Projeto faz parte da 8ª Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do CCSP – Centro Cultural São Paulo, que recebe mais duas estreias de teatro até dezembro…
A partir do dia 15 de setembro de 2022, o grupo Aias do Brasil estreia no Centro Cultural São Paulo o espetáculo Faraó Tropical dentro da 8ª Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do CCSP, que teve suas últimas edições realizadas em formato híbrido. A Mostra apresenta ao público, após Faraó Tropical, as temporadas de Levante (de 14 de outubro a 06 de novembro), de Andrezza Czech, e N_G_O – o silêncio que antecede o revide (de 10 novembro a 04 de dezembro), de Filipe Celestino. As três obras, selecionadas pelo edital de 2022, tem por objetivo fomentar a criação dramatúrgica na área teatral e promover a montagem e estreia de obras cênicas inéditas, originadas a partir destas dramaturgias, dentro da programação do CCSP, segundo o conceito de “pequenos formatos cênicos”.
Em Faraó Tropical, corpos se preparam para receber o espírito de Tutankamon, faraó da décima oitava dinastia que entrou no reinado aos nove anos de idade, permanecendo até seus 19 anos, quando ele morreu. Nos dias de hoje, o conhecimento notório acerca de Tutankamon se dá pela descoberta de sua tumba e também por ele ter sido a autoridade responsável por instituir o politeísmo de volta no Egito.
A peça tem dramaturgia assinada por Rafael Cristiano e direção de Otacílio Alacran – ambos também estão em cena. Com estudo e prática aprofundados em religiões de matriz africana, Rafael conta que o texto traz essa perspectiva para fazer com que o faraó Tutankamon desça e reflita o nosso tempo. “Através do transe, ele traz em sua palavra o modo como festeja e as conexões entre seu tempo e o tempo atual”, complementa o artista.
Ao deslocar essa figura do Oriente para o Brasil, Rafael conta que sua proposta foi a de criar uma perspectiva de aproximação da cultura negra brasileira com esse imaginário dos faraós, divindade destacada inclusive na composição “Faraó (Divindade do Egito)”, de Luciano Gomes, a pedido do grupo Olodum, conhecida amplamente pela versão cantada por Margareth Menezes. “Trazemos inclusive a música para a cena como uma forma de olhar para o Egito com esse interesse de interlocução”, diz Rafael.
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O corpo é uma conquista.
Vocês entenderiam se estivessem do outro lado.
Não há disputa mais destrutiva do que a disputa do corpo.
Não há vitória mais doce do que a conquista do corpo.
O que tem no corpo é difícil de achar em outro lugar.
Eu digo água, terra, ferro e energia em um espaço só.
É matemático.
Um tanto de água a mais ou a menos e pronto! já não é mais corpo.
Saúdo os vivos.
Vocês vieram ver Tutankamon, e aqui está
Em água, terra, ferro e energia.
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Otacílio, diretor da peça, fez escolhas minimalistas em diálogo com a poética de Ricardo Guilherme – um dos criadores do Curso Superior de Artes Cênicas da Universidade Federal do Ceará -, que preza sobretudo pelo corpo do artista em cena. “No espetáculo, trazemos os corpos como elementos estruturantes de toda a cena. Não há sonoplastia, grandes cenários ou outros elementos que não partam da construção poética dos atores”, conta Otacílio.
A cenógrafa Telumi Hellen cria uma espacialidade composta por areia com um símbolo dourado oculto sob ela, que se tornará aparente ao longo do espetáculo. O cenário está disposto em forma de arena, com o público sentado ao redor, e a figurinista Maria Caúla teceu sóbrios figurinos sobrepostos que potencializam o mistério nessa arena.
O artista reforça que o texto-base da peça é poético, que sucede metáforas em cruzamentos e sobreposições, encaradas por Otacílio como palimpsestos (pergaminhos cujos textos iniciais foram raspados para dar lugar a outros). É dessas camadas sobrepostas que a peça traz a dimensão de relatos históricos de forma sutil.
“Raspamos a imagem egípcia para ver o Brasil e raspamos o Brasil pra ver a antiguidade. Raspamos Tutankamon para enxergar esse menino que viveu tão pouco tempo”, diz Otacílio. Rafael Cristiano reforça que, por ser um trabalho criado imediatamente após o período de isolamento social gerado pela pandemia, o trabalho desafia o público em relação ao tempo. “A dimensão do tempo é uma outra camada de contato com o espectador, que pensa na construção corporal como modo de sair de um cotidiano acelerado para um tempo mítico”, finaliza Otacílio.
Trecho de Corpo-pergaminho, texto escrito pela dramaturga Ave Terrena
sobre o espetáculo
As inspirações poéticas pra criação das cenas vêm, entre outras, pela exaltação a Oxum, sem, no entanto, tratá-la como um ser alienígena ou inalcançável. O corpo-pirâmide que acolhe Tutankamon dança com a Orixá viva no carnaval – “Faraó Tropical” traz algumas das imagens de amor mais calorosas e intensas com as quais tive contato nos últimos anos. Aquela linha que a cristandade decretou como limite entre sagrado e profano é tão tênue quanto a que existe entre nosso mundo e o dos mortos.
Da mesma forma, os movimentos que o teatro grego costuma chamar de êxtase e entusiasmo (‘tirar alguém de sua própria mente’, e ‘ter um deus interior, na raiz grega) não são dois campos excludentes e vedados um ao outro. Diz o “Faraó Tropical”: “Não há a completa aniquilação do ‘eu’ / nem a completa presença de ‘outro’”.
Ficha Técnica
Dramaturgia: Rafael Cristiano
Direção: Otacílio Alacran
Atuação: Otacílio Alacran e Rafael Cristiano
Preparação corporal e Assistência de Direção: Rafael Lemos
Orientação Musical e Vocal: Solange Assumpção
Figurino: Marisa Caula
Iluminação: Vânia Jaconis
Iluminadora Assistente: Pepa Faria
Cenário: Telumi Hellen
Fotografia: Sérgio Freitas
Filmmaker: André Grejio
Apresentação: Ave Terrena
Revisão: Ismar leal
Designer Gráfico: Murilo Thaveira
Assessoria de Comunicação: Canal Aberto
Produção: Corpo Rastreado
Realização: Aias do Brasil e Centro Cultural São Paulo
Faraó Tropical
Centro Cultural São Paulo
Sala Ademar Guerra – Porão
Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso
Capacidade: 60 pessoas
Temporada: 15 de setembro a 9 de outubro de 2022.
Quinta, sexta e sábado, 21h; domingo, 20h
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 60 minutos
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
À venda pelo site da Sympla
Foto: Sérgio Freitas
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