“Que grande logro a paixão, que grande e inconsistente tolice…”
A última sexta-feira, 20, foi um dia de inícios. O Teatro MorumbiShopping, na zona sul de São Paulo, recebeu para sua inauguração a peça “Para Tão Longo Amor”, texto da portuguesa Maria Adelaide Amaral sob direção de Yara de Novaes e Carlos Gradim. É uma deliciosa, mas dolorida peça sobre o amor. Rachel e Fernando se amam, mas o amor incondicional dele, no qual ela encontra amparo para continuar, também a cerceia de suas vontades e loucuras. Mas suas loucuras a destroem. Mas também são quem ela é. Mas até quando ele continuará a amá-la? São tantos “mas” quanto as facetas do amor.
Raquel é uma jovem poeta, incontrolável, insaciável. Viva. Brilhantemente interpretada pela atriz Regiane Alves, ela nos envolve e nos joga, de um lado a outro, sem a mínima compaixão, em seu desespero, em seu desencanto, em seus sonhos, em sua busca por si. Em seu modo de amar.
Cabe a Leopoldo Pacheco o difícil papel de estar ao lado desta mulher apaixonantemente perigosa. E, tal como Regiane, ele o cumpre com maestria. Fernando, com o dobro de idade, é um renomado editor. Separou-se da mulher para ficar com Rachel e tenta, a todo custo, torná-la uma pessoa melhor e mais responsável. Ele quer que ela aproveite as oportunidades que a vida está lhe dando, que divulgue seu livro, que assuma seu papel na carreira e na vida. É, digamos, a “voz da sabedoria”. O caminho socialmente esperado para uma vida equilibrada e comum.
“Para Tão Longo Amor” passeia entre o passado e o presente do relacionamento desses personagens. Com inúmeras citações literárias, tem seu próprio título retirado do poema “Jacó e Raquel”, de Luís Vaz de Camões. Inspirado na passagem bíblica em que Jacó foi obrigado – pelo que viria a ser seu sogro – a trabalhar por sete anos para receber a mão de sua amada Raquel em casamento, e, cumprindo a missão, foi enganado e teve que trabalhar por outros 7 para enfim desposá-la, o poema traz para o espetáculo a certeza de que o amor não vem sem um pacote de dificuldades.
É um texto incrível e bastante denso, o choque entre dois mundos que se completam e destroem. Regiane e Leopoldo, por outro lado, se completam e se superam.
O Teatro
Como disse no início, a estreia da peça marcou a inauguração do Teatro MorumbiShopping.
Eu, como morador da zona sul da cidade de São Paulo, fiquei muito feliz com a abertura de mais um teatro na região. É de fundamental importância que a arte vá além do centro, que se espalhe por todos os bairros, pelas periferias, que atinja a grande massa que ainda não tem acesso e não é familiarizado a ela.
Mais um espaço voltado ao segmento de entretenimento, com jeitão de teatro de arena, com som e iluminação impecáveis, poltronas confortáveis apesar de pequenas, foyer com assentos, mesinhas altas, um café, três bilheterias que atendem tranquilamente a demanda, tudo para atender confortavelmente a demanda de publico.
O teatro fica escondido dentro do estacionamento do shopping, com acesso limitado por apenas dois elevadores no Mini Atrium ou direto, nos fundos da loja da Renner no piso superior.
Acredito que o Teatro MorumbiShopping e a Produtora PadRok farão um belo trabalho, se tiverem programações acessíveis e diversificadas, estabelecendo-se como um ponto de encontro voltado as artes para atender principalmente todos os moradores da zona sul e região.
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