A peça-jantar parte da cena dos apóstolos sentados à mesa, para questionar como criar uma imagem final que persista, ainda que aquele grupo de pessoas, que está em cima do palco, não exista mais…
Esta é a última semana para o público assistir A Última Ceia, uma peça-jantar do grupo MEXA, em cartaz até o dia 3 de novembro na Casa do Povo (Rua Três Rios, 252, Bom Retiro, São Paulo, SP). Escrita e dirigida por João Turchi, o espetáculo parte do famoso quadro homônimo de Leonardo Da Vinci e do acontecimento bíblico para encenar o eventual fim do grupo e, partir das vivências do coletivo, atualizar as ideias de morte e ressurreição. Assim, a peça apresenta-se como uma despedida e brinca com a ideia de verdade e ficção.
Sobre a encenação
O espetáculo é dividido em dois momentos. Na primeira parte, em formato de peça-palestra, as atrizes exploram suas relações com o quadro de Da Vinci e os apóstolos. Ligadas à religião, elas compartilham histórias sobre o impacto da obra em suas vidas. Durante as narrativas, o grupo se desentende, algumas saem de cena, e o cenário é desmontado. O texto é repleto de fatos inesperados, como o relato de Patrícia, que trocou vários itens por uma reprodução do quadro.
A peça incorpora experiências dos ensaios, como a escolha unânime de interpretar Judas, levando a uma cena onde disputam o papel, com o público escolhendo a vencedora. A transição para a segunda parte acontece com relatos que conectam as cenas, como a história de Suzy, do Maranhão, sobre uma tradição funerária em que o prato favorito do falecido é servido. Assim, no segundo momento, o cenário se rearranja em uma mesa, e o grupo serve um jantar real para o público, concretizando promessas feitas na primeira parte.
A técnica é visível ao público, com os responsáveis por som e luz em cena. A trilha sonora reflete a complexidade da montagem, incluindo Mariah Carey, Elba Ramalho e Edwin Hawkins. “Se esta for nossa última peça, queremos deixar uma imagem controlada para o mundo”, diz o diretor.
Sinopse
Um grupo de pessoas se senta em uma mesa para sua última refeição. Alguém avisa que vai morrer. O grupo não vai mais existir. É uma despedida. Poderia ser uma ficção, mas nem sempre é. Essa noite ninguém vai ser salvo. Na peça-jantar, a companhia parte da Bíblia para atualizar, a partir das suas vivências, a ideia de morte e ressurreição. Como continuar só, quando o coletivo não mais existe? Quem conta as histórias de corpos que já não podem mais falar?
Ficha Técnica
Criação: MEXA
Direção e dramaturgia: João Turchi
Performance e co-criação: Aivan, Alê Tradução, Dourado, Patrícia Borges, Suzy Muniz e Tatiane Arcanjo
Vídeo performer, criação de vídeo e direção técnica: Laysa Elias
Assistência de direção e de movimento e performance: Lucas Heymanns
Trilha sonora, sound design e performance: Podeserdesligado
Luz e performance: Iara Izidoro
Produção executiva: Francesca Tedeschi
Produção e direção de arte: Lu Mugayar
Produção da temporada: Cibele Lima e Leonardo Monteiro
Figurino: Anuro Anuro e Cacau Francisco
Cenário: Vão
Direção vocal: Dourado
Integraram parte do processo criativo: Anita Silvia, Daniela Pinheiro e Gustavo Colombini
Colaboração dramatúrgica: Olivia Ardui
Pesquisa e consultoria artística: Guilherme Giufrida
Produção: MEXA
Coprodução: Kunstenfestivaldesarts, Casa do Povo, Kampnagel – Internationales Zentrum für Schönere Künste
Agradecimentos especiais: Esponja, Ana Druwe, Benjamin Seroussi, Marcela Amaral, Felipe Martinez
Esse projeto foi fomentado pelo Programa Funarte Retomada 2023 – Teatro
A Última Ceia
Casa do Povo
Rua Três Rios, 252, 1º andar, Bom Retiro, São Paulo
De 17 de outubro a 3 de novembro
Quinta a sábado, às 20h e domingos, às 19h
Ingressos: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada)
Venda em https://www.sympla.com.br/a-ultima-ceia-do-grupo-mexa__2674579
Classificação: Livre
Duração: 100 minutos
Sobre o MEXA
O MEXA é um grupo de performance que nasceu no contexto das Casas de Acolhida em 2015, na cidade de São Paulo. Suas pesquisas envolvem as fronteiras entre realidade, ficção, autobiografia e teatro documentário, borrando limites entre arte e vida.
Entre os principais trabalhos do coletivo, destacam-se “69 Salas H&V” (2016), desenvolvido por ocasião da bolsa de criação para coletivos, concedida pela Casa do Povo; “Terminal 10mg” (2017), financiado pelo programa VAI, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, em que realizou uma performance de 10 horas de duração em ônibus de linha da cidade de São Paulo e Putz Bahia (2018/2019), com gravação de CD e uma série de shows com participantes do coletivo. Realizou ainda as obras “Cancioneiro Terminal”, que estreou na mostra Verbo, de 2018 e circulou por diversos festivais, a ação “Conversa para boy dormir”, junto ao grupo GRUA, apresentada na Bienal de Dança de 2021, e “Quanto mais ensaia, pior fica”, apresentada no Festival Panorama 2021.
O coletivo participou de mostras como a 14ª VERBO (2018), na Galeria Vermelho; a 11ª Bienal Sesc de Dança (2019), em Campinas; as exposições Somos muit+s, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, e Começo de século, na Galeria Jaqueline Martins, no mesmo ano; em 2020 se apresentaram na 6ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MIT-SP) e integraram a coletiva Histórias da Dança, no MASP.
Os integrantes do grupo também atuam como artistas residentes na Casa do Povo desde 2016. Em 2019, recebeu o Prêmio Denilto Gomes de Dança na categoria Olhares para estéticas negras e de gênero. Em 2023, estreou o espetáculo “Poperópera Transatlântica” no Kunstenfestivaldesart (em Bruxelas), que também foi apresentado em Berlim (Hau Theatre), Lisboa (Teatro do Bairro Alto), Hamburgo (Kampnagel), Leeds (Transform Festival) e São Paulo (Casa do Povo e SESC Ipiranga). Em 2024, estreou seu novo trabalho, “A Última ceia”, no Kunstenfestivaldesart (em Bruxelas), apresentando também no Kaserne Theatre (Basel), Theaterformen (Braunschweig) e Berlim (Sophiensaele).
Foto: Werner Strouven
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