Companhia da Memória investiga as estruturas de poder em Réquiem Para o Desejo no Sesc Ipiranga

A Companhia da Memória cria uma leitura contemporânea para o clássico Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams (1911-1983), em Réquiem Para o Desejo, com dramaturgia de Alexandre Dal Farra e direção de Ruy Cortez. A peça estreia no dia 5 de outubro, no Sesc Ipiranga, onde segue em cartaz até 4 de novembro, com sessões às sextas e aos sábados e aos domingos…

 

 

 

 

Essa releitura livre inverte completamente os papéis desempenhados pelos personagens no clássico norte-americano. Stella torna-se uma mulher extremamente dominadora que tortura constantemente sua irmã Blanche. Para isso, Stella conta com a ajuda de seu fracassado marido Stanley e do macho forte e dominador Mitch, pretendente da irmã.

“A inversão é uma forma de repensar algumas dessas figuras, como o proletário másculo. Acho que há um declínio dessa figura, no entanto, a estrutura que dá sustentação para ela ainda não se desfez na sociedade, de maneira que ele simplesmente se vê incapacitado de encontrar outro caminho para encaminhar os seus desejos. Stella tampouco consegue lidar com tal situação. Blanche se introduz nesse ambiente menos estável do que o original. No entanto, as alterações e a instabilidade, longe de gerar possibilidade de mudança, tendem a tornar as relações ainda mais estagnadas”, conta o dramaturgo Alexandre Dal Farra.

Em um cenário de terra arrasada, essas figuras buscam maneiras de estruturar as suas relações, que quase sempre resultam em explosões e choques irracionais e sem explicação. A ideia é lançar um olhar negativo para as figuras e situações criadas por Williams para investigar onde e como se instauram as diversas relações de poder, controle e repressão em uma estrutura social contemporânea.

Com uma narrativa polifônica – que mostra o ponto de vista aprofundado dos personagens, a encenação toma como eixos temáticos principais as culturas do patriarcado (do machismo), do capitalismo (neoliberalismo), da misoginia, do racismo, do colonialismo (neocolonialismo), do sucesso (reconhecimento, espetáculo, celebridade, competição e meritocracia) e da violência. “Creio que o espetáculo trate de um desejo que não encontra mais caminhos para ter vida, porque os caminhos de que se alimenta são autoritários e ele não consegue se estruturar de forma diversa com tanta facilidade”, revela Dal Farra.

Para fazer essa crítica à sociedade capitalista contemporânea, a encenação adota como referências os conceitos da graça e do destino trágico presentes nas obras do cineasta dinamarquês Lars von Tier (sobretudo em Ondas do Destino); e a manifestação da ideologia fascista e da violência contemporânea presentes nos filmes do diretor alemão Michael Haneke (em A Fita Branca e Violência Gratuita).

Assim como a obra original, a encenação parte de uma sobreposição de tempos-espaços narrativos: a casa branca – aristocrática, burguesa e latino-americana -, que é representada pela releitura de Alexandre Dal Farra; e a casa negra – presente na peça de Williams nas imagens do cabaré onde ecoa o piano blues e na residência da vizinha negra. Este segundo plano não ficcional é composto por uma intervenção poética e musical das cantoras/atrizes convidadas Roberta Estrela D’Alva (em vídeo) e Denise Assunção.

“Pareceu-me fundamental abrir essa questão por meio do estudo das feministas negras e do filósofo camaronês Achille Mbembe, além da peça A Serpente, de Nelson Rodrigues, que fala da realidade brasileira. A Roberta fará uma intervenção poética em vídeo a partir do spoken word, sobre a presença do domínio da opressão dos corpos dentro da estrutura político-social humana. E a Denise vai cantar um repertório surpresa de canções piano blues, nas quais ressoam cantos negros de trabalho, de opressão, de dominação, de amor, de morte e de desejo”, revela o diretor Ruy Cortez.

O espetáculo é a terceira parte da Pentalogia do Feminino, um conjunto de peças concebidas por Ondina Clais e Ruy Cortez, sobre temas autônomos vistos sob a perspectiva do feminino.

Ficha Técnica
Dramaturgia: Alexandre Dal Farra
Concepção, dramaturgismo e encenação: Ruy Cortez
Elenco: Gilda Nomacce (Blanche), Jorge Emil (Stanley), Marcos Suchara (Mitch) e Ondina Clais (Stella). Participação especial: Denise Assunção
Intervenção poética (dramaturgia de samples): Roberta Estrela D’Alva Poema “Eu tão blues”: Claudia Schapira Preparação de atores: Marina Tenório
Direção de produção: Danielle Cabral
Produção executiva: Jessica Rodrigues e Victória Martinez
Cenografia: André Cortez e Carol Bucek
Figurino: Fabio Namatame
Iluminação: Fábio Retti
Trilha original, piano e música incidental: Tomaz Vital
Sonoplastia: Aline Meyer
Vídeos: Aline Belfort e Haroldo Saboia
Mapping: Mary Gatis
Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli
Fotografia: Edson Kumasaka
Assistente pré-produção: Felipe Samurano
Idealização: Companhia da Memória
Produção Geral: DCARTE
Produção de operações: Contorno Produções
Administração: Exedra Assessoria

 

 

 

Réquiem Para o Desejo
Sesc Ipiranga
Teatro
Rua Bom Pastor, 822 – Ipiranga
Informações: (11) 3170-4059
Capacidade: 198 lugares
Duração: 90 minutos
Estreia dia 5 de outubro
Temporada: De 05 de outubro a 4 de novembro
Sextas e sábados, às 21h
Domingos e feriados, às 18h
Não haverá espetáculo no dia 7 de outubro
Haverá sessão na quinta-feira, 01 de novembro, às 21h
Ingressos:
R$ 30,00 (inteira)
R$ 15,00 (meia-entrada)
R$ 8,00 (credencial plena)
Classificação: 16 anos
Horário de Funcionamento: Terça a sexta, das 7h às 21h30; aos sábados, das 10h às 21h30; domingos e feriados, das 10h às 18h30.

 

Cia da Memória
Fundada em 2007, tem direção artística de Ruy Cortez, Ondina Clais e Marina Nogaeva Tenório. Em suas três obras iniciais a Companhia dedicou-se ao estudo da linhagem patrilinear explorada em Rosa de Vidro, Nome do Pai e nos três espetáculos que compunham Karamázov. Em 2016 Ondina Clais e Ruy Cortez concebem a Pentalogia do feminino, um conjunto de cinco obras que desdobram temas autônomos, vistos sob a perspectiva do feminino. A partir desse ano, a Cia. se debruça sobre a linhagem matrilinear.

Fotos: Edson Kumasaka

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