O que precisa morrer para um palhaço nascer? Essa foi a pergunta que norteou o trabalho para a montagem de Piolin, o mais novo espetáculo da Cia Lúdicos de Teatro Popular, que estreia dia 16 de fevereiro, sexta-feira, às 15 horas, no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes. Com direção de Gira de Oliveira, a montagem concebida especialmente para a rua também fará apresentações no Teatro Flávio Império e no Parque Piquerí sempre com ingressos gratuitos…
Piolin, montagem de rua da Cia Lúdicos de Teatro Popular, é inspirada livremente em momentos da vida do famoso palhaço brasileiro. Com músicas tocadas ao vivo, acrobacias e números clássicos de palhaço, o grupo mergulhou no universo do circo para recontar a história do homem que nasceu num picadeiro e morreu engasgado com uma bala.
Contemplado pela 5ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro, Piolin integra o projeto Esse homem é brasileiro que nem eu…, da Cia Lúdicos de Teatro Popular. O projeto iniciado em 2007 propõe a investigação da vida e obra de artistas brasileiros que se reconheceram em nossa cultura e a valorizaram e consiste na criação de uma trilogia de espetáculos de rua pensados para a infância e juventude.
As peças A Ciranda do Villa (2009) inspirado na vida e obra de Heitor Villa-Lobos (indicado aos prêmios FEMSA 2009 nas categorias: Melhor Texto e Trilha Sonora; e Cooperativa Paulista de Teatro 2009 na categoria: Melhor Trabalho Realizado na Rua) e Mário e as Marias (2013) inspirado na vida e obra de Mário de Andrade (contemplado com o prêmio APCA 2013 como Melhor Espetáculo de Rua para Crianças, e indicado aos prêmios FEMSA 2013 nas categorias: Especial – pela pesquisa em Mário de Andrade, Trilha Sonora e Produção; e Cooperativa Paulista de Teatro 2013 na categoria: Melhor Trabalho Realizado na Rua) formam ao lado da estreia de Piolin a trilogia do projeto.
Inspirado livremente em momentos da vida de Abelardo Pinto, o Palhaço Piolin, o espetáculo reconta a história do palhaço que nasceu num picadeiro e morreu engasgado com uma bala. O que acontece naquela fração de segundo que antecede a morte? O que parte? O que fica? Neste pequeno instante, o palhaço revive memórias que passam diante de seus olhos e são refletidas no espelho de seu camarim, trazendo a sensação de que enquanto lá se está, sob a lona do circo, o tempo é infinito.
Em um espaço cênico que relembra um picadeiro e um camarim, os quatro atores – Cristiane Guerreiro, Gizele Panza, John Halles e Nayara Martins – dão vida aos palhaços de um circo. Entre músicas tocadas ao vivo, acrobacias e números clássicos de palhaço Piolin conta, de forma não linear, a vida de um artista genuinamente brasileiro.
Para o diretor Gira de Oliveira, Piolin não tem a pretensão de ser um espetáculo biográfico. “Selecionamos fragmentos da história de Piolin para retratar, de forma antropofágica, nossa visão sobre esse grande artista, que figurou uma arte autêntica e brasileira, tão importante para o nosso tempo”, conta ele.
Assim como nos demais espetáculos do projeto Esse homem é brasileiro que nem eu…, a criação da Cia seguiu caminhos que perpassaram a poesia de cena e a ludicidade. “Dividimos a peça em três partes, que comportam uma certa cronologia da vida de Piolin: o nascimento, o reconhecimento e o ‘desreconhecimento’. Nesta terceira parte estabelecemos paralelos entre o despejo do circo de Piolin e os dias de hoje, e nos afetamos com o texto A Caixa de Brinquedos, de Rubem Alves e com a frase que José Celso Martinez Corrêa diz para Silvio Santos, num vídeo vazado na internet: ‘Essa cidade não aguenta mais torre. São Paulo vai se enfartar de tanto carro e tanta torre! Tem que ter uma transformação!’. Estamos, cada vez mais, substituindo o nosso espaço de poesia, dentro e fora da gente, por praticidades e utilidades, explica o diretor Gira de Oliveira.
A composição visual de Piolin dialoga diretamente com a poesia das cenas e da história, e apresenta propostas inspiradas na arte barroca, em elementos do modernismo e do circo para criação do cenário, dos adereços e figurinos em tons de bege, azul e vermelho. O cenário, que aposta no lúdico, é formado por uma lona de sete metros que cobre o chão. O espaço é rodeado por vasos com flores, e conta também com uma vara de pescar com um guarda-chuva lembrando a lona do grande circo.
Quem foi Piolin?
Abelardo Pinto nasce num circo na cidade de Ribeirão Preto, interior do Estado de São Paulo, em 27 de março de 1897. Filho de Dona Clotilde e do Seu Galdino, artistas de circo, inicia sua carreira artística aos seis anos de idade. Mais tarde recebe o apelido de Piolin, que significa “barbante” em espanhol. Piolin inaugura seu próprio circo e se estabelece na cidade de São Paulo por mais de 40 anos. Em seu auge, além de ser reconhecido pelos modernistas, em especial Oswald de Andrade, como um “artista tipicamente brasileiro”, e homenageado por eles num almoço intitulado “Festim Antropofágico – Vamos Comer Piolin”, tinha em seu circo uma cadeira cativa reservada ao presidente Washington Luís, que comparecia toda quinta-feira. No ano de 1961, depois de 18 anos instalado na Avenida General Osório da Silveira, Piolin recebe uma intimação para desocupar o espaço. Ele passa então, a morar sozinho no seu antigo camarim, uma pequena casinha de madeira. Em 1972, num evento em comemoração aos 50 anos da Semana de Arte Moderna, o circo de Piolin é armado novamente no vão livre do Museu de Arte de São Paulo – MASP, e o dia de seu aniversário passa a ser considerado como o Dia Nacional do Circo. Piolin morre no dia 4 de setembro de 1973 em São Paulo, dentro de sua casa, engasgado com uma bala e com insuficiência cardíaca.
Ficha Técnica
Dramaturgia e Músicas: Cia Lúdicos de Teatro Popular
Direção: Gira de Oliveira
Elenco: Cristiane Guerreiro, Gizele Panza, John Halles e Nayara Martins
Direção Musical: Alexandre Guilherme
Preparação Circense: Osvaldo Hortêncio
Cenários, Adereços e Figurinos: Paolo Suhadolnik
Design Gráfico: Gabriel Victal
Fotografia: Manu Costa
Vídeo-Teaser: John Halles e Verônica Vieira
Operação de Som: Eduardo Carnevali
Produção: Cia Lúdicos de Teatro Popular.
Piolin
Estreia sexta-feira , dia 16 de fevereiro, às 15 horas, no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes.
Recomendação etária: Livre
Ingressos: Grátis
Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes.
Rua Inácio Monteiro, 6900 – Conj. Hab. Sitio Conceição, São Paulo
Dias 16, 17, 23 e 24 de fevereiro.
Sextas-feiras às 15 horas e sábados às 17 horas.
Teatro Flávio Império
Rua Prof. Alves Pedroso, 600 – Cangaíba
Dias 9, 10, 16 e 17 de março
Sextas-feiras às 15 horas e sábados às 17 horas.
*Em caso de chuva a apresentação não há apresentação.
Parque do Piquerí
Rua Tuiutí, 515 – Tatuapé
Dias 11, 18 e 25 de março.
Domingos às 11 horas (dia 25 de março a apresentação também às 15 horas).
*Em caso de chuva a apresentação não há apresentação.
Cia Lúdicos de Teatro Popular
A Cia Lúdicos de Teatro Popular surge em 2000 e tem como base investigar a popularização de linguagens, priorizando essencialmente as diversas possibilidades de discursos poéticos e ideológicos por meio de dramaturgias além da palavra. Nos quatro primeiros anos, o grupo escolhe obras clássicas, entre elas Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny, Vestido de Noiva, O Mambembe, Auto da Compadecida e Sonho de Uma Noite de Verão e, devido a aceitação pública, constitui-se em repertório. Teve como foco pesquisar a vida e obra de cada autor, levando em consideração o contexto cultural e sociopolítico, porém, ao transpô-lo para o momento presente, a intenção é suscitar o pensamento crítico. A partir de 2005 a Cia estabelece estudos práticos, integrando quatro linguagens: a música, a poesia, o conto e a cena e, para tanto, adota o princípio de criar dramaturgias coletivamente. Surge Histórias Que o Vento Conta, um projeto infantil baseado na obra de Hans Christian Andersen e que resulta em dois espetáculos: A Arca Encantada e O Velho do Sono. Em 2007 a Cia passa a estudar a vida e obra de Heitor Villa-Lobos e estreia A Ciranda do Villa. Influenciada pelas experiências com a pesquisa e circulação do mesmo, a Cia cria o projeto Esse homem é brasileiro que nem eu…, que é uma tentativa de potencializar a pesquisa sobre a vida e obra de artistas brasileiros, utilizando-se da linguagem do teatro de rua, feito para crianças, com músicas ao vivo. O espetáculo A Ciranda do Villa é a primeira fase desse projeto, a segunda fase, iniciada em 2011, é chamada de Mário e as Marias, que abarca a vida e obra de Mário de Andrade e a terceira fase, iniciada em 2015, fecha a trilogia com a pesquisa sobre Abelardo Pinto resultando no espetáculo Piolin.
Fotos: Manu Costa / Divulgação
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