Solo Medea Mina Jeje aproxima tragédia grega da memória escravocrata do Brasil e apresenta-se em vários locais em São Paulo…
Entrelaçando o clássico Medeia de Eurípedes e a escravidão no Brasil, o solo Medea Mina Jeje faz circulação por vários locais da cidade de São Paulo com a contemplação da 7ª. edição do Prêmio Zé Renato. A montagem é dirigida por Juliana Monteiro com dramaturgia de Rudinei Borges e atuação de Kenan Bernades. As apresentações acontecem nos seguintes lugares: Centro Cultural Da Penha (12 e 13 de janeiro), Teatro Arthur Azevedo (De 18 de janeiro a 17 de fevereiro), Centro Cultural Vila Formosa (De 22 a 24 de fevereiro), Centro Cultural Olido (De 1 a 3 de março) e Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes (16 e 17 de março). As apresentações contam com entrada gratuita.
O espetáculo, um poema cênico no qual Medea, uma mulher negra escravizada na Vila Rica de Nossa Senhora de Pilar de de Ouro Preto, nas Minas Gerais do século XVIII, narra o sacrifício de seu filho Age, é uma releitura do clássico Medeia de Eurípedes.
A dramaturgia de Rudinei Borges é constituída a partir da fricção entre a narrativa polissêmica da Medea negra da Mina Jeje e a leitura da clássica tragédia datada de 431 a.C. Na peça de Eurípedes, a protagonista mata os próprios filhos para se vingar do abandono de Jasão, por quem havia renunciado à própria família e à terra natal.
Em oposição à heroína trágica, em Medea Mina Jeje, a escravizada Medea vê na morte do filho a única libertação possível do sofrimento causado pelo trabalho escravo nas minas de ouro que moveram a economia brasileira colonial durante séculos.
“Medea Mina Jeje é a voz de quem grita, em sussurro, sendo portadora duma confiança sui generis e percepção, mesmo intuitiva, da condição de opressão em que vive. Ela é portadora de uma busca pela liberdade, ainda que a saída para chegar a isso seja o sacrifício do filho”, afirma o dramaturgo Rudinei Borges.
“O espetáculo nasceu do desejo de conversar com a minha ancestralidade, de abrir os ouvidos para as vozes de indivíduos livres que foram trazidos para o Brasil como escravos e dar voz aos meus mortos”, afirma o intérprete Kenan Bernardes, também idealizador e produtor geral da peça. “Encontrei na tragédia de Eurípedes e na obra homônima do cineasta italiano Pasolini, o fio disparador que deu origem a esta Medea. Foram quase dois anos de pesquisa e processo que agora oferto ao público como quem deseja entregar um presente a alguém muito estimado.”
Para a diretora Juliana Monteiro, a relação entre as obras reverberou em todos os envolvidos no projeto. “A aproximação com determinados aspectos da jornada de Medeia de Eurípedes permitiu aos artistas deste espetáculo traçar uma analogia com sua própria trajetória, o encontro com desejos de reelaborar os próprios caminhos no teatro”, relata.
Mina Jeje
A mina em Ouro Preto (MG), que dá nome ao espetáculo, hoje é uma atração turística. No entanto, é mais do que isso: cicatriz da escravidão que perdurou no Brasil por mais de três séculos e trouxe consequências visíveis até hoje nas mais diversas camadas sociais do país, sobretudo para a população negra.
Muitos escravizados trabalharam nas minas na extração de minérios em Minas Gerais, um dos estados com maior concentração de negros no século XVIII. As condições de trabalho eram extremamente precárias e provocaram a morte de incontáveis vidas naquele período.
Atividades Formativas
Além da apresentação do espetáculo Medea Mina Jeje, o projeto realiza uma ação formativa intitulada Diálogos Trágicos – Memórias Ancestrais E Identidades Afrodiaspóricas: Diálogos Atemporais.
Em algumas das sessões, a educadora e pesquisadora do Centro de Estudos Culturais Africanos e da Diáspora da PUC/SP, Liliane Braga, media conversa com o público em torno a reflexões provocadas pelo espetáculo.
Performances negras presentes em celebrações e rituais têm sido historicamente inferiorizadas por sistema educacional e midiático eurocêntrico, que impõem como padrão manifestações culturais pautadas em forma letrada de conhecimento. Tal sistema cria hierarquizações – como o “erudito” e o “popular”; o “mainstream” e o “underground”.
Este diálogo intenciona desnaturalizar ideias que inferiorizam o saber-fazer africano e afro-brasileiro, realizado na injunção entre mente, corpos e sentidos, aproximando-se à experiência sensorial provocada pelo teatro.
Essa ação acontecerá sempre 10 minutos após a apresentação das seguintes sessões:
Janeiro: 12 (Centro Cultural Da Penha); 18 e 27 (Teatro Municipal Arthur Azevedo);
Fevereiro: 01, 03, 08, 10 e 15 (Teatro Municipal Arthur Azevedo); 22 e 24 (Centro Cultural Vila Formosa);
Março: 01 (Centro Cultural Olido) e 17 (Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes).
Ficha Técnica
Concepção, Atuação e Produção Geral: Kenan Bernardes
Dramaturgia e Pesquisa Teórica: Rudinei Borges
Direção, Espaço Cênico e Direção de Movimento: Juliana Monteiro
Luz: Wagner Antônio
Assistente de iluminação: Douglas de Amorim
Operador de Luz: Vinícius Andrade
Desenho de som e difusão sonora: João Paulo Nascimento
Operador de som: Max Huszar
Figurino e Visagismo: Carol Badra
Desenho de Canto e Provocação em Ação Vocal: Maria Cordélia
Provocação Corporal: Luciana Lyra
Orientação na Pesquisa Teórica: Salloma Salomão
Artista Gráfico: Murilo Thaveira
Fotos: Julieta Bacchin
Vídeo: Bruta Flor Filmes
Assessoria de Imprensa e Redes Sociais: Renato Fernandes
Medea Mina Jeje
Duração: 40 minutos
Classificação: 12 anos
Grátis
Centro Cultural da Penha
Largo do Rosário, 20 – Penha de Franca
Tel.: (11) 2295-0401
Sábado, 12 de janeiro, às 20h
Domingo, 13 de janeiro, às 19h
Teatro Municipal Arthur Azevedo
Av. Paes de Barros, 955 – Mooca
Tel.: (11) 2605-8007
Temporada: de 18 de janeiro a 17 de fevereiro
Sexta e sábado, às 21h
Domingo, às 19h
Centro Cultural Vila Formosa
Av. Renata, 163 – Chácara Belenzinho
Tel.: (11) 2216-1520
Sexta-feira, 22 de fevereiro, às 20h
Sábado, 23 de fevereiro, às 20h
Domingo, 24 de fevereiro, às 19h
Centro cultural Olido
Sala Paissandu
Av. São João, 473 – Centro, São Paulo.
Tel.: (11) 2899-7370
Sexta-feira, 01 de março, às 20h
Sábado, 02 de março, às 20h
Domingo, 03 de março, às 19h
Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes
Rua Inácio Monteiro, 6900 – Conj. Hab. Sitio Conceição
Tel.: (11) 3343-8900
Sábado, 16 de março, às 20h
Domingo, 17 de março, às 19h
Foto: Julieta Bachin
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