Foguetes Maravilha comemora 10 Anos com estreia no Sesc Belenzinho

Depois de passar pelos festivais Cena Brasil Internacional do Rio de Janeiro e FIT – Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, o espetáculo Mortos-Vivos – Uma Ex-Conferência chega à São Paulo com estreia dia 28 de setembro, no Sesc Belenzinho…

 

 

 

 

O texto de Alex Cassal, dirigido por Renato Linhares, parte da premissa fantástica de que o apocalipse zumbi é fato, neste momento. A nova montagem do grupo carioca Foguetes Maravilha, que comemora 10 anos com a peça, é uma metáfora sobre as mazelas do mundo contemporâneo, e uma conferência é realizada para descobrir as armas necessárias para enfrentar esses temidos zumbis.

No enredo, o apocalipse zumbi já aconteceu, e neste exato momento cadáveres animados e famintos andam pelas ruas da cidade. A montagem é uma espécie de conferência à beira do abismo, onde quatro especialistas analisam a crise que tomou o mundo e instruem os espectadores sobre estratégias de sobrevivência. O mundo como era antes acabou. Não há mais governo, sinais de trânsito, produtos de supermercado, etiqueta social, amenidades. O que resta é a sobrevivência, resta saber do que é possível abrir mão para garantir essa sobrevivência.

Mortos-Vivos – Uma Ex-Conferência explora com humor a imagem desses cadáveres-vivos para refletir sobre questões como xenofobia, fascismo, preconceito, tortura, a banalidade do mal e a atração pela violência. Para o diretor e ator Renato Linhares, que está há oito anos no Foguetes Maravilha e dirige sua primeira montagem no grupo, esse morto-vivo serve de metáfora para discutir as relações sociais no Brasil da atualidade, em que o convívio com a diferença tornou-se algo difícil de ser exercitado. “O zumbi é sempre o outro, aquele que é semelhante mas alienígena, aquele que nos ameaça com sua presença. Para enfrenta-lo, todas as armas são permitidas: o isolamento, a agressão, até a destruição completa.”, pontua ele.

Com humor rasgado, muita ironia e discursos teóricos, Renato Linhares traz para a cena a guerra de polaridades que assola o Brasil aliada a sensação de fim de mundo. “Durante todo o espetáculo fazemos questionamentos ao público traçando paralelos éticos e políticos, pois o teatro ainda consegue ter a magia de reunir em um mesmo espaço pessoas com posicionamentos ideológicos distintos, sem que isso necessariamente se torne um embate carregado de discursos de ódio. O teatro é um espaço transformador, que promove o pensamento coletivo. Talvez por ser historicamente um território que permite o convívio de ideias contraditórias”, acredita o diretor.

 

Fantasia absurda e próxima

Morando em Portugal há alguns anos, o autor Alex Cassal começou a pensar no tema do espetáculo a partir do drama vivido por refugiados sírios na Europa. Tanto que Mortos-Vivos – Uma Ex-Conferência é uma espécie de versão brasileira de um espetáculo concebido por ele para o Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, intitulado Ex-zombies: Uma Conferência.

“Quando comecei a escrever, percebi que a cada dia se tornava mais difícil a relação com o diferente: pessoas com outras crenças, outras línguas, outras cores, outros gostos, outras perspectivas. Ao mesmo tempo a situação política no Brasil se tornava cada vez mais precária: em breve viria o impeachment da presidenta Dilma, o golpe institucional e a vertiginosa desmontagem das poucas conquistas sociais conseguidas nas ultimas décadas. Os embates entre visões diferentes de mundo estavam cada vez mais inflamados, as reações mais violentas. Era como se todos estivessem com porretes nas mãos a procurar alguém para bater, um antagonista qualquer que não merecia nem respeito nem compaixão. Nenhuma possibilidade de acordo, apenas a destruição (mútua). Escrevi este texto numa espécie de febre, enquanto a televisão alimentava minha paranoia com figuras sinistras como Temer e Trump, terroristas e fascistas, robôs assassinos e mutantes contagiosos”, conta Cassal.

Com esse cenário, a ideia do apocalipse que vai engolir a todos (e destes monstros famintos e irracionais que devem ser destruídos para a humanidade sobreviver) pareceu para o autor uma imagem adequada para falar do Brasil e do mundo neste momento. De acordo com Alex Cassal, Mortos-Vivos – Uma Ex-Conferência é uma fantasia que é ao mesmo tempo absurda e próxima, que se constrói sobre o medo e a desconfiança, deixando uma sensação que há uma multidão à nossa volta prestes a atacar.

 

De filósofos a filmes de zumbis

Enquanto escrevia, Alex Cassal oscilava entre assistir filmes como O planeta dos macacos, A última esperança da Terra, tudo sobre zumbis (zumbis coreanos, franceses e cubanos; comédias, thrillers e dramas psicológicos contidos) e a obra completa de George Romero e Robert Kirkman (The Walking Dead). Ao mesmo tempo o autor foi lendo textos de Hannah Arendt, Peter Pál Pelbart, Judith Butler, Ailton Krenak e Slavoj Žižek, além de notícias de jornais, debates virtuais e artigos de opinião.

“A ideia de transpor o espetáculo em formato de conferência surgiu ao mesmo tempo do apocalipse zumbi. Eu imaginava este grupo de notáveis tentando lidar racionalmente com uma ameaça que estava prestes a engolir a todos, um grupo de especialistas que tenta agarrar-se a fiapos de civilização enquanto o mundo acaba lá fora. Algo entre o conselho de segurança da ONU e um seminário acadêmico. E que pudesse fazer esta ponte entre a fantasia mais descabelada e a realidade bruta que enfrentamos todos os dias”, explica ele.

Ficha Técnica
Texto – Alex Cassal
Direção – Renato Linhares
Elenco – Felipe Rocha/Fabio Osório, Lucas Canavarro, Renato Linhares e Stella Rabello/Wallace Ruy
Assistência de Direção – Fábio Osório Monteiro
Colaboração Artística – Marina Provenzzano e Tereza Alvarez
Direção de Produção – Tatiana Garcias
Produção Local – Náshara Silveira
Iluminação – Tomás Ribas
Cenografia – Estudio Chão – Adriano Carneiro de Mendonça e Antonio Pedro Coutinho
Figurinos – Antônio Medeiros e Guilherme Kato
Direção Musical – Domenico Lancellotti
Consultoria de Som – Leo Moreira
Desenho de Som – Francisco Slade
Caracterização – Rodrigo Bastos
Programação Visual – Lucas Canavarro
Fotos – Francisco Costa
Registro em Vídeo – Pedro Henrique Ferreira
Realização – Foguetes Maravilha

 

 

 

 

Mortos-Vivos – Uma Ex-Conferência
Com o Grupo Foguetes Maravilha
Sesc Belenzinho
Sala de Espetáculos I
Rua Padre Adelino, 1000 – Belenzinho (próximo à estação Belém do metrô)
Tel.: 2076-9700
Capacidade: 90 lugares
Duração: 80 minutos
Estreia: sexta-feira, 28 de setembro, às 21h30
Temporada: Até 27 de outubro
Sextas-feiras e sábados, às 21h30
Domingos, às 18h30
Ingressos:
R$ 30,00 (inteira)
R$ 15,00 (aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor da escola pública com comprovante)
R$ 9,00 (credencial plena do Sesc: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo credenciado no Sesc e dependentes)
Classificação: Não recomendado para menores de 12 anos.
Acesso para deficientes físicos
Bilheteria – De terça a sábado das 9 às 21h30 e domingos e feriados das 9 às 19h30 (ingressos à venda em todas as unidades do SESC)
Estacionamento: Para espetáculos com venda de ingressos após as 17h: R$ 15,00 (não matriculado) e R$ 7,50 (credencial plena no SESC – trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo/ usuário).

 

Foguetes Maravilha
Mortos-Vivos – Uma Ex-Conferência – nova realização dos Foguetes Maravilha – estreou no Festival Cena Brasil Internacional (RJ). A companhia já realizou as montagens Ele Precisa Começar, Ninguém Falou Que Seria Fácil e Síndrome de Chimpanzé. Em suas produções explora modos de estar em cena e de se relacionar com o público. Suas encenações borram os limites entre palco, plateia, ficção e realidade, e empilham camadas de significados, linguagens e procedimentos artísticos, criando um território híbrido e fluido. A Foguetes Maravilha busca por um teatro calcado na comunicação com os espectadores e na revelação dos mecanismos cênicos, convidando o público a questionar seu próprio papel no mundo.

 

Foto: Francisco Costa

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