O espetáculo Venus Ex Libris estreia dia 25 de maio, sob direção de Luiz Fernando Marques com texto livremente inspirado em “A Vênus das Peles”, de Leopold von Sacher-Masoch…
O espetáculo ‘Venus Ex Libris’ ocupa um dos andares do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), prédio icônico no centro da capital paulista, situado em uma região famosa por abrigar a boêmia, o sexo e as contravenções.
A obra “A Vênus das Peles”, de Leopold von Sacher-Masoch, desde seu lançamento em 1870, se tornou fonte de inspiração para poetas, pintores, dramaturgos, músicos, cineastas, psicólogos, médicos, sociólogos, entre outros. Provavelmente porque o autor nesta novela explicita e radicaliza sua visão conturbada sobre o desejo, envolvendo o leitor numa reflexão inevitável sobre os papéis que representamos no cotidiano, sobre os limites entre fantasia e realidade, sobre a presença subliminar da sedução em todas as relações sociais e sobre o paralelismo entre essas relações e o ato sexual. Com seu desfile de medos, taras, desejos secretos, humilhação e sofrimento – e com o debate que propõe sobre sexo, arte e poder.
Com dramaturgia coletiva e com intenção de colocar em cena o universo de A Vênus das Peles”, de Leopold von Sacher-Masoch, estreia dia 25 de maio de 2018, no IAB – Instituto de Arquitetos do Brasil (Rua Bento Freitas, 306, República, São Paulo, SP), o espetáculo ‘Venus Ex Libris’ com direção de Luiz Fernando Marques e atuação dos atores Ana Carolina Godoy e Rafael Steinhauser.
Idealizada pelos atores Ana Carolina Godoy e Rafael Steinhauser, ‘Venus Ex Libris’ tem na cocriação e direção Luiz Fernando Marques, e conta com a parceria de diversos artistas que ao longo desse processo contribuíram para enriquecer e consolidar esse trabalho: Paulo Arcuri, Tomas Rezende, Lucas Brandão, André Cortez, Daniele Avila Small, Wagner Antônio, Yumi Sakate, Gabi Gonçalves, Marcio Abreu e Jenia Koleskinova.
A dramaturgia foi concebida coletivamente em processo de sala de ensaio a partir do livro de Sacher-Masoch, também livremente inspirada na obra do autor americano David Yves – Venus in Fur, no filme – de mesmo nome – de Roman Polanski, na música Venus in Furs de The Velvet Underground, no imaginário de Vênus na pictografia renascentista e no próprio mito de Vênus.
O local escolhido para encenação de Venus Ex Libris não poderia ser mais propicio: primeiro andar da IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), um prédio icônico, situado na Rua Bento Freitas, no centro da cidade, famosa por abrigar a boêmia, o sexo e as contravenções. O Mezanino do prédio – que pela primeira vez será usado como espaço cênico – vai emprestar suas linhas e curvas modernistas para contar esta história. Vale lembrar que o diretor Luiz Fernando Marques (do Grupo XIX de Teatro) tem, na sua trajetória, ocupado artisticamente diversos espaços históricos em São Paulo, no Brasil e pelo mundo.
“Deslizava furtivamente, como para gozar um prazer proibido, para junto de uma Vênus de gesso que se encontrava na biblioteca do meu pai… Ajoelhei-me frente a ela e abracei os seus pés gelados, como havia visto fazer as aldeãs aos pés do Crucificado… Um desejo ardente e invencível apoderou-se de mim. Pondo-me de joelhos, abracei o seu formoso corpo frio, beijei os seus lábios e pareceu-me que a deusa, com um braço levantado, me ameaçava” (A Vênus das Peles, de Sacher Masoch).
Venus Ex Libris
Na peça Venus Ex Libris o poder está no centro da cena. Se por um lado o poder pode significar potência no melhor sentido da palavra e de uma expressão de liberdade e realização individual, por outro se desdobra em domínio, controle, subjugação, exploração, entre tantos outros sinônimos. O livro fala sobre relações de poder e chega até teorizar sobre a impossibilidade de uma relação igualitária e cooperativa entre homens e mulheres – pelo menos até que a mulher de fato passe a ter os mesmos direitos dos homens. Enquanto isso não se realiza, ele faz uma comparação da relação homens e mulheres à teoria de Goethe sobre o martelo e a bigorna: “Na grande balança da fortuna, raramente para o fiel; deves subir ou descer; deves dominar e ganhar, ou perder e servir, deves sofrer ou triunfar; deves ser bigorna ou martelo”.
Fato é que o poder está presente em toda e qualquer tipo de relação em maior ou menor grau e aqui é levado ao extremo através de um jogo erótico. Tanto que o termo médico “masoquismo” foi cunhado a partir do nome do autor da obra, que também mantinha relações semelhantes em sua vida real. Mas aqui não pretendemos fazer nenhum julgamento de valor e tampouco classificar e limitar à experiência que ambos personagens se propõem, fazendo o mesmo que o médico alemão fez com Masoch. Não estamos falando de uma patologia, mas de uma experiência levada a um limite desconhecido.
Sobre o espetáculo, o diretor Luiz Fernando Marques diz: “Talvez [sejam] duas pessoas que desejam ardentemente sentirem- se vivas a partir de uma experiência (aparentemente) transgressora, no mundo em que vivemos hoje, de tamanhas distâncias e impessoalidades. Afinal, a quem pertence o nosso corpo e as nossas escolhas? Ao Estado? À natureza? Quais são os limites entre a liberdade pessoal e a do outro? O que é ser mulher e o que é ser homem hoje? O que define o feminino? O que define o masculino? Perguntas essas que não temos a pretensão de responder, mas sim contribuir para um debate que vêm cada vez mais ganhando espaço atualmente tanto no meio acadêmico, como na mídia, no meio artístico e nas redes sociais. Entretanto, apesar de serem cada vez mais discutidas, permanecem ainda num plano discursivo, sob o território das palavras, também um instrumento de poder e controle. Nesse sentido, o teatro por sua natureza performática, pode dar a oportunidade e a medida da experiência”.
Na trama: Um homem e uma mulher marcam um encontro para viverem uma fantasia erótica de dominação e submissão inspirada no livro “Vênus em Pele” de Sacher-Masoch. Ele deseja ser submetido por Ela que aceita o desafio. Ambos então começam um jogo, cada um declara os seus princípios, mas os limites e as regras permanecem indefinidas. Mas afinal, quem é o manipulador? Quem define onde começa e onde termina esse jogo? O que cada um deseja dessa experiência? O fato é que ambos se propuseram a entregar-se a um território desconhecido, no limiar da dor e do prazer e, ainda que excitante, ele pode revelar conteúdos obscuros que podem transbordar para além daquela sala transitória de uma grande metrópole em um dia de tempestade.
Ficha Tecnica
Título: Venus Ex Libris
Dramaturgia: Criação Coletiva
Direção: Luiz Fernando Marques
Elenco: Ana Carolina Godoy e Rafael Steinhauser
Assistente de Direção: Paulo Arcuri
Cenografia: André Cortez
Figurino: Yumi Sakate
Luz: Wagner Antônio
Preparação de elenco: Lucas Brandão e Tomas Rezende
Produção: Núcleo Corpo Rastreado – Gabi Gonçalves
Venus Ex Libris
IAB – Instituto de Arquitetos do Brasil
R. Bento Freitas, 306, Mezanino – 1º andar – República
Informações: 3259-6149
Duração: 90 minutos
Estreia: 25 de maio
Temporada: Dias: 25, 26 e 27 de maio, 01, 02, 03, 08, 09, 10, 15, 16, 17, 23, 24 e 30 de junho,01, 06, 07 e 08 de julho
Sextas e sábados, às 21h
Domingos, às 18h
Sessões extras
Quinta – 31 de maio (feriado), às 21h
Sábados – 30 de junho e 07 de julho, às 23h59
Segundas – 04 de junho e 09 de julho (feriado), às 21h
Recomendação: 16 anos
Ingressos: Pague o quanto puder
Fotos: Ligia Jardim
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