Teatro do absurdo é referência estética para o espetáculo da companhia mineira 5 Cabeças, que aborda temas como incomunicabilidade, a espera e a intolerância…
Fazer o espectador questionar o tempo, as relações humanas e as certezas de cada um. Esta é a proposta da Cia. 5 Cabeças, de Belo Horizonte, com “Cachorros Não Sabem Blefar” que faz uma breve temporada no Espaço Beta, do Sesc Consolação, de 13 de fevereiro a 14 de março, às segundas e terças-feiras.
A incomunicabilidade, a espera e a intolerância são temas abordados no espetáculo. Em cena, cinco desconhecidos estão presos em um ambiente com apenas um sofá, um telefone e uma banheira. O único relógio marca sempre a mesma hora: 9h15. Mas o tempo, segundo os cientistas, é relativo. O tempo, aliás, é um dos personagens centrais da peça. E, para completar, todos os personagens tem um ódio inexplicável pelo nome Caio. Uma intolerância tão absurda quanto a que presenciamos nos dias de hoje onde familiares e amigos passam a se odiar simplesmente por divergências em suas posições políticas e/ou religiosas; ou ainda pessoas que são agredidas nas ruas simplesmente pela cor de suas roupas.
Com dramaturgia e a direção assinadas por Byron O’Neill, a peça flerta com a linguagem do Teatro do Absurdo, por meio de um tratamento inusitado da realidade e do desejo de explorar a relação entre o eu e o outro, o espaço e a temporalidade cíclica (repetição). Com os atores Carol Oliveira, Luisa Rosa, Mariana Câmara, Saulo Salomão e Ronaldo Jannotti no elenco, “Cachorros não sabem blefar” é uma metáfora da nossa condição de clausura e também da intolerância.
O espetáculo, que estreou em 2011 em Belo Horizonte, onde cumpriu seis temporadas, foi apresentado no Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana, na Mostra “Grupos de BH – Teatro para Ver de Perto”, no Festival de Curitiba, na Mostra Rumos Itaú Cultural e no Teatro CIT ECUM, em São Paulo e na Mostra Sesc Cariri, no Ceará. Ganhou o prêmio de Melhor Texto Inédito no 9º PRÊMIO USIMINAS/SINPARC 2011, na modalidade teatro adulto, onde concorreu em cinco categorias, dentre elas a de Melhor Espetáculo. Em 2016, durante a circulação pelo Palco Giratório do Sesc, recebeu sete indicações ao Prêmio Cenyms 2016 de Teatro Nacional, da Academia de Artes no Teatro do Brasil, em: melhor espetáculo, melhor qualidade artística, melhor direção, melhor texto, melhor elenco, melhor cia de teatro, melhor atriz coadjuvante.
“Cachorros Não Sabem Blefar está se mostrando mais atual hoje do que quando ele foi criado, em 2011. Infelizmente, pois parece que a sociedade está regredindo. O mundo hoje está mais absurdo do que era. É só a gente ver o que está acontecendo aqui no Brasil, essa intolerância que a sociedade brasileira está passando… o aumento do conservadorismo. No espetáculo traduzimos todas as intolerâncias no ódio em que as pessoas/personagens têm em relação aos que se chamam Caio. O nosso Caio poderia ser mexicano, boliviano, brasileiro, somaliano, iraquiano, haitiano… não importa”, explica o diretor, Byron O’Neill.
Ficha Técnica
Realização e Produção: Cia. 5 Cabeças
Direção e Dramaturgia: Byron O’Neill
Atores: Carol Oliveira, Luisa Rosa, Mariana Câmara, Saulo Salomão e Ronaldo Jannotti
Assessoria de Direção e Movimento Cênico: Mônica Ribeiro
Preparação Corporal: Mônica Ribeiro
Direção de Arte (Figurino, Cenografia e Maquiagem): Daniel Ducato
Trilha Sonora: Rafael Nelvam
Desenho de Luz: Marina Arthuzzi
Operação de Luz: Jésus Lataliza, Cristiano Diniz e Alexandre Cioletti
Operação de Luz temporada SESC Consolação: Pâmola Cidrack
Olhar de Fora: Alexandre Cioletti e Marcelo Alessio
Costureiras: Antônia Emília de Paula e Lenir Rocha Vieira
Produção Executiva da Montagem: Ronaldo Jannotti e Mariana Câmara
Coordenação de Produção da Companhia: Ronaldo Jannotti
Assistente de produção: Gustavo Baracho e Cristiano Diniz
Assistente de Produção temporada Sesc Consolação: Daniel Carvalho Faria
Cachorros Não Sabem Blefar
Sesc Consolação
Espaço Beta – 3° andar
Rua Dr. Vila Nova, 245 – Vila Buarque – SP.
(11) 3234-3000
Temporada: De 13 de fevereiro a 14 de março
Segundas e terças-feiras (exceto 27 e 28 de fevereiro), às 20h
Duração: 50 minutos
Classificação: 12 anos
Ingressos:
R$ 20,00 (inteira)
R$ 10,00 (meia-entrada: estudante, servidor de escola pública, +60 anos, aposentado e pessoa com deficiência)
R$ 6,00 (credencial plena: trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes).
Cia. 5 Cabeças
A Cia. 5 Cabeças, grupo sediado em Belo Horizonte e que completa, em 2017, oito anos de trajetória, foi criada pelos artistas mineiros Byron O’Neill, Carol Oliveira, Luisa Rosa, Ronaldo Jannotti, Saulo Salomão e Mariana Câmara, que apesar de não integrar mais o coletivo, continua realizando os espetáculos em uma sólida parceria. A Companhia flerta com a linguagem do chamado “Teatro do Absurdo” e possui três trabalhos com dramaturgias originais, assinadas pelo também diretor Byron O’Neill, que receberam diversos prêmios: “5 cabeças à espera de um trem” (2009), “Cachorros Não Sabem Blefar” (2011) e “Sinto muito, acabaram-se os pães” (2012).
Os atores Carol Oliveira, Luisa Rosa, Mariana Câmara e Ronaldo Jannotti, se formaram em 2007 no Curso de Formação de Atores do CEFAR, Palácio das Artes, em Belo Horizonte, tendo realizado dois espetáculos juntos: “A Mim Amnésia”, com direção de Lenine Martins e “O Rinoceronte”, com direção de Rita Clemente. Saulo Salomão formou-se no Teatro Universitário da UFMG em 2005. Byron O`Neill, diretor e dramaturgo, é bacharel em Artes Cênicas pela UFMG, tendo concluído o curso em 2003. Em 2009 eles se reuniram para participar do X Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto com a cena curta “5 cabeças à espera de um trem”. Naquele ano foi a cena mais votada do Festival e cumpriu temporada na semana “das mais votadas pelo público”. A partir deste momento nascia a Cia. 5 Cabeças.
O espetáculo “5 Cabeças à espera de um trem” foi apresentado e premiado em outros festivais pelo Brasil, como V Mostra Cena Breve de Curitiba (PR), ainda no ano de estreia, onde foi um dos mais votados pelo público e pelo júri, e, em 2010 participou do VAC Verão Arte Contemporânea – Belo Horizonte (MG), 2° Festival Breves Cenas de Manaus (AM), 3º Festival Dulcina de Cenas Curtas, em Brasília (DF), onde levou o prêmio do júri de melhor cena do Festival, Mostra Movimentos Urbanos do FIT-BH (Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte) e do Festival Estudantil de Teatro (FETO), em Belo Horizonte, como espetáculo convidado.
Com essa primeira experiência, foi natural que o grupo desse continuidade a sua pesquisa por meio de novos trabalhos. Depois de um ano de processo e sem patrocínio, estrearam o espetáculo “Cachorros Não Sabem Blefar”, em setembro de 2011. O espetáculo marcou a abertura da programação do Galpão 3 da Funarte – BH e cumpriu cinco temporadas em Belo Horizonte. Em 2016, foi selecionado para fazer uma turnê por 14 estados brasileiros com o Palco Giratório, o maior projeto de circulação de artes cênicas do Brasil, realizado pelo Sesc.
A cena-curta chamada “Sinto muito, acabaram-se os pães”, também escrita e dirigida por Byron O’Neill, é o terceiro trabalho assinado pela companhia. Participante do Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto em 2012, foi selecionada entre as melhores daquela edição e por isso acabou sendo apresentada dentro da programação do FIT-BH (Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte) no mesmo ano.
A Companhia estreará em breve o seu novo espetáculo, “Não se preocupe em entender”, cujo o projeto foi aprovado na Lei Municipal de Incentivo à Cultura de BH. A nova montagem tem texto assinado pelo ator do grupo Saulo Salomão e o escritor Louraidan e a direção será de Ronaldo Jannotti, também integrante fundador do grupo.
Fotos: Cristiano Diniz
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