Esmiuçar a violência urbana e o discurso de ódio, hoje, em ascensão nos grandes centros de todo o mundo, é o objetivo da Cia do Caminho Velho com a estreia de sua mais nova montagem. Piche, que comemora os 10 anos do grupo, chega ao palco da SP Escola de Teatro no sábado, dia 11 de novembro…
Coletivo formado no Campus de Guarulhos, da Universidade Federal de São Paulo, dá continuidade a investigação sobre violência com a estreia de Piche na SP Escola de Teatro. Ciclo de conversas sobre dramaturgia e violência acontece aos domingos com participação de autoras e diretoras da cena teatral paulista.
Com texto e direção de Alex Araújo, o espetáculo traz no elenco os atores Carlos Marques e Daiane Sousa, que se revezam nas 16 figuras presentes na dramaturgia do diretor. Piche é resultado de um intenso processo de formação dos atores pesquisadores, que se debruçaram por três anos em treinamentos e debates a partir da pesquisa do grupo sobre violência.
Em Piche um jovem de periferia é capturado por dois policiais milicianos que o torturam barbaramente. Cortam sua carne, escalpelam seu corpo, e desferem inúmeros murros e chutes contra ele, mas de modo inexplicável ele não morre. O caso acaba por comover uma multidão descontrolada que vai as ruas interceder pelo garoto, o que, por sua vez, gera o interesse de políticos e de um líder religioso.
Para o diretor e dramaturgo Alex Araújo, o espetáculo fala sobre indiferença, intolerância e a incapacidade de um sujeito suportar o outro. “A peça investiga como surge a vontade sádica de um sujeito querer tomar posse do corpo do outro. Como é que surge essa ânsia por dominação? O estupro, a tortura, as regras desmedidas da religião e dos bons costumes e a neurose do homem de bem. Aquilo que se exacerba transbordando os limites do aceitável, do inimaginável”, conta ele.
Continuidade da pesquisa
Em 2015, a Cia do Caminho Velho estreou, com dramaturgia de Dione Carlos e dentro do projeto Teatro Mínimo do Sesc Ipiranga, a peça Bonita. A montagem revisitou o mais famoso bando de cangaceiros do Brasil, sob o ponto de vista de uma mulher: Maria Bonita, vivida por Carolina Erschfeld.
A pesquisa dos atores que performam com a iluminação, cenário e figurino, iniciada em Bonita, tem continuidade em Piche, mas agora construindo um território urbano. A pesquisa e montagem da peça se deu no bairro dos Pimentas, em Guarulhos, onde o grupo desempenha papel social e pedagógico através do teatro para além dos muros da universidade. Em 2018, o espetáculo estreará também em Guarulhos, no Teatro Adamastor Pimentas.
“Em Bonita descobrimos uma forma de guiar a nossa pesquisa em que a encenação e todos os seus elementos como cenário, figurino e iluminação são pautados pela sensibilidade do ator. Nossa iluminação, por exemplo, tomou outra importância quando os atores ficaram livres para manuseá-la, deslocá-la ou esconde-la fazendo surgir sombras”, explica Alex.
Ciclo de conversas
A Cia. do Caminho Velho há dez anos se dedica a prática teatral, através da investigação de novas formas dramatúrgicas, da pesquisa em busca de um ator sensível, singular e autônomo, e do empenho em oferecer gratuitamente cursos, debates, e experimentações voltadas ao teatro.
Para a temporada de Piche, na SP Escola de Teatro, o coletivo propõe um ciclo de conversas sobre dramaturgia e violência com participação de autoras e diretoras da cena teatral paulista. Os encontros acontecem aos domingos após a apresentação do espetáculo. Entre os convidados estão: Marici Salomão (12 de novembro), Dione Carlos (19 de novembro), Maria Shu (26 de novembro) e Michelle Ferreira (3 de dezembro).
Ficha Técnica
Com a Cia do Caminho Velho
Texto, Direção e Iluminação: Alex Araújo
Treinamento do Ator, Cenografia e Figurino: Carolina Erschfeld
Atores Pesquisadores : Carlos Marques e Daiane Sousa
Sonoplastia e Vídeo: Carlos Ronchi
Piche
SP Escola de Teatro
Praça Franklin Roosevelt, 210 – Consolação
Tel.: 3775-8600
Capacidade: 40 lugares.
Duração: 50 minutos
Estreia sábado, 11 de novembro, às 21 horas
Temporada: até 11 de dezembro
Sábado, às 21h
Domingo, às 20h
Segunda-feira, às 21h
Ingressos:
R$ 20,00 (inteira)
R$ 10,00 (meia-entrada)
Classificação indicativa: 16 anos
Fotos: Rodrigo Baroni
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