo olhar para a condição humana atual”, esclarece. Guilherme Mattos faz coro: “A peça é uma distopia que se realizou muito rápido. Existe um ódio ali, um desejo de invisibilizar o outro, um desejo desavergonhado de eliminação e também uma vontade desmedida de restaurar uma hierarquia supostamente perdida. Além disso, um deslumbramento com o que é rico, branco, estrangeiro. São personagens obcecados com certas ideias e sem qualquer compromisso com a verdade. Isso fala muito sobre a ascensão da extrema-direita no Brasil e no mundo”.

 

Bate-papo nas sessões de sexta-feira
Durante toda a temporada de Mau Encontro, as sessões de sexta-feira contarão, logo após o espetáculo, com um bate-papo com elenco e convidados. No dia 12 de abril, participam Claudio Gravina, cientista social, mestre em educação e professor universitário, e Cesar Callegari, sociólogo, consultor educacional, presidente do Instituto Brasileiro de Sociologia Aplicada e ex-Secretário Municipal de Educação de São Paulo. Já no dia 19 de abril o encontro será entre Renata Pallottini, professora universitária, poeta, dramaturga, ensaísta e tradutora, e Soninha Francine, formada em cinema pela Universidade de São Paulo, a atual vereadora na cidade de São Paulo já atuou como jornalista, radialista e apresentadora de TV.

O escritor, jornalista e professor, José Arrabal é o convidado do dia 26 de abril e o professor titular de Economia na Unicamp, consultor editorial da revista Carta Capital e ex-presidente da Sociedade Esportiva Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo participa no dia 3 de maio. Judson Cabral, mestre e doutorando em Ciências Sociais pela PUC-SP e pesquisador nas áreas de sociologia da cultura, política cultural, arte e política e teoria teatral, e Michel Alcoforado, doutor em Antropologia com especialização em Antropologia do Consumo pela University of British Columbia (Canadá), colunista da rádio CBN e da revista Consumidor Moderno, irão conversar no dia 10 de maio.

No dia 17 de maio, o bate-papo terá a presença de Marici Salomão, dramaturga, curadora e jornalista, além de coordenadora do curso de Dramaturgia da SP Escola de Teatro e no dia 24 de maio, o evento conta com Paulo Sérgio Silva, mestre em História Social pela PUC-SP e pesquisador na área de música popular brasileira e Flávio Jorge, militante do movimento negro, integrante da SOWETO Organização Negra e da Executiva da CONEN – Coordenação Nacional de Entidades Negras.

O último encontro, no dia 31 de maio, terá as presenças de Leandro Karnal, doutor em História Cultural pela Universidade de São Paulo e professor na Unicamp e Oswaldo Faustino, jornalista, escritor, autor de textos teatrais e com alguns trabalhos como ator.

Ficha Técnica
Texto – Guilherme Mattos
Direção – Imara Reis
Elenco – Eduardo Silva, Gabriela Rabelo, Graça Berman, Pedro Lopes, Telma Dias, Valéria Simeão e William Amaral
Assistente de Direção – Gira de Oliveira
Cenário, Figurinos e Iluminação – Kleber Montanheiro
Coordenação Geral – Graça Berman
Administração e Produção Executiva – Claudete Pontes
Assistente de Produção – Telma Dias
Criação Musical – Marcelo Moss
Criação de Imagens – Guilherme Motta
Programação visual – Edu Reyes

 

 

 

 
Mau Encontro
Espaço da Companhia da Revista
Alameda Nothman, 1135 – Santa Cecília
Tel.: 3791-5200
Capacidade: 99 lugares
Duração: 70 minutos
Temporada: até 31 de maio
Quintas e sextas-feiras, às 20h
Ingressos:
R$ 20,00
R$ 10,00 (meia-entrada)
Classificação: Recomendado para maiores de 14 anos

 

Foto: Guilherme Motta

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