No Teatro Bradesco, dia 11 de outubro, pela primeira vez no Brasil, o transgressor Lied Ballet, criado pelo coreógrafo Thomas Lebrun, aborda uma forma de dança livre, que aceita diferentes influências e abre um leque de possibilidades coreográficas. Uma dança que desafia dicotomias entre clássico e contemporâneo, preciso e abstrato, e tenta encontrar o seu próprio lugar nas entrelinhas.
O espetáculo, apresentado em três atos, une duas grandes referências do período romântico em roupagem atual: o Lied, palavra de origem alemã e de gênero neutro, que representa a música erudita cantada sobre poema estrófico, e o Ballet. Os temas românticos Lieder são transformados em movimento, criando uma escrita coreográfica que começa com mímica e termina em abstração. No final, tudo se conjuga em um grande coro desafiando gêneros e categorias, expressando fundamentalmente a confiança do artista no corpo dançante.
No palco são oito dançarinos que, juntos, fazem de si um legado coreográfico e musical, afirmando-se, como Thomas Lebrun descreve, “Não tanto como criadores, mas como fabricantes, atores, reatores, transmissores de uma história que não podemos controlar, que nos carrega e nos alimenta”.
Em movimento
Utilizando letras de música como compasso, e de fato como a principal fonte da composição coreográfica, este novo trabalho brinca com tendências passadas, flertando com a narrativa ou com a composição formal do ballet e deslizando em direção aos temas melódicos íntimos do romantismo. Morte, amor, natureza, reflexão e solidão são todos pontos muito comuns compartilhados pelas duas formas, ainda que elas tenham seguido direções opostas – canções populares tornando-se conhecidas; espetáculos criados para a burguesia que agora podem ser vistos em anfiteatros por todos, mas que são desdenhados por artes inovadoras. Por meio de suas diferentes evoluções, a música e o ballet questionam o espaço aberto a questões sociais e tolerância em contextos culturais.
O primeiro ato, centrado na força da simplicidade gestual, guiado por versos e sonhos, e ritmado por fotos post-mortem vitorianas, marca o encontro de personagens ímpares: crianças falecidas, uma jovem, doce e pálida garota, uma burguesa solitária à beira da loucura e um poeta amaldiçoado prostrado pelo peso do mundo. Carregado pelos acordes obstinados de Chukrum, uma peça para uma orquestra de cordas de Giacinto Scelsi, este ato permite que uma pantomina pitoresca e pura se enraíze – impulsionado pela paixão interior do bailarino.
Um segundo ato, com canções de Berg, Mahler e Schoenberg, dá aos oito bailarinos tempos coreográficos precisos e apaixonados que delineiam espaços, ecoando as variações pas de deux e pas de trois, conhecidas do ballet. Com uma minuciosa relação com a música, este ato também questiona a ideia da habilidade nos tempos modernos, que talvez não seja a que imaginamos. As qualidades e singularidades dos diferentes bailarinos recebem destaque, o que para Thomas Lebrun é o mais importante.
Um terceiro ato, de refrão, escrito ao som de uma composição musical de David François Moreau, dilui e coloca novamente em foco a questão social, acelerando o ritmo, prendendo o indivíduo em um loop infinito e seguindo os passos dos mais velhos, do desconhecido, dos que já partiram e foram apagados. Ainda, nascido de nós, no entanto, no calor da ação, em uma coreografia sem escapatória. A mesma dança floresce de formas diferentes no mesmo corpo ou em outros corpos. Um ato de resistência e de aceitação das referências.
Como parte dos Monumentos em Movimento iniciado pelo Centre des monuments nationaux, Thomas Lebrun fez Où chaque souffle danse nos mémoires (Onde nossas memórias dançam com cada respiração), uma coreografia primeiramente apresentada em setembro de 2015, nos castelos de Azay-le-Rideau e Châteaudun, e no Palais Jacques Coeur em Bourges. Estará em turnê para os Monumentos Nacionais até 2017.
Ele está aqui para apresentar seu novo trabalho, Avant toutes disparitions, no Théâtre National de Chaillot, em maio de 2016.
Thomas Lebrun tem sido o diretor do Centre chorégraphique national de Tours desde de janeiro de 2012.
Ficha Técnica
Coreografia: Thomas Lebrun
Bailarinos: Maxime Camo, Anthony Cazaux, Raphaël Cottin, Anne-Emmanuelle Deroo, Anne-Sophie Lancelin, Matthieu Patarozzi, Léa Scher, Yohann Têté
Músicos: Alban Berg, Gustav Mahler, Giacinto Scelsi, Arnold Schönberg
Música da cena original: David François Moreau
Iluminação: Jean-Marc Serre
Gerente de Iluminação: Xavier Carré
Som: Mélodie Souquet
Figurinista: Jeanne Guellaff
Figurinos feitos por: Jeanne Guellaff, Sylvie Ryser
Produção: Centre Chorégraphique National de Tours
Coprodução: Festival d’Avignon, Maison de la danse de Lyon, Les Quinconces-L’espal, scène conventionnée du Mans, La Maison de la Culture de Bourges, scène nationale, Scène nationale de Besançon, La Rampe-La Ponatière scène conventionnée – Échirolles, Association Beaumarchais – SACD
Residência: Scène nationale de Cavaillon
Produzido com o apoio de Région Centre-Val de Loire e SPEDIDAM
O Centre chorégraphique national de Tours patrocinado pelo Ministério da Cultura e Comunicação – DGCA – DRAC Centre-Val de Loire, City of Tours, Région Centre-Val de Loire, e o Conseil Départmental d’Indre-et-Loire. O Centre chorégraphique national de Tours foi patrocinado pelo l’Institut français para suas turnês internacionais.
Apoio: Aliança Francesa
Realização: Opus Promoções e Ministério da Cultura
Zaffari e Tramontina
Produzido com o apoio de l’Institut Français, Région Centre-Val de Loire e SPEDIDAM
Lied Ballet By Thomas Lebrun
Teatro Bradesco
Rua Palestra Itália, 500 – 3º piso
Bourbon Shopping – São Paulo
Capacidade: 1439 pessoas
Terça-feira, 11 de outubro, às 21h
Classificação: Livre
Duração: 70 minutos
Ingressos: De R$ 50,00 a R$ 180,00 (inteira)
Ingresso Rápido: 4003-1212
Ingresso Rápido
Bilheteria Teatro Bradesco
Horário de funcionamento:
Domingo a Quinta das 12h às 20h, Sexta e Sábado das 12h às 22h.
Acesso para deficientes
Estacionamento:
Isento até 15 minutos
Self: Primeiras 2 horas: R$ 12,00
Hora adicional: R$ 2,00
Valet Parking por 1ª hora: R$ 16,00
Hora adicional: R$ 10,00
Motos, primeiras 2 horas: R$ 10,00
Hora adicional: R$ 2,00
Thomas Lebrun
Bailarino para coreógrafos como Bernard Glandier, Daniel Larrieu, Christine Bastin, Christine Jouve ou Pascal Montrouge, Thomas Lebrun fundou sua companhia de dança (Companhia Illico) em 2000, após a criação do solo Cache ta joie! baseado no Région Nord – Pas de Calais, ele foi o primeiro artista associado ao Vivat d’Armentières (2002-2004) antes de se associar ao Choreographic Development Center of Dance à Lille, entre 2005 e 2011.
Thomas Lebrun também participou da criação de performances com o coreógrafo suíço Foofwa d’Imobilité (Le show / Un twomen show) e com o coreógrafo francês Cécile Loyer (Que tal!). Ele também ensina dança contemporânea e oferece um espaço importante à transmissão: os Centros Nacionais de Dança de Pantin e Lyon, na França e o Paris Conservatoire of Music and Dance.
Thomas Lebrun também cria performances para bailarinos e companhias de dança estrangeiras: o Chinese National Ballet de Liaonning, o Grupo Tapias no Brasil (um solo e um quinteto – em 2009, para o Ano da França no Brasil), um solo para a bailarina e coreógrafa lituana Loreta Juodkaité (durante a edição de 2009 do New Baltic Dance Festival – evento Vilnius and the FranceDanse Vilnius organizado pela Culturesfrance) e recentemente, na Coreia do Sul, para seis bailarinos coreanos na criação FranKorean Tale como abertura do Festival MODAFE em Seul, dentro do FranceDanse Corée, organizado pelo Instituto Francês.
Em 2010, ele foi comissionado pela 64ª edição do Festival d’Avignon e SACD com um solo chamado Parfois, le corps n’a pas de coeur (Às vezes, o corpo não possui um coração).
Em maio de 2011, Thomas Lebrun criou Six order pieces, um solo escrito em colaboração com seis artistas convidados: os coreógrafos Michèle Noiret e Bernard Glandier, a cineasta Ursula Meier, a cinegrafista Charlotte Rousseau, o designer de iluminação Jean-Marc Serre e o compositor musical Scanner. Em março de 2012, ele criou sua versão de La jeune et la mort (A Morte e a Donzela) com sete bailarinos (entre 26 e 62 anos de idade), um cantor de ópera e um quarteto de cordas ao vivo.
Desde 2012, Thomas Lebrun é o diretor do centro coreográfico Nacional de Tours.
Em junho de 2014, Thomas Lebrun recebeu o prêmio de coreografia dos Diretores do SACD (Société des auteurs chorégraphiques et dramatiques).
Convidado para a 68ª Festival d’Avignon, com o majestoso cenário de Cloître des Carmes, ele fez Lied Ballet, uma peça em três atos para oito bailarinos, um tenor, e um pianista, em julho de 2014.
Fotos: Frédéric Iovino
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