Coletivo Estopô Balaio apresenta o espetáculo “Carta 1 – A infância, promessa de mãe” no Teatro Ponte Alta

O Coletivo Estopô Balaio tem percorrido algumas cidades de São Paulo para apresentar o espetáculo “Carta 1 – A infância, promessa de mãe”, com direção de João Batista Junior e Juão Nyn. Em Guarulhos, a peça se apresenta no dia 17 de julho, às 19h, no Teatro Ponte Alta (R. Pernambuco, 836, Jardim Ponte Alta, Guarulhos).…

 

 

 

 

“Carta 1 – A infância, promessa de mãe”, com o apoio do ProAC 02/2018 de Circulação de Espetáculo de Teatro, já passou por Osasco, Campinas, Indaiatuba e segue depois para Ribeirão Preto.

Durante três anos, o Coletivo Estopô Balaio escreveu cartas na Estação Brás da CPTM, em SP, e lá, em busca da realização de um sonho, apareceu Martha Zelaya, uma imigrante boliviana que queria escrever para um programa de televisão para conseguir cortar e vender o cabelo do filho. Carta 1: A infância, Promessa de Mãe é um biodrama, parte integrante do tríptico teatral Nos Trilhos Abertos de Um Leste Migrante, fruto desse trabalho de escrita de cartas do Coletivo e traz a história de Martha e Erick protagonizando eles próprios suas vidas em cena. A montagem teatral teve estreia em 2017.

O espetáculo narra a trajetória de uma mãe e do seu filho a partir da sua busca por pertencimento e construção de sua autoestima a partir do enfrentamento dos valores identitários da cultura ao qual está inserido como filho de imigrantes bolivianos.

A peça põe em cena Erick, que com 12 anos nunca havia cortado o cabelo por promessa feita por sua mãe Martha, imigrante boliviana, que como muitos foi vítima dos movimentos migratórios em busca de mobilidade econômica e melhorias de vida.

 

 

“Carta 1 – A infância, promessa de mãe”

A “Carta 1 – A Infância, promessa de mãe” traz a história de Erick, filho de bolivianos. Já no Brasil, Martha, sua mãe, escreveu uma carta para seu pai (avô de Erick, que estava doente na Bolívia). Martha, com o desejo de rever seu pai na Bolívia, fez a promessa de não cortar o cabelo do filho pequeno enquanto não pudesse voltar ao seu país natal e rever seu pai, para que ele mesmo pudesse cortar o cabelo de Erick. Essa prática cultural boliviana – em que alguém mais velho corta o cabelo da criança e dá a ela um presente – não levava em conta as dificuldades financeiras de Martha voltar à Bolívia e o tempo passou, sem que ela conseguisse cumprir a promessa. O cabelo do menino alcançou um tamanho gigantesco, o que gerou problemas na escola, no bairro e na vida social do garoto.

Quando finalmente a mãe de Erick conseguiu voltar ao seu país com o menino, o avô de Erick não se achou à altura de cumprir a promessa e não cortou o cabelo do neto. Foi então que Erick teve a ideia de oferecer sua história para um programa da TV aberta: o cabelo imenso (media cerca de 1,20m) poderia resolver parte dos problemas financeiros da família. E assim foi que o garoto expôs sua história na TV e conseguiu reformar seu quarto.

A história de Erick se entrelaça com o jogo geopolítico existente entre os países da América Latina e suas relações comerciais, afetivas e de poder. De maneira bem-humorada, Erick e Martha propõem uma reflexão sobre os problemas enfrentados pelos cidadãos latino-americanos: das promessas de lucro fácil (na imigração para o Brasil), à realidade da semiescravidão do setor têxtil, tudo é demasiado real e cruel nessa relação de irmandade com os vizinhos brasileiros.

Ficha Técnica
Encenação: João Batista Junior
Direção: João Batista Junior e Juão Nyn
Dramaturgia: João Batista Junior
Colaboração dramaturgia: Elenco
Biografados: Erick Flores e Marta Zelaya
Elenco: Ailton Barros, Adrielle Rezende, Amanda Preisig, Ana Carolina Marinho, Anna Zêpa, Bárbara Santos, Bastian Thurner, Bruno Fuziwara, Carol Piñeiro, Gustavo Vicente, Júlio Lorosh, Romário Oliveira e Tatiana Caltabiano
Técnico de Som e Palco: Flávio Bittencourt
Técnico de Luz: Rodrigo Silbat
Videomapping: Flávio Barollo
Contrarregra: Tay Martines e Clayton Lima
Assistente de Produção: Wemerson Nunes
Direção de Produção: Anna Zêpa
Produção: Coletivo Estopô Balaio

 

 

 

 

 

“Carta 1 – A infância, promessa de mãe
Teatro Ponte Alta
Rua Pernambuco, 836, Jardim Ponte Alta / Guarulhos – SP
Capacidade: 378 lugares
Quarta-feira, 17 de julho, às 19h
Ingressos: Grátis (Os ingressos serão distribuídos 1h antes do espetáculo)
Classificação: 12 anos

 

Coletivo Estopô Balaio
O Estopô Balaio é um coletivo de artistas formado em 2011 na cidade de São Paulo que conta em sua maioria com a participação de artistas migrantes. É por esta condição de vida, a de um ser migrante, que o coletivo se reuniu, no desejo de aferir um olhar sobre a prática artística encontrando como estrangeiros a distância necessária para enxergar o olhar de destino e dos seus desejos.

A distância geográfica das lembranças e paisagens dos integrantes levaram a uma tentativa inútil na busca por pertencimento à capital paulista. Era preciso reinventá-la para poder praticá-la. Na busca pelo lugar perdido da memória, eles seguiram para fora e à medida que se distanciavam de um tipo de cidade localizada em seu centro geográfico, foram se aproximando de outras cidades, de outros modos de vida e de novos compartilhamentos.

O cinturão periférico da cidade no seu vetor leste revelou um pedaço daquilo que tinha ficado para trás. Havia um Nordeste em São Paulo que estava escondido das grandes avenidas e dos prédios altos do centro paulistano. O Jardim Romano é um pedaço do cinturão periférico que guarda lembranças alijadas da construção histórica da cidade-império.

Os edifícios que arranham o céu ajudam a esconder e afastar um contingente populacional que não consegue se inserir nos apartamentos construídos em novos condomínios. A memória partilhada nos seis anos de residência artística no Jardim Romano são as de estrangeiros de um lugar distante e a destes pequenos deuses alagados de uma cidade submersa pelo esquecimento.

O encontro com o bairro Jardim Romano se deu num processo de identificação, pois a maioria de seus moradores são também migrantes nordestinos que fincaram suas histórias de vida nos rincões da capital paulista. O alagamento do Jardim Romano era real, oriundo da expansão desordenada da cidade, o do coletivo era simbólico, originário da distância e saudade daquilo que deixaram para trás.

O Estopô Balaio traçou no final de 2016 possibilidades para a expansão do seu território cultural. Para tanto, iniciou o projeto “Nos trilhos abertos de um leste migrante” que se estabelece no encontro e no afeto com outros bairros da zona leste de São Paulo. O Jardim Romano segue com atividades constantes na sede do Coletivo, a Casa Balaio, com saraus, apresentações de espetáculos, oficinas de teatro, projeções de filmes, entre outras.

 

Foto: Lúcio Telles

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