Antes de começar a resenha do show do De Brito, que ocorreu no dia 26/02 no bar Sensorial Discos, preciso avisar que sou amigo e colega de banda do guitarrista Pedro Tomé, que na, verdade, foi quem me chamou para assisti-lo. Dado esse lembrete, podemos começar.
O De Brito é o projeto pessoal de Sérgio de Brito (não confundir com o Sérgio Britto dos Titãs), cuja proposta é fazer um som essencialmente folk e melancólico, com influências quase declaradas de Bob Dylan, Leonard Cohen e Tom Waits. Escutei o álbum apenas uma vez antes de ir ao show, mas isso foi suficiente para saber que ele seria um evento calmo, introspectivo e sem grandes reviravoltas.
Com poucas exceções (como a “Of Sailors and Seas”), o repertório do grupo é composto por baladas e outras músicas lentas. Não que isso torne a apresentação um evento deprimente, mas é preciso deixar claro que o De Brito não é uma banda de rock n´roll tradicional. Se você está tentando encontrar aquele riff de guitarra destruidor que vai ressuscitar o gênero, pode ir procurar em outro lugar.
Talvez seja exatamente pela natureza introspectiva da obra que exista pouca preocupação com a interação com o público. Houve muito pouco contato entre o frontman e o pessoal que estava no bar durante o show. Só um “obrigado” entre as músicas e nada mais, o que me deu a impressão de que o Sérgio não é uma pessoa de muitas palavras. Talvez contar uma piada ou uma história trouxesse algum carisma para a apresentação.
Uma coisa que me incomodou um pouco mais foi minha dificuldade em entender as letras cantadas, o que aconteceu tanto gravação quanto ao vivo. Não posso mentir: a pronúncia e a dicção do Inglês não são tão boas assim. Esse tipo de obstáculo nem seria tão grave para a maioria das bandas brasileiras que cantam uma música ou outra em Inglês, mas quando você tem um trabalho autoral construído integralmente em uma língua estrangeira, é preciso tomar muito mais cuidado com esse tipo de coisa, mesmo sabendo que seu público imediato seja composto por brasileiros. Para não dizerem que eu sou chato, reconheço que o vocal em si é muito bom. Ao contrário de muita banda autoral por aí que acha que cantar mal é o legal, o Sérgio é bem afinado e tem uma timbragem sólida. Só falta mesmo um pouco de desenvoltura.
Outro problema que eu acho que precisa ser contornado pelo grupo é a falta de um baixista de verdade. Explico. Durante a apresentação no Sensorial Discos a banda contava apenas com vocal, guitarra, teclado e bateria, o que obrigou o tecladista a simular uma linha de baixo com a mão esquerda, o que não deu muito certo. Notas erradas e viradas esquisitas foram mais frequentes do que eu esperava. De resto, a execução estava dentro dos conformes, como se era de esperar de um conjunto com músicos qualificados.
Fora os problemas apontados, o show do De Brito foi uma experiência bem legal. Embora o bar seja pequeno e a banda tenha sido colocada num cantinho na frente do balcão, o som do lugar era muito bom. Nada de microfonia, nenhum problema de volume e nenhum instrumento acobertando o outro. As canções tocadas – como eu já esperava – eram todas de bom gosto, e é fácil de perceber que o Sérgio tem um objetivo bem definido com sua música. E esse é um dos pontos fortes da banda: mesmo que você não goste muito das influências do grupo, o repertório é tão honesto e acessível que é bem difícil sair do show com uma impressão negativa.
Se você quer ouvir uma banda que não vai te fazer sair do bar de cabeça quente, tomar umas e outras escutando uma banda “de boa” (pegaram?), ou, sei lá, simplesmente estiver na fossa, o De Britto certamente é uma boa pedida.
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