De Maria Adelaide Amaral, Para Tão Longo Amor

Inaugura o novo Teatro MorumbiShopping, na sexta-feira, 20 de maio…

A peça marca o reencontro da dramaturga Maria Adelaide Amaral com Yara de Novaes, que dirigiu As Meninas, da autora portuguesa, em 2009. No palco estão os atores Regiane Alves e Leopoldo Pacheco.

Orgulhosa e segura de entregar a cria nas mãos dos diretores Yara de Novaes e Carlos Gradim, Maria Adelaide Amaral não esconde a expectativa com a montagem do espetáculo Para Tão Longo Amor. A peça inaugura o mais recente teatro da zona Sul de São Paulo, o Teatro MorumbiShopping, dia 20 de maio, sexta-feira, às 21h e reúne no elenco os atores Regiane Alves e Leopoldo Pacheco, reconhecidos e admirados pela autora portuguesa.

Escrita há 23 anos e vencedora de prêmio no 18º Festival de Teatro de Portugal, quando foi encenada no Porto, anos 90, a peça é ambientada no universo da literatura. Atemporal e contemporânea, aborda a apaixonada relação entre editor renomado e poeta outsider, com citações de Camões, Rimbaud e Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa), entre outros.

Adaptado com habilidade por sua autora para os tempos atuais, Para Tão Longo Amor, cujo título foi extraído do soneto Raquel, de Camões, conta a história de Raquel (Regiane Alves) e Fernando (Leopoldo Pacheco). Próxima dos 30, Raquel é uma escritora libertária e vigorosa. Ela deseja gozar de liberdades que acredita poder alcançar apenas com sua poesia. Fernando, editor renomado de 55 anos, criou sua empresa com a ex-esposa e é um homem decidido e maduro.

Ao se apaixonar, o casal dá um mergulho vertiginoso no questionamento de seus papeis neste relacionamento. Fernando deseja que Raquel se ocupe da divulgação de sua obra e na questão publicitária, enquanto a escritora deseja apenas se dedicar à sua arte. A peça mescla passagens do passado e do presente sempre permeada pelo universo da poesia e da literatura.

O espetáculo, que objetiva tocar o público pela imensa capacidade de identificação, levanta a reflexão de até que ponto um homem pode amar, suportar, conceder e se humilhar para não perder a mulher amada, mesmo que ela seja seu oposto e se degrade diante dos seus olhos. Essa história de amor abre espaço para risos, lágrimas, reflexão e surpresas.

A atriz e produtora Regiane Alves conheceu o texto de Maria Adelaide Amaral há três anos e desejou interpretar a protagonista acompanhada pelo ator Leopoldo Pacheco – que também assina figurino e visagismo – e sob direção de Yara de Novaes. Ambos abraçaram a proposta. Yara trouxe seu time de parceiros para colaborar na montagem: Carlos Gradim, diretor com quem trabalhou por mais de 10 anos na Odeon Companhia Teatral, o músico Dr. Morris e o cenógrafo André Cortez.

Química entre autora, direção e elenco

Se depender da química entre autora, diretores e atores, o espetáculo fará temporada de sucesso. Entusiasmada com a montagem, a fala apressada e firme, Maria Adelaide Amaral revela que tem extrema confiança na diretora, com quem trabalhou anteriormente, em 2009, na peça As Meninas, dirigida por Yara e adaptada por ela a partir do romance de Lygia Fagundes Telles. “É um filho que entrego para a Yara cuidar. Ela é um gênio como diretora”, diz a autora de Para Tão Longo Amor.

Em relação a Leopoldo e Regiane (“dois grandes atores”), a dramaturga também está radiante e revela confiança no talento, experiência e sensibilidade da dupla. “Essa peça estava esperando por um ator como o Leopoldo”, que viveu seu primeiro papel na TV em novela de Maria Adelaide (escrita em parceria com Alcides Nogueira), Um Só Coração (2004), como par romântico de Letícia Sabatella.

Regiane, que já atuou em textos da autora na minissérie A Muralha (2000) e na novela Sangue Bom (2013), se prepara para encarar o primeiro texto teatral de Maria Adelaide. Com parceria durável, a atriz também está a postos para integrar o elenco da nova novela das 21h escrita por Maria: A Lei do Amor.

Para a diretora Yara de Novaes, Maria Adelaide Amaral é mestre em criar valor dramatúrgico e abrir portas para desenvolvimento de temas. Carlos reitera, acrescentando que a complexidade do texto aparece mais a cada vez que ele é encenado. “Os espaços nos diálogos constroem inúmeras possibilidades de leitura”, diz o diretor.

Por ter mais de vinte anos, havia algumas passagens da obra que precisavam ser adaptadas para os nossos tempos. Prontamente, Maria Adelaide fez todas as alterações de um dia para o outro, suprimindo algumas informações e acrescentando outras que contribuíram para a proposta de atemporalidade do espetáculo, que mescla o passado e o presente do casal em cena. “Tirei a gordura do texto. Fiquei mais concisa com o passar do tempo”, conta Adelaide.

Sobre o convite para participar da direção, Yara conta que Regiane, espectadora ávida de teatro, a conheceu na época em que dirigia Noites Brancas (2003). Desde então, a atriz procura por uma oportunidade de trabalhar com Yara. O convite de Para Tão Longo Amor foi feito por telefone, na virada do ano. “Foi meu pedido de ano novo pra Yara. Sempre admirei o trabalho dela como diretora, já tinha o desejo de tê-la me dirigindo. Ela tem a sensibilidade e o contemporâneo que o espetáculo precisa.”, diz a atriz.

A vinda posterior de Carlos Gradim, segundo Regiane, foi um ganho imenso para o trabalho. “Ter Gradim como diretor foi uma grata surpresa. Sua empolgação é contagiante. Ele me leva a lugares onde nunca pensei que pudesse ir”, diz Regiane. Carlos também é diretor-presidente do Museu de Arte do Rio – MAR desde 2013 e assinou a direção, coordenação e produção executiva de 28 espetáculos e festivais de teatro.

Inspiração nas poetas

De referências múltiplas, Para Tão Longo Amor encontrou nas grandes poetas inspiração e impulsos traduzidos para a cena. Algumas delas são Sylvia Plath, Ana Cristina César e Florbela Espanca. A estética do espetáculo também bebe nas águas do filme francês Betty Blue, drama francês de 1986, e do livro Servidão Humana, obra-prima de Somerset Maugham (1915).

Carlos Gradim diz que até mesmo a biografia de Amy Winehouse documentada para o formato audiovisual por Asif Kapadia norteiam o estilo e o gênio de Raquel. “Há vários lugares em que passamos pra compor a peça”, diz Yara, complementando que a terceira sinfonia de Brahms, que inclusive é entoada durante o espetáculo, foi muito inspiradora para a montagem.

“A Maria faz um inventário poético pra gente no próprio texto dela.” Os diretores revelam que um dos maiores desafios do trabalho é encenar uma história que ocorre fora de um tempo tradicional, onde passado e presente se misturam o tempo inteiro no palco. “Não é um tempo dicotômico. Somos sempre resultado de um tempo único e as relações também são pautadas assim: o que eu fui, sou e serei talvez esteja em completa amarração e me constituindo como um ser que é capaz de amar, escravizar, crudelizar e criar”, resume Yara. A diretora completa que essas relações têm total vínculo com nossas heranças, perspectivas e com o que somos.

Maria Adelaide Amaral reforça que a peça revela o grande conflito de alguém querer salvar outra pessoa que não quer ser salva. “O Fernando tem o propósito de salvar a Raquel dela mesma não só pelo amor que tem por ela, mas pelo amor que tem pela literatura. Ele não suporta vê-la se perder como poeta e pessoa. É também uma forma de salvar o que ele mais ama na vida, que é a literatura”, diz Maria. Devido à diferença de idades e de personalidade dos personagens, a autora diz que muitas vezes a relação que se estabelece é até mesmo paternal.

Na produção atual, a densidade do texto é permeada por recortes de luz sombrios criados por Aurélio de Simoni. As sombras reforçam as expressões dos atores. “São personagens que falam de pontos escondidos e, dentro de qualquer relação de longo prazo, esses lados vão sendo mostrados”, conta Regiane, sobre a opção de se trabalhar com esse recurso. “Em nome do amor as pessoas falam muitas coisas que podem denegrir, escravizar ou subtrair o outro que se diz que ama. Essa discussão é interessante para pensarmos no lugar que o amor ocupa na vida das pessoas”, complementa Yara.

“É um espetáculo é centrado no ator, então há mesmo uma encenação minimalista e alguns objetos icônicos que dão significado ao que é mais importante nessa relação. O amor é nuclear disso tudo, mas não numa roupagem muito romântica. É um amor que, inclusive, pode cercear o outro”, fala a diretora.

A trilha sonora criada por Dr. Morris, parceiro de trabalho da diretora Yara de Novaes e do cenógrafo André Cortez há mais de 15 anos, pretende reiterar emoções das personagens e trabalhar sons incidentais de forma criativa. Há também a presença de músicas de diferentes estilos, desde a já citada terceira sinfonia de Brahms até o jazz melódico Moonglow.

O cenário de André, prezando pelo minimalismo, surpreendeu Leopoldo Pacheco. “Ele está fazendo um trabalho incrível com um olhar muito contemporâneo pra cena”, diz o ator, figurinista e visagista de Para Tão Longo Amor. Leopoldo, além da atuação, assinou figurino e cenografia de inúmeros espetáculos, tendo inclusive sido reconhecido com o Prêmio Shell na categoria de melhor figurino pelo espetáculo Ópera do Malandro,com texto de Chico Buarque e direção de Gabriel Villela.

Ficha Técnica

Texto: Maria Adelaide Amaral
Direção: Yara de Novaes e Carlos Gradim
Elenco: Regiane Alves e Leopoldo Pacheco
Cenário: André Cortez
Iluminação: Aurélio de Simoni
Figurinos e Visagismo: Leopoldo Pacheco
Trilha Sonora: Dr. Morris
Fotografia e programação visual: Pino Gomes
Preparação Corporal para cena: Daniela Carmona
Assessoria de Produção: Bel Gomes
Direção de Produção: Lúcia Regina de Souza
Realização: Dupla Face Promoções e Eventos e Caravana Produções.

Para Tão Longo Amor
Teatro MorumbiShopping
Av. Roque Petroni Júnior, 1089 Piso G1 – Jardim das Acacias – SP
Capacidade: 250 lugares

Estreia dia 20 de maio, sexta-feira, às 21h
Temporada: Até 31 de julho.
Sexta e sábado, às 21h
Domingo, às 19h
Ingressos: R$ 70,00 (inteira) e R$ 35 (meia).
Classificação: 14 anos
Duração: 70 minutos

Horário de funcionamento da bilheteria: De terça a quinta, das 13h às 20h. Sexta e sábado, das 13h às 21h e domingo, das 13h às 19h. Telefone: 5183-2800
Vendas online: Ingresso Rápido

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Estacionamento Comum
Até 2 horas: R$ 15,00
Estacionamento Valet
Até 1 hora: R$ 18,00. Demais horas ou fração adicional: R$ 8,00

 

Novos projetos

Paralelamente à peça, Leopoldo Pacheco, que acaba de participar da primeira fase da novela Velho Chico, se prepara para integrar o núcleo cômico da novela Haja Coração, que irá ao ar no horário das 19h e começa a ser gravada no segundo semestre de 2016. O ator interpreta um publicitário viúvo cheio de manias que faz par com Marisa Orth.

A parceria de Regiane com Leopoldo não é de hoje. Ambos trabalharam na novela Beleza Pura (2008), ainda que não no mesmo núcleo. Regiane volta a trabalhar com Maria Adelaide Amaral no horário nobre da TV Globo com A Lei do Coração, prevista para estrear em outubro.

Yara de Novaes retorna aos palcos como atriz na peça Contrações (2013) – do Grupo 3 de Teatro – da qual foi vencedora do APCA de Melhor Atriz. Ela fará uma temporada de dois meses no Teatro Frei Caneca entre 22 de abril e 26 de junho.

Fotos: Silvia dos Santos

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