Sesc Belenzinho apresenta a exposição Via Aérea

Até o dia 2 de dezembro, o Sesc Belenzinho abre para o público a temporada da exposição coletiva Via Aérea. Com curadoria de Marcio Harum, a mostra reúne trabalhos de 12 artistas visuais da cena contemporânea nacional e internacional. A temporada de visitação aberta ao público até o dia 2 de dezembro, com entrada franca…

 

 

 

 

 

A exposição traz um conjunto de obras, entre esculturas, instalação, filme, fotografias e vídeos em disposição aérea, que se relacionam com a arquitetura da unidade ao explorar o aspecto de leveza e as transparências. As criações se apresentam suspensas, flutuantes, içadas.

Algumas obras são inéditas, comissionadas especialmente para a exposição. Os artistas participantes são: Adrià Julià (espanhol, radicado na Noruega), Daniel Lie & Centro da Morte para xs VIVXS (São Paulo, SP), Distruktur (duo de brasileiros, radicados na Alemanha), Ernesto Neto (do Rio de Janeiro, RJ), Geraldo Zamproni (de Curitiba, PR), Isabel Caccia (de Córdoba, Argentina), Jarbas Lopes (de Nova Iguaçu, RJ), Letícia Ramos (gaúcha, radicada em São Paulo), Lucía Madriz (da Costa Rica, radicada na Alemanha), Merce Cunningham (EUA), Fancy Violence (personagem/alter ego do paulistano Rodolpho Parigi) e Sérgio Bonilha & Luciana Ohira (São Paulo, SP).

Entre os destaques da exposição, está RainForest (filme transferido para vídeo, de 1968), obra histórica do coreógrafo Cunningham que, segundo o curador Marcio Harum, apontou as várias direções e indagações presentes na origem dessa curadoria. “De uma maneira ou outra, esta é a obra gênese da seleção de trabalhos”, comenta. Destaque também para a instalação de Daniel Lie, artista que reverencia a zona leste de São Paulo nesta exposição; jovem que vem despontando com forte projeção internacional no campo das artes visuais.

Segundo Marcio Harum, Via Aérea propõe uma reflexão sobre temas atuais que estão em pauta na sociedade mundial. “Diversos assuntos prementes da vida contemporânea, e que mais parecem suspensos no ar sem a força de um debate público mais profundo, são abordados em seu espectro temático central. Entre eles, preconceito socioeconômico e racial, conhecimento ancestral na educação, escambos entre civis, esclarecimentos sobre o papel das ciclovias no urbanismo das grandes cidades, ambientalismo, conscientização alimentar e monopólio de sementes transgênicas, histórias de corpos livres e em movimento, memórias coletivas, afinidades afetivas das redes de micropoder e questões de gênero”, explica o curador.

Para a temporada, estão também programadas ações performáticas e atividades para crianças, jovens e adultos. As mesmas são voltadas para inclusão e acessibilidade, baseadas em práticas cidadãs, dialógicas e comunitárias. Estas atividades têm o apoio do programa educativo que foi desenvolvido para a mostra pelo Sesc Belenzinho.

“Muitas coisas estão em suspensão, em tempo de espera. Evocamos o tempo nesta mostra, pois todas as pautas são urgentes e as respostas permanecem no ar”. (Marcio Harum)

 

 

 

 

Exposição: Via Aérea
Curadoria: Marcio Harum
Sesc Belenzinho
Rua Padre Adelino, 1000 – Belenzinho
Tel.: 2076-9700
Visitação: até 2 de dezembro de 2018
Terça a sábado, das 10h às 21h
Domingos e feriados, das 10h às 19h30
Agendamento de visitas educativas: (11) 2076-9704 (das 10h às 17h) ou agendamento@belenzinho.sescsp.org.br

 

As Obras / Os Artistas

 

Adrià Julià
Captura do Real – Fotografias / negativos (2018) – Em estúdio fotográfico o artista produziu uma série de fotografias analógicas em diferentes formatos. Utilizou papel fotográfico vencido das marcas Kodak e Fuji. O papel fotográfico destas empresas – ambas diminuíram drasticamente a industrialização desse papel devido a atual digitalização da imagem – remetem à época em que a cédula de R$1,00 era válida e ainda circulava em território nacional. Esse material, que existia até há pouco tempo em caixas de 10 negativos, não é mais produzido, e o fato de haver passado do prazo de validade oferece resultados inesperados. Basicamente, o que é representada é a queda do real num espaço abstrato. A experiência é exibida a partir de uma caixa de negativos Fuji emoldurados e suspensos na captura da imagem da cédula monetário de R$1,00, que se encontra pairando no ar.

Beija flor – Vídeo (2018)- Esse trabalho, comissionado também para a exposição, exibe um forte caráter escultórico que utiliza um tecido preto fixado contra a parede para a projeção de um gif acerca do voo suspenso de um beija-flor; ave que tinha sua imagem estampada na cédula de R$1,00, que não mais circula, pois foi trocada por moedas de mesmo valor. Com instalações, cinema, vídeo, fotografia e publicações,

 

Daniel Lie & Centro da Morte para xs VIVXS
Leste a Leste – Instalação e performance (2018) – Inspirado em um novo sentido que o artista de São Paulo, Daniel Lie (São Paulo, 1988), e suas convidadas da mesma cidade trazem sobre a zona leste para o campo da arte, o artista revolve a memória de seus habitantes e a noção geográfica do preconceito como se esta fosse uma tecnologia social perversa, que molda os desejos e as escolhas afetivas, impedindo que uma série de relações espontâneas aconteçam. A instalação site-specific é suspensa e faz surgir palavras e frases em faixas com escritos vazados – letras recortadas ou esvaziadas sobre tecido, como um grande stencil, deixando a luz da parede externa de vidro transpassá-la. Junto a isso, imagens ampliadas de um arquivo pessoal familiar e impressas sobre tecido completam a obra, que envolve arranjos grandiosos de flores e plantas em estruturas diagonais e horizontais. Houve duas edições anteriores deste projeto investigativo. Como pesquisa artística, o projeto está em andamento, desde julho de 2016, e teve sua primeira apresentação como desenho de ideia em fevereiro de 2017, em Teresina (PI), no Espaço Campo. Uma segunda versão foi desenvolvida em maio de 2017, em Viena, na Áustria, durante a programação do Performeum. Este trabalho inédito, pensado especialmente para a ocasião, contou com colaboração e fotografias de Anerina da Costa, criação técnica de Arte Técnica, poesias por Carmen Garcia, coordenação de projeto por Daniel Lie e performance por Jup do Bairro. Esta nova criação e montagem do projeto ocorrerá apenas desta vez e não será reapresentada.

 

Distruktur
Colcha de Retalhos – Objeto (2014) / Imateriais – Instalação (2010-2018) – O duo de artistas brasileiros radicados em Berlim, desde 2006, Melissa Dullius (Porto Alegre, 1981) e Gustavo Jahn (Florianópolis, 1980), apresentam uma peça costurada a mão a partir de centenas de fragmentos têxteis que constroem sua memória afetiva ao longo dos anos em que vivem na Alemanha. São pedaços de camisetas, lençóis, almofadas, panos de prato, sacolas de pano, que formam um patchwork caleidoscópico e atemporal. Em comunhão à peça, um carrossel de slides dispara imagens alternadas, selecionadas randomicamente destes momentos testemunhados e compartilhados no cotidiano de trabalho, geradas pelos dois artistas.

 

Ernesto Neto
Entre o Céu e a Terra Estamos Nós (Omaê) – Escultura (2017) – Para Ernesto Neto, a manifestação do sagrado acontece em estados meditativos através de profunda relação com a natureza. Tanto o tecido que se entrelaça para formar a trama do crochê quanto as cores usadas pelo artista evocam esta relação. Entre o Céu e a Terra Estamos Nós (Omaê) convida os visitantes a sentarem-se em um banco de madeira e colocarem a obra na cabeça, criando uma conexão com ela e, em sentido mais amplo, com o próprio sagrado.

Seu trabalho é bastante reconhecido por situar-se entre a escultura e a instalação, e pela experimentação com diversos materiais. Utiliza-se de materiais como meias de poliamida, entre outros (maleáveis e do cotidiano). Realiza esculturas de malha fina e translúcida, preenchidas com especiarias e ervas de diferentes cores e aromas. As formas se assemelham à pele e se moldam organicamente ao espaço. Ernesto Neto passou a produzir “naves”, estruturas têxteis e transparentes nas quais o público penetra.

 

Fancy Violence
Fancy Violence em Catwalk – Vídeoinstalação, Site-especific (2108) – Videoinstalação em que o movimento de caminhar da persona artística Fancy Violence é posto em observação pelo público, a partir de ângulos inusitados, como se a figura humana dela pudesse, por efeitos ópticos especiais, andar verticalmente sobre as paredes. A persona Fancy, quando por Rodolfo Parigi, já causou uma grande repercussão. Devido a seu apelo e impacto, e por haver sido elaborado tamanho engenho tecnológico, aparece aqui como obra comissionada especialmente para a mostra Via Aérea. Em 2013, a personagem Fancy Violence se materializou em uma performance no Pivô, em São Paulo, e desde então vem se apresentando em algumas instituições artísticas. Além de aparições em performances, manifesta-se como uma importante presença encarnada no conjunto da obra de seu criador, o artista Rodolpho Parigi.

 

Geraldo Zamproni
Modus Vivendi – Escultura (2018) – Esse trabalho de Geraldo Zamproni lida com a noção de extremos opostos aos quais estamos sujeitos a cada momento: o leve e o pesado, o caro e o barato, o prático e o inútil. Como monstros fora do abrigo, pendem do teto elementos que aparentam estruturas robustas e imponentes, mas que para nada servem. A viga de compensado não pode sustentar nada; os vergalhões são de reina, mas parecem ser de concreto e não serão engate para nenhuma construção.

 

Isabel Caccia
Projeto Can-Can – Intervenção performática + instalação (2002-2018) – Isabel Caccia, artista argentina, propõe o escambo e o reaproveitamento de meias finas femininas (que podem ser desfiadas ou rasgadas) por uma sessão de unhas pintadas. O projeto sinaliza possibilidades para mecanismos poéticos de reciclagem, mas também materializáveis. De sua larga experiência em diversos países com a ação, vem reafirmar aqui o lugar de encontro num espaço tipicamente feminino, sendo aberto a todxs. Os momentos da ação acontecem em áreas de descanso e convivência do Sesc Belezninho, convidando o público interessado a interagir com a obra e a conversar com a artista. A instalação do material em áreas externas da unidade causa uma estranha e bela sensação, uma vez que malhas iluminadas, como se fossem redes de teias de aranha, estão conectadas e esticadas por entre as árvores.

 

Jarbas Lopes
Trecho Experimental Móvel da Cicloviaérea – Instalação (2008-2018)– A obra projeta uma outra aventura para as possibilidades de suas prévias construções das ciclovia aéreas, estendendo à via o sentido de um grande território da natureza, e que corre risco de desaparição se não for preservada. A técnica concebe um equipamento que possibilite a construção da pista, atravessando florestas, sem derrubar sequer uma árvore. Na construção, a parte do primeiro plano elevado servirá de apoio para que a pista se alongue sobre si mesma. Será distribuído ao público um fanzine com ilustrações do próprio artista, especialmente desenvolvido para a ocasião. A vinda de um ônibus também está prevista como ação comunitária, colaborativa e participativa, pois trata-se de uma propositura produzida do próprio artista Jarbas Lopes.

 

Letícia Ramos
Grão – Frame – Filme 16mm transferido para vídeo (2016) – O filme conta a história de uma colônia humana em um planeta incógnito onde um antigo silo de cereais foi implantado. Eventos naturais e mudanças climáticas fazem com que o silo se rompa e dê início a uma estranha plantação.

Paisagem #1 / Paisagem #2 – Microfilme impresso sobre papel de algodão (2014) – O registro em microfilme, material e técnica utilizados rotineiramente para reprodução e arquivamento de documentos, fez com que a artista apresentasse resultados fotográficos de representação de uma paisagem atemporal, como se fosse um ambiente abandonado pelo homem, e que a natureza se encarregou de reconquistar. Materializa-se na forma de polaroides de ampliações panorâmicas.

Seu foco de investigação artística é a criação de aparatos fotográficos próprios para a captação e reconstrução do movimento, e sua apresentação se materializa nas mídias: vídeo, fotografia e instalação. Com especial interesse pela ciência da ficção, em suas séries como ERBF, Bitácora e Vostok, desenvolve complexos romances geográficos. O acaso, a experimentação com o fotográfico e o processo artístico são as direções de seu trabalho.

 

Lucía Madriz
Dinner Party – Escultura (2108) – A escultura instalada de Lucía Madriz trata criticamente do acesso a alimentos de boa qualidade que está se tornando cada vez mais um privilégio sócio-econômico. A comida orgânica é cara e, muitas vezes, é vendida como delicatessen. Enquanto isso, alimentos nutritivos tradicionais são deixados para trás, dando lugar a junkfood e fastfood que estão se tornando parte importante da dieta das pessoas em todo o mundo. A artista apresenta um enorme lustre feito com correntes de feijão preto. A artista trabalha com instalação, vídeo, pintura e desenho. Seu interesse central é descobrir como os seres humanos se conectam com a natureza; preocupa-se em como percebemos e nos afetam os assuntos ambientais. Para Lucía é importante evidenciar que a construção dessa abstração chamada de mundo se inicia com nossos próprios hábitos e atitudes.

 

Luciana Ohira e Sérgio Bonilha
Hipótese Imanente – Escultura (2014) – Hipótese Imanente consiste em um fio de cobre esmaltado, ímãs e parafusos que ligam o cimo à base, numa linha interrompida visualmente, mas que não está interrompida fisicamente pelo fenômeno. Se o alto pende do teto, o baixo levita por força invisível exatamente por estar preso ao chão.

Hipótese Volátil – Vídeo (2018) – Um drible encontrado acidentalmente no atual estágio de “desenvolvimento” capitalista, que evita deixar que se pense um pouco melhor sobre /naquilo que fazemos. Os artistas resumem o projeto a uma instalação que reúne os vestígios do lançamento de um aeromodelo F1D no local de exposição. O próprio aeromodelo, um estojo de transporte e o vídeo de registro do seu lento voo que nos traz a sensação de desaceleração do entorno. Movimento que mais parece flutuação ou slow motion é um singelo enfrentamento da constante solicitação por performance; um “preferiria não” ao modo de Bartleby, é o gesto crítico mencionado por Ohira e Bonilha.

 

Merce Cunningham
RainForest – Filme transferido para vídeo (1968) – Esta é a obra histórica da mostra Via Aérea, e como tal, apontou a várias direções e indagações presentes no lugar de origem da curadoria. De uma maneira ou outra, esta é a obra gênese desta seleção de trabaljhos de arte. O título RainForest surgiu das memórias de infância de Merce Cunningham no noroeste da região onde fica a floresta da Península Olympica, no estado de Washington. RainForest difere de outras peças de Cunningham, pois com exceção dele mesmo, cada um dos seis dançarinos desempenhava seu papel, e depois deixavam o palco, e não mais retornavam. Andy Warhol concordou que Cunningham usasse sua instalação SilverClouds – uma série de travesseiros mylar cheios de gás hélio para que flutuassem livremente no ar. Os dançarinos usaram calças e collants cor de carne que Jasper Johns (não creditado) cortou com uma lâmina de barbear, para dar aos trajes uma aparência áspera. A música é de David Tudor e evoca o chilrear e cantarolar dos pássaros e pequenos animais da floresta.

 

Foto obra Grão-Frame de Letícia Ramos: Divulgação

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