Relações das pessoas com redes sociais e ambientes virtuais norteiam os espetáculos “Nó Na Garganta” e “Meu Deus…”, escritos e dirigidos por Ronaldo Fernandes. Montagens ocuparão o Espaço dos Satyros a partir de 05 de agosto…
A tecnologia e as redes sociais aproximam as pessoas ou acabam por deixa-las ainda mais distantes? Como o nosso comportamento, após a chegada do universo virtual, se relaciona com a existência divina? Essas e outras indagações, em cima desta temática, motivaram as pesquisas que o diretor e dramaturgo Ronaldo Fernandes, das cias santistas Grupo Tescom e Trilha de Teatro vem desenvolvendo nos últimos anos. O resultado das investigações poderá ser visto na mostra especial no Espaço dos Satyros, entre os meses de agosto e outubro, com a apresentação dos espetáculos “Nó na Garganta” e “Meu Deus…”.
As montagens ganham temporada a partir de 05 de agosto estendendo-se até 29 de outubro. Aos sábados, sempre às 19h, o palco do Espaço dos Satyros receberá o espetáculo “Nó na Garganta”, enquanto aos domingos, às 18h será a vez de “Meu Deus…”.
Zygmunt Bauman – Com texto e direção assinados por Ronaldo Fernandes, os espetáculos têm como base de pesquisa os trabalhos de filósofos europeus de gerações distintas, mas que, ao longo da investigação, acabaram convergindo, por conta da conexão com o mundo virtual.
“Nó na Garganta” tem como ponto de partida a pesquisa sobre a obra “Amor Líquido”, do filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017). “Bauman analisa as relações amorosas dentro do que ele chama de ‘modernidade liquida’, ou seja, tempos em que nada dura, nada permanece, onde tudo muda muito frequentemente, como as relações que não duram, não permanecem como antigamente”, conta Fernandes. Completando a imersão no tema das redes sociais e tecnologia para “Nó na Garganta”, o diretor e os grupos também realizaram várias vivências com diferentes aplicativos de relacionamento.
Já em “Meu Deus…”, os estudos partiram da afirmação do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844 – 1900), de que “Deus está morto” e também de estudos do psiquiatra americano Daniel J. Siegel sobre os efeitos dos programas de mensageria instantânea nos cérebro dos adolescentes. O diretor e dramaturgo explica: “Para Nietzsche, o homem, na busca por sua segurança metafísica, cria a convicção de ver Deus como objeto último de sua esperança. Porém, ao defendermos que Deus também é o homem, a morte de Deus trazida por Nietzsche, representa também a morte desse homem. É esse o mote: quem muda o mundo somos nós mesmos, não adianta apelar apenas para o divino, mas é preciso agir”. Por fim, Fernandes ressalta, conforme um dos estudos de Daniel Siegel, que o espetáculo foca em como a superficialidade das redes sociais pode amortecer os nossos sentimentos.
A ligação entre as duas montagens, porém, é um fruto da percepção do público. “Resolvemos assumir esta conexão após as diversas apresentações dos espetáculos. O ‘Nó na Garganta’ foi calcado nesta pesquisa dos relacionamentos reais versus os virtuais, mas o ‘Meu Deus…’ questiona a presença de um Deus em um mundo em que crueldades cometidas pela humanidade são instantaneamente publicadas, compartilhadas e esquecidas”, explica Ronaldo Fernandes.
O diretor completa com sua percepção sobre as relações interpessoais na atualidade, exploradas em suas peças: “A tecnologia aproxima quem está distante e afasta quem está próximo, pois o contato via rede social vem tomando o lugar dos encontros. As relações se misturam e se condensam com laços momentâneos, frágeis e volúveis, pois vivemos num mundo cada vez mais dinâmico, fluído e veloz. Seja no real ou virtual”.
Espaço dos Satyros – Estação Satyros
Praça Franklin Roosevelt, 222 – Consolação – SP.
Tel.: 3258-6345
Capacidade: 60 lugares
Ingressos:
R$ 30,00 (Inteira)
R$ 15,00 (Meia)
Promoção: na compra de uma entrada inteira de qualquer um dos dois espetáculos, a pessoa poderá pagar meia-entrada no segundo, ao longo da temporada.
Programação
Nó na Garganta
Em “Nó na Garganta”, uma peça de natureza intimista, o enredo proporciona uma reflexão sobre como utilizamos o mundo virtual para escaparmos de experiências dolorosas e tristes e que, por vezes, nos dilui enquanto pessoas e reforça um estado de solidão e incerteza. No palco, estão os atores Alex Felix, Ana Paula Silva, Karla Lacerda, Marco França e Pedro Norato.
Os atores “mergulham” nas telas, tablets e teclados para percorrer um dia na vida de Dino, Teresa, Nuno, Paty e Érico, pessoas comuns, mas que são reféns das relações cotidianas. A peça mostra os encontros e desencontros criados a partir de uma vida paralela, vivida com pseudônimos, com os personagens que vivem ora no mundo on-line, ora no off-line.
“A presença do virtual tem influenciado de forma profunda os relacionamentos. Zygmunt Bauman analisa as relações amorosas dentro do que ele chama de ‘modernidade liquida’, ou seja, tempos em que nada dura, nada permanece, tudo muda muito frequentemente, como as relações que não duram, não permanecem como antigamente”, explica Ronaldo Fernandes.
Ficha Técnica
Texto e Direção: Ronaldo Fernandes
Elenco: Alex Felix, Ana Paula Silva, Karla Lacerda, Marco França e Pedro Norato
Operação de Som: Jamili Limma
Operação de Luz: Emanuely Lopes
Estreia: 05 de agosto
Temporada: de 5 de agosto a 28 de outubro
Sábados, às 19h
Duração: 70 min
Classificação etária: 14 anos
Meu Deus…
“Meu Deus…” narra a história de um grupo de jovens amigos – interpretados por Dafne Carina de Oliveira, Felippe Alves, Flávia Simões, Marcus Di Bello e Paola Caruso – que compartilham questionamentos sobre sexualidade, entretenimento, aborto, abuso sexual, drogas e violência e refletem sobre o papel do divino em um mundo em que crueldades cometidas pela humanidade são instantaneamente publicadas, compartilhadas e esquecidas. Será que a superficialidade das redes sociais está nos amortecendo?
Ronaldo Fernandes enfatiza que em “Meu Deus…” a abordagem sobre a figura divina segue uma linha mais direta, enquanto em “Nó na Garganta” o divino talvez esteja mais relacionada as nossas escolhas de vida. “Para o ‘Meu Deus…’ estudamos muito Nietzsche que afirma que ‘Deus está morto’. Mas quando ele fala da morte de Deus, ele está falando da morte do próprio homem”, explica.
Ficha Técnica
Texto e Direção: Ronaldo Fernandes
Elenco: Dafne Carina de Oliveira, Felippe Alves, Flávia Simões, Marcus Di Bello e Paola Caruso
Operação de Som: Jamili Limma
Operação de Luz: Emanuely Lopes
Estreia: 06 de agosto
Temporada: de 6 de agosto a 29 de outubro
Domingos, às 18h
Duração: 70 min
Classificação etária: 14 anos
Fotos: Bruna Quevedo, Lairton Carvalho e Rodrigo Montaldi
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