A montagem, depois de temporadas de sucesso, volta aos palcos da capital para mais oito sessões – de 5 a 15 de outubro, no Teatro Oficina – e completa 100 apresentações…
Em busca de novos desafios com seu Grupo Pândega, Maria Alice Vergueiro dirige e atua no espetáculo que chega à 100ª apresentação. A pequena temporada de oito apresentações comemora também os 10 anos da companhia e contará com participação do grupo Oficina Uzyna Uzona e pocket show de Celso Sim.
Morrer em cena. Esse foi o ponto de partida do espetáculo Why The Horse?, do Grupo Pândega. Ao lado de Luciano Chirolli, seu parceiro de cena há 23 anos, o mais recente trabalho da atriz e diretora Maria Alice Vergueiro tem dramaturgia de Fábio Furtado e elenco formado por Carolina Splendore, Robson Catalunha e Otávio Ortega.
A comemoração da 100ª apresentação e dos 10 anos do Pândega acontece no dia 14 de outubro, sábado, com pocket show de Celso Sim, Danilo Oliveira e Mica Matos. Já no dia 13 de outubro, sexta-feira, a sessão terá o grupo Oficina Uzyna Uzona como convidado para uma intervenção.
Aos 82 anos, Maria Alice continua se desafiando e buscando o novo em seu trabalho. Instigada pelo tema da morte, a atriz e diretora convidou seus parceiros do Pândega para a criação de um espetáculo-happening em que pudesse ensaiar seu derradeiro momento – o último ensaio. A construção da dramaturgia partiu de um intenso trabalho de improvisações e da relação dos integrantes com Maria Alice, bem como dos sentimentos suscitados em cada um pelo tema da morte em geral e, particularmente, pela morte da atriz.
Referências textuais, imagens, memórias e dados biográficos foram alguns dos elementos que, experimentados em improvisações, geraram o repertório do espetáculo. Elementos do imaginário grotesco embasaram a pesquisa, universo estético recorrente no histórico artístico da atriz e do Grupo Pândega, já trabalhado em seu espetáculo anterior, As Três Velhas, pelo qual Maria Alice recebeu o prêmio Shell de Paladino do Teatro Experimental Brasileiro e Luciano Chirolli, o de melhor ator.
Diálogo com grandes autores
O resultado é uma montagem que privilegia a liberdade dos intérpretes em torno de uma cartografia cênica, um roteiro cerimonial no lugar do texto dramatúrgico convencional, com foco maior nas ações e transições entre os diferentes momentos do que nas falas embora estas também estejam presentes. Para além do interesse artístico nesta forma de fazer teatro, a abordagem escolhida procura se manter fiel ao desejo expresso pela atriz de fazer da própria morte um happening, uma preparação real, e, no limite, morrer em cena.
Ao lado do material gerado pelas improvisações e experimentações, e dos temas pessoais dos integrantes em suas relações com Maria Alice, Why The Horse? também dialoga com alguns dos principais autores presentes na trajetória artística da atriz, como Alejandro Jodorowsky, Samuel Beckett, Bertolt Brecht e Hilda Hilst.
Residência na SP Escola de Teatro
A ideia desta montagem surgiu de um convite: uma residência do Grupo Pândega na SP Escola de Teatro. Com Maria Alice e Carolina Splendore na condução, o processo consistiu em um intenso mergulho pela obra de Alejandro Jodorowsky, Fernando Arrabal e Samuel Beckett. Já nesse momento a possibilidade de trabalhar de maneira mais aberta, flertando com o happening, surgia com força. Este desejo de experimentar novas formas de expressão teatral aliado à disposição de Maria Alice Vergueiro de se preparar para a morte formaram o embrião de Why The Horse?.
Estrutura não-hierárquica
O método de criação da montagem optou por abandonar todas as hierarquias. Apesar de algumas funções serem assinadas por determinados integrantes, a criação foi realmente fruto da contribuição de todos.
Fábio Furtado explica um pouco como esse processo funciona na dramaturgia. “Temos um ponto de partida, um fio condutor, e sabemos os lugares aos quais queremos chegar ao longo do espetáculo, e também temos um repertório exaustivamente trabalhado para cada momento. Mas a dramaturgia de fato foi construída simultaneamente ao mergulho no tema escolhido, em vez de ser composta num momento anterior à montagem. E não tem no texto teatral o seu centro, é mais parecido com o processo de montagem de um documentário de observação, em que você traz à tona o que é importante e já está lá, e trabalha a partir disso na costura das cenas. Uma das coisas mais curiosas desse espetáculo é que temos dois atores bastante famosos pelo seu trabalho com a palavra, a Maria Alice e o Luciano, atuando numa dinâmica em que o texto fica em segundo plano. O movimento ganha importância maior em cena. Acho extraordinário ver dois atores com uma carreira tão reconhecida ainda se permitindo e querendo buscar desafios”, conta.
Em busca da morte
Com 82 anos de vida e mais de 50 de palco, Maria Alice não pensa em parar. Em suas palavras, sempre um pouco irreverentes: “com sorte pode ser que eu morra em cena. Se não, estaremos de volta no dia seguinte”. E é em torno desse desejo que o espetáculo se constitui. Maria diz que quer ensaiar a morte para não ser pega de surpresa.
Ficha Técnica
Elenco: Carolina Splendore, Luciano Chirolli, Maria Alice Vergueiro, Otávio Ortega e Robson Catalunha
Direção: Maria Alice Vergueiro
Dramaturgia: Fábio Furtado
Assistente de Direção – Pedro Monticelli
Cenário: J.C. Serroni
Figurino: Telumi Hellen
Desenho de Luz: Guilherme Bonfanti
Trilha Sonora Original: Otávio Ortega
Direção de Movimento: Alexandre Magno
Direção de Produção: Carla Estefan
Direção de Cena: Elisete Jeremias
Assistente de Produção e Bilheteira: Ana Sobansky
Operação de Som e Cenotécnico: Edson Luna
Camareira: Maria Cícera
Why The Horse?
Teatro Oficina
Rua Jaceguai, 520 – Bela Vista
Tel.: 3106-2818
Capacidade: 100 lugares
Duração: 45 minutos
Temporada: De 5 a 15 de outubro
Quinta-feira a sábado, às 21h
Domingo, às 20 horas
Dia 13 de outubro: participação do grupo Oficina Uzyna Uzona.
Dia 14 de outubro: Pocket Show Celso Sim + Danilo Oliveira e Mica Matos.
Ingressos:
R$ 40,00 (inteira)
R$ 20,00 (meia-entrada)
Classificação: Indicado para maiores de 16 anos
Bilheteria: Quinta-feira a sábado a partir das 18 horas e domingo a partir das 17 horas.
Prêmios e Festivais
Why The Horse? foi contemplado pelos prêmios Myriam Muniz, Zé Renato e PROAC, que possibilitaram apresentações em diversas cidades do estado de São Paulo, como São José do Rio Preto, Jundiaí, Ilha Bela, São José dos Campos, Sorocaba e Poá, além de circulação nos teatros municipais Alfredo Mesquita, João Caetano, Paulo Eiró e Cacilda Becker, da cidade de São Paulo.
O espetáculo integrou a programação do Itaú Cultural, quando foi assistido pelo premiado diretor russo Yury Butusov, a obra “um expoente da dramaturgia mundial”. Integrou também o Festival Internacional de Curitiba (2016), Festival Aldeia (Joinville, 2016) e Festivale (São José dos Campos, 2016).
A convite do SESC realizou a turnê nacional Palco Giratório durante o ano de 2016, apresentando e ministrando oficinas nas cidades de: Salvador (BA), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS), Vitória (ES), Rio de Janeiro (RJ), Cuiabá (MT), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Joinville (SC), Florianópolis (SC), Campo Grande (MS), Curitiba (PR), Santo André (SP), Porto Velho (RO) e Juazeiro do Norte (CE).
Grupo Pândega de Teatro
O Grupo Pândega de Teatro – fundado em 2007 por Maria Alice Vergueiro, Fábio Furtado e Luciano Chirolli – investiga o universo estético do grotesco e novas formas de criação e entendimento do fenômeno teatral. Foi o primeiro grupo brasileiro a encenar As Três Velhas, do multiartista chileno radicado na Europa Alejandro Jodorowsky. A Esta primeira montagem do grupo passou por sete estados brasileiros e também por Havana, Cuba, e recebeu os prêmios: Shell 2010 Paladino do Teatro Experimental Brasileiro para Maria Alice Vergueiro; Shell 2010 Melhor Ator para Luciano Chirolli; Arte Qualidade Brasil 2010 para melhor direção e CPT 2010 Melhor Elenco; além de diversas outras indicações. Hoje o grupo Pândega é composto por Maria Alice Vergueiro, Luciano Chirolli, Fábio Furtado, Carolina Splendore e Elisete Jeremias. Para a montagem de Why The Horse? contaram ainda com a parceria de Alexandre Magno, que fez a direção de movimento e integrou o elenco até 2016, e de Robson Catalunha, que se aproximou do grupo em trabalho anterior, fruto de uma parceria com o grupo Os Satyros, do qual é egresso. Além de sua presença em cena, Robson participou de toda o processo de pesquisa e transformação do espetáculo desde sua estreia. Também integraram esta trajetória Pedro Monticelli na assistência de direção, J.C.Serroni na cenografia, Guilherme Bonfanti na luz, Telumi Helen no figurino, Otávio Ortega na direção musical e Carla Estefan na direção de produção.
Fotos: Fábio Furtado
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