Mutatis – Escola Livre de Atuação apresenta “¡Disjecta!”

Acontecem nos dias 28 e 29 de novembro às 20h, quarta e quintas-feira, no Auditório da Livraria Cultura do Bourbon Shopping, onde também são ministradas as aulas, em apresentações totalmente gratuitas do espetáculo inédito “¡Disjecta!”, a partir dos estudos deste grupo de atores e de textos esparsos de Samuel Beckett, com direção de Sérgio Salvia Coelho, que encabeça o projeto ao lado da sócia e diretora pedagógica da Escola Mutatis, a atriz, diretora, coach de atores e professora Julia Carrera que além de uma das idealizadoras do trabalho, também conduziu os estudos da técnica Meisner…

 

 

 

¡Disjecta!
(metafísica tragicômica beckettiana)

Exercício: dois atores em cena reafirmam a mesma frase obsessivamente, presos no aqui-agora, até que a realidade mude. Foi através da experimentação com alunos desta técnica de Sanford Meisner (o discípulo de Stanislavski que buscava “viver verdadeiramente sob circunstâncias imaginárias”) que nos demos conta que este era o princípio fundamental da dramaturgia de Beckett, desarmando assim sua complexidade.

“À minha frente o pior/até que faça rir” escreveu ele em um poema, explicitando sua arte poética: uma situação humana crua, quase metafísica, expondo o grotesco cotidiano. De sua prosa fluida, de fonte joyciana, passou a escrever peças de teatro cada vez mais curtas, repetindo e rearranjando as mesmas imagens, como os fragmentos de vidro do caleidoscópio.

¡Disjecta! (termo técnico para “fragmentos esparsos”, também título de uma antologia póstuma de Beckett) é uma tentativa de montagem dessas visões, de modo não cronológico mas indo do ato sem palavras até as palavras sem ato – ou seja: “Quad”, “Catástrofe”, “Ato sem Palavras II”, “Esperando Godot”, “Eu Não” e um fragmento do poema em prosa “Worstward Ho”.

Segundo o diretor Sérgio Salvia Coelho, o desafio aqui é dar conta do mais abstrato e alusivo sem perder a “vivência verdadeira”, a fatia sangrenta do cotidiano servida no prato, à nossa frente. Em tempos sombrios, em que a vinda de Godot parece mais distante do que nunca, a sobrevivência no grotesco se faz indispensável.
Processo De Criação
O grupo de estudos composto pelos atores Bella Fazzani, Felipe Faria, Gillian Villa, Luana Franciulli, Tais Rinco e Victor Canella de Melo estudou as conexões entre a técnica de Sanford Meisner e a dramaturgia de Samuel Beckett, construindo uma encenação a partir dessas experiências.

As peças curtas de Samuel Beckett, segunda fase do seu teatro, são sem diálogos e quase totalmente abstratas, o que exige uma performance específica do ator. Não há nelas subtexto, gênesis de personagem, objetivo individual nem superobjetivo, ou seja, o método de Stanislavsky não nos ajuda muito aqui. Segundo recomendação do autor, o ator deve seguir à risca a rubrica: “ações concretas, simples e exatas”, sem cair por outro lado no intelectualismo hermético. Não sutileza, mas simplicidade.

O que não significa também um jogo mecânico e vazio por parte do ator. Para instigar o público a construir um sentido, ele deve viver plenamente a situação cênica indicada, e expressar isso minuciosamente, a partir dos ritmos, das repetições, da imobilidade e do silêncio, como se interpretasse uma partitura musical. Apropriando-se desse universo, ele estará apto para um paradigma do teatro contemporâneo: a tragédia do nada, associada à ironia do grotesco. Como um maestro da falha, Beckett compartilha alucinações essenciais ao ser humano.

Estes encontros propunham a utilização da técnica de Meisner como um instrumento para esse desafio. Sanford Meisner, ator e diretor americano do século XX, desenvolveu uma metodologia própria, a partir do Sistema Stanislavski, enfatizando os impulsos do ator no sentido de viver em cena (ao invés de atuar), através da realidade do fazer e da conexão imediata com o outro ator. Através de exercícios de escuta e repetição, e cenas com base na improvisação a partir de ações e interações concretas entre os atores, Meisner procura levá-los a “viver verdadeiramente sob circunstâncias imaginárias”.

A aposta do grupo de estudos práticos foi, portanto, investigar as conexões entre a técnica Meisner e a dramaturgia de Beckett, construindo uma encenação a partir dessas experiências.

 

Quem Está Por Trás Desta Iniciativa

A Mutatis
Escola Livre de Atuação, que oferece cursos livres e regulares de atuação para o público em geral e variadas faixas etárias, promoveu em setembro a formação de um grupo de estudos voltado exclusivamente a atores, conduzido pelo professor e diretor Sérgio Salvia Coelho em parceria com Julia Carrera, atriz, diretora, coach de atores, professora e diretora da Escola Mutatis.

Lançada há pouco mais de um ano pelas sócias e diretoras Julia Carrera e Renata Pina, a escola iniciou seus cursos regulares em agosto de 2017 através de uma parceria inédita com a rede de Livrarias Cultura, promovendo a ocupação de seus teatros e auditórios, expandindo suas atividades em 2018 também para o Teatro Morumbi Shopping e a outros espaços a partir de 2019.

“Nosso objetivo é realizar cada vez mais encontros como este, que é o primeiro promovido pela Mutatis; sempre incentivando o intercâmbio de conhecimentos, o aprofundamento em técnicas teatrais e autores específicos, gerando também a oportunidade de os atores levarem à cena o resultado de suas investigações.”, destaca Julia Carrera.

 

Julia Carrera
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da UNIRIO, Mestre em Artes da Cena pela Escola de Comunicação da UFRJ, cria do Teatro O Tablado, Julia Carrera é atriz, diretora, professora e produtora cultural há 21 anos. Entre suas principais produções destacam-se “Renato Russo”, direção de Mauro Mendonça Filho (2006 a 2010) e “Os Náufrafos do Louca Esperança”, com o Théâtre du Soleil e direção de Ariane Mnouchkine. Entre seus últimos projetos estão a administração do Teatro Tablado (2014 a 2017) e a implementação, coordenação e direção pedagógica da Casa Aguinaldo Silva (Petrópolis) e da Escola de Atuação Aguinaldo Silva (R io de Janeiro). Atualmente Julia está à frente da sua própria escola, a Mutatis – Escola Livre de Atuação

 

Sérgio Salvia Coelho
Formado pela ECA/USP em Direção Teatral, com mestrado em Dramaturgia, Sérgio Salvia Coelho foi professor de montagem e teoria em importantes cursos de teatro de São Paulo (Macunaíma, INDAC, Célia Helena, Beto Silveira) assim como na Universidade Anhembi-Morumbi (cursos de Teatro, de Cinema e de Televisão). Foi dramaturgista de Antunes Filho e Gerald Thomas, dirigiu recentemente Entre Quatro Paredes de Sartre e é o autor de um texto dirigido por Márcio Aurélio (Só, Ifigênia, sem teu Pai). Foi crítico de teatro da Folha de S.Paulo entre 2001 e 2008.

Ficha Técnica
Elenco: Bella Fazzani, Felipe Faria, Gillian Villa, Luana Franciulli, Tais Rinco e Victor Canella de Melo.
Direção: Sérgio Salvia Coelho
Figurinos: criação coletiva
Estudos da Técnica Meisner: Julia Carrera
Idealização: Julia Carrera e Sérgio Salvia Coelho
Realização: RDP Cultural / Escola Mutatis

 

 

 

“¡Disjecta!”
Auditório da Livraria Cultura
Bourbon Shopping
Rua Palestra Itália, 500, último andar – Perdizes
Capacidade: 129 lugares
Duração: 1h15
Quarta-feira, 28 de novembro, às 20h
Quinta-feira, 29 de novembro, às 20h
Ingressos: Gratuitos
Retirada dos ingressos a partir de uma hora antes das apresentações, sujeitos a lotação, na entrada do Auditório da Livraria Cultura do Bourbon Shopping,
Classificação Indicativa: 14 anos

 

Foto: Luis Pablo Trentin Mack

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