Montagem aborda a vida de Dona Yayá, herdeira reclusa em um casarão no centro de São Paulo, e discute questões de saúde mental, gênero e patrimônio cultural…
Com texto e direção de Patrícia Teixeira e processo colaborativo das atrizes da Cia. Coexistir de Teatro, o espetáculo Um Tempo Chamado Yayá explora a vida de Sebastiana de Mello Freire (1887-1961), conhecida como Dona Yayá, herdeira de uma grande fortuna que foi confinada em uma casa devido a quadros de desequilíbrios psiquiátricos. No elenco, Alana Carvalho, Gabriela Pietro, Gislaine Mendes, Janaína dos Reis, Lia Xavier, Sandra Crobelatti, Silvia Fuller e Wash Peinado interpretam diferentes fases da vida de Dona Yayá, incluindo personagens como sua madrinha, cuidadoras, enfermeiro e professor.
A peça estreia dia 11 de outubro, na Casa de Cultura Dona Yayá, onde Dona Yayá ficou presa – um casarão preservado no centro da cidade de São Paulo, que carrega histórias sobre o passado da saúde mental e seus impactos culturais. A temporada segue até 22 de novembro, sempre às sextas-feiras, às 20h.
Também serão realizadas sessões no Teatro Paulo Eiró de 29 de novembro a 1º de dezembro, às sextas e sábados às 21h e domingos às 19h. O CAPs Itapeva recebe o espetáculo em 21 de novembro, às 18h.
Dona Yayá nasceu em 21 de janeiro de 1887 em uma família paulista aristocrática marcada por tragédias. Órfã desde os 13 anos, foi tutelada pelo Senador de São Paulo, Manuel Joaquim de Albuquerque Lins, e internada em um hospital psiquiátrico em 1919 devido a desequilíbrios emocionais. Posteriormente, recebeu tratamento em casa, onde viveu reclusa até sua morte em 1961.
A obra destaca a importância de discutir a doença mental considerando o contexto cultural e social, ressaltando a importância do papel das mulheres na necessidade da transformação de estigmas e desigualdades.
“Entrar em contato com a história de Dona Yayá, é debruçar-se de forma crítica, cuidadosa e atenta sobre o que foi feito de fato com essa mulher. Na narrativa, explorar o patrimônio cultural é resistir. Narrar é resistir. Por meio do teatro, mediamos e compartilhamos questões relacionadas à história e memória da institucionalização, considerando como as questões de gênero se articulam com a loucura e não esquecermos que o manicômio é a forma na qual o estado se relaciona com a sociedade”, reflete Patrícia Teixeira.
Para a diretora, a luta por uma sociedade sem manicômios é uma luta por direitos humanos. “Estarmos diante da história de Dona Yayá é também estarmos diante de tantas Yayás no processo histórico que nos leva a compreender as estruturas a partir do conceito de gênero.
Tempos nos quais a mulher é rechaçada, desqualificada, diminuída, discriminada e assassinada. Abordar esse tema é nos fazer refletir sobre a necessidade de interseccionar a discussão da saúde mental com as questões de gênero, classe e raça”, afirma.
A dramaturgia utiliza uma narrativa dividida em duas partes, alternando entre o presente e o passado de maneira não linear. No plano do presente, uma monitora guia o espectador por meio de uma exposição, apresentando a vida de Dona Yayá. Enquanto no segundo plano, mergulha no passado da protagonista, revisitando momentos significativos de sua infância, adolescência e idade adulta. “As memórias de Yayá podem se confundir com as nossas memórias e de tantas mulheres que tiveram seus sonhos, subjetividade, alma e corpo confinados e mortos”, explica a diretora.
Montagem itinerante
A narrativa da vida de Yayá é contada em diferentes ambientes da casa, criando um paralelo entre os cômodos e a fragmentação de sua psique, em uma tentativa de reunir as partes de sua vida que foram desmembradas, e reconstruir sua subjetividade.
Cada cômodo representa uma parte de sua memória, dividida em temas específicos: infância marcada por perdas, adolescência caracterizada pela solidão, e a fase adulta, explorada em duas vertentes – a busca pela liberdade e autonomia, a experiência da doença, o confinamento, a partir de um olhar sensível sobre o resgate da identidade de Yayá.
As cenas são apresentadas simultaneamente em cada cômodo, interligadas por tempos distintos. Ao mesmo tempo, uma monitora que está no tempo presente atua como narradora das memórias e da casa onde ficou confinada, propondo questionamentos sobre a história de Yayá e de tantas outras mulheres internadas em manicômios.
“Um tempo Chamado Yayá” é uma produção apoiada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, por meio do Proac Edital 01/2023.
Ficha Técnica
Dramaturgia e Direção Geral: Patrícia Teixeira. Elenco: Alana Carvalho, Gabriela Pietro, Gislaine Mendes, Janaína Reis, Lia Xavier, Sandra Crobelatti, Silvia Fuller e Wash Peinado. Preparação Corporal: Gislaine Mendes. Preparação Vocal: Fernando Gabriel. Iluminação: Beato Ten Prenafeta. Iluminador assistente: Jackson Oliveira. Figurinos e Adereços: Wilson Ranieri. Caracterizador: Beto França. Comunicação Digital: ho.ko Comunicação. Designer: Lucas Sancho. Direção de Produção: Amanda Leones. Produtor assistente: Ana Botelho. Fotografia:Beto Garavello. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Contabilidade: JRC Assessoria Contábil. Produção Administrativa: Luana Costa. Produção Geral: Versa Cultural. Apoio Cultural:Essências e Cia. Idealização: Cia. Coexistir. Realização: Somah e Governo do Estado de São Paulo.
Um Tempo chamado Yayá
Estreia dia 11 de outubro, sexta, às 20h, na Casa de Cultura Dona Yayá
Duração: 1h30
Classificação: 14 anos
Entrada gratuita – reserva de ingressos pela Sympla
Casa da Dona Yayá
Rua Major Diogo, 353 – Bela Vista/Bixiga
Temporada: De 11 de outubro a 22 de novembro – Sextas-feiras, às 20h.
Aviso: Não haverá sessão no dia 15/11 – Feriado.
Teatro Paulo Eiró
Av. Adolfo Pinheiro, 765 – Santo Amaro, São Paulo
Curta temporada: De 29 de novembro a 1º de dezembro – Sexta e sábado, às 21h e domingo, às 19h.
CAPs Itapeva
Rua Carlos Comenale, 32, Bela Vista, São Paulo
Apresentação única: 22 de novembro, às 18h
Sobre a Cia. Coexistir
A Cia. Coexistir de Teatro, fundada em 1999 pela diretora e psicoterapeuta junguiana Patrícia Teixeira, estabeleceu um núcleo fixo de pesquisa em 2006 com três atrizes. Desde 2009, dedica-se a uma experiência cênica de ampliação simbólica na perspectiva junguiana na qual relaciona pisque, mito e rito incentivando a participação ativa do público em espaços não convencionais, trazendo uma interlocução entre Teatro-Território-Memória.
Com mais de 500 apresentações em São Paulo, alcançando aproximadamente 15.000 pessoas, a companhia destaca-se por levar seu trabalho a espaços públicos dialogando com a cidade e dentro da perspectiva de “um teatro para todos”, um Coexistir em Cena e na vida, tem um histórico de apresentações em penitenciárias, abrigos, albergues, visando inclusão e conexão com a comunidade. A pesquisa da Cia. Coexistir é colaborativa, atualiza a linguagem simbólica dos mitos e explora temas das raízes da cultura brasileira, resultando em uma teatralidade expandida, com base no teatro pós-dramático. Trata-se de um teatro de imagens capaz de investigar as potencialidades do corpo, não apenas por meio de sua capacidade de significar, mas de sua presença que gera o acontecimento, o inédito, o devir.
Foto: Beto Garavello
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