Coletivo Estopô Balaio faz homenagem a ‘poetas da quebrada’ em sarau

28O Sarau do Peixe que acontece há quatro anos no Jardim Romano, sempre no penúltimo sábado do mês, homenageia poetas da quebrada através de uma intervenção cênica construída pelo Coletivo…

 

 

 

Cabelo, por Renato Pessoa
Meu Cabelo é o firmamento, meu céu inteiro, me protege os pensamentos. Para com eles: Todo o cuidado! Não pentes e nem solventes quando o lavo Desembaraço pelo movimento das mãos, mecha a mecha, passo nele o perfume das flores a gordura do coco, polpa e pétala. Ato o com cordões e cisais e se por acaso cabeleira cansa, junto os cachos na palma da mão por um instante e nino meus cabelos num venusto turbante. Tal como fizeram os ancestrais. As vezes meu cabelo ouve tanto, toma tanto chingamento, na escola, em casa, no trabalho, na rua ou em qualquer momento. Mãos abusadas por cima, piadas, chacota e graça, o cabelo pega um ranço, toma tanto que acorda de ressaca. Não o dobro, não o corto, mas lhe alimento com o vigor do mel da linhaça, hidrato e solto na beleza do vento, o meu cabelo é um acontecimento.

Dia 17 de fevereiro de 2018, o Coletivo Estopô Balaio homenageia o poeta e cantor Renato Pessoa, no Sarau do Peixe, que acontece às 17h, na Casa Balaio (ao lado da estação de trem Jardim Romano).

Convidados especiais, microfone aberto ao público e batalha de slam (poesia ritmada), estão na programação deste mês, no sarau.

Com o desejo de publicar a poesia de jovens poetas da zona leste de São Paulo que passam pelo Sarau do Peixe, e de divulgar e compartilhar o trabalho potente da juventude periférica, o coletivo lançou em 2015 a I Antologia Poética do Sarau do Peixe e a II Antologia em 2017.

 

 

 

Sarau Do Peixe
Casa Balaio
Rua Adobe, 47, Jardim Romano (ao lado da estação de trem Jardim Romano)
Lotação: 70 pessoas
Homenageado: Renato Pessoa (poeta e cantor)
Atrações do dia: música ao vivo com Guina e Aldrey; Mini Slam ‘Uma tacada só’; Intervenção poética Coletivo Estopô Balaio, Microfone Aberto.
Sábado, 17 de fevereiro, às 17h
Entrada gratuita

 

 

O Coletivo
O Estopô Balaio é um coletivo de artistas formado em 2012 na cidade de São Paulo que conta em sua maioria com a participação de artistas migrantes. É por esta condição de vida, a de um ser migrante, que o grupo se reúne no desejo de aferir um olhar sobre a prática artística encontrando como estrangeiros a distância necessária para enxergar o olhar de destino dos desejos.
“A distância geográfica das lembranças e paisagens levaram a uma tentativa inútil na busca por pertencimento à capital paulista. Era preciso reinventá-la para poder praticá-la. Na busca pelo lugar perdido da memória do grupo, seguimos para fora e à medida que nos distanciávamos de um tipo de cidade localizada em seu centro geográfico, fomos nos aproximando de outras cidades, de outros modos de vida e de novos compartilhamentos. O cinturão periférico da cidade no seu vetor leste revela um pedaço daquilo que tinha ficado para trás. Há um Nordeste em São Paulo que estava escondido das grandes avenidas e dos prédios altos do centro paulistano”, aponta João.
A memória partilhada nos quatro anos de residência artística no Jardim Romano são as dos integrantes do Coletivo, de estrangeiros de um lugar distante, e a destes pequenos deuses alagados de uma cidade submersa pelo esquecimento. O encontro com o bairro se deu num processo de identificação, pois a maioria de seus moradores são também migrantes nordestinos que fincaram suas histórias de vida nos rincões da capital paulista. O alagamento do Jardim Romano era real, oriundo da expansão desordenada da cidade, o dos integrantes do Coletivo era simbólico, originário da distância e saudade daquilo que foi deixado para trás.

 

Foto Renato Pessoa (homenageado de fevereiro): Joel Dias

1 comentário em “Coletivo Estopô Balaio faz homenagem a ‘poetas da quebrada’ em sarauAdicione o seu →

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *