Em cartaz no Teatro do SESI – Av. Paulista, espetáculo Meu Quintal é Maior do que o Mundo, interpretado pela atriz Cássia Kis, terá sessões extras nos dias 21, 22, 23 e 24 de fevereiro, quinta a sábado, 20 horas e domingo…
Conhecedora da obra de Manoel de Barros (1916-2014), a atriz Cássia Kis se considera uma excelente leitora do poeta e escritor mato-grossense. Tem uma relação não só com a obra, mas com o próprio, com quem passou anos se correspondendo e chegou a conviver proximamente, tornando-se amiga. Tudo começou no início dos anos 1980, quando descobriu sua poesia.
É parte da obra do autor que Cássia Kis escolheu para marcar sua volta aos palcos depois de 10 anos, ao lado do diretor Ulysses Cruz, parceiro de 40 anos e com quem divide, ainda, a estruturação do roteiro. Para executar a música ao vivo em cena também está Gilberto Rodrigues, responsável pela direção e criação musical. A peça Meu Quintal é Maior do que o Mundo estreou em São Paulo e pretende circular por diversas partes do País.
A temporada na Capital Paulista inclui 14 apresentações, de 31 de janeiro a 24 de fevereiro no Teatro Sesi-SP, com sessões às sextas e sábados, às 20 horas, e domingo, às 19 horas, sempre de graça. A produção está a cargo de Gustavo Nunes, diretor da Turbilhão de Ideias Entretenimento, que possui relação de anos de amizade com Cássia Kis e Ulysses Cruz, o que motivou a união para criar este projeto. A Turbilhão de Ideias, apesar de estar sediada no Rio de Janeiro, circula com seus espetáculos por todos os Estados do país. Dentre suas produções, destacam-se Perfume de Mulher, a mais recente, e Cássia Eller, o Musical.
Projeto pessoal, idealizado por Cássia Kis e concebido a partir do livro Memórias Inventadas, não se trata de um sarau ou declamação de poemas e sim uma encenação dramatúrgica. Não se configura como um espetáculo na estrita concepção do termo, mas de uma peça de teatro, por sua característica mais intimista. A relevância da montagem se dá tanto pela ligação da atriz com Manoel de Barros como pela década longe do teatro (sua última peça foi O Zoológico de Vidro, de 2009).
Sonho recorrente
Para realizar o antigo sonho da atriz, que acalenta o desejo de criar uma versão para o palco da obra de Manoel de Barros há quatro décadas – o parceiro constante Ulysses Cruz decidiu rever estudos iniciais desenvolvidos por Cássia e Jayme Compri (que integrava o grupo do diretor, Boi Voador, e o próprio Ulysses indicara), para a construção de possíveis cenas. Sabendo da paixão da atriz pelo escritor e, testemunhando sua determinação em finalmente dar corpo ao projeto, Ulysses aceitou encarar o desafio.
“Quando Cássia retomou o projeto da peça, história recorrente em sua vida, eu gelei. Ao perceber sua determinação e o risco dela montar o trabalho com qualquer outra pessoa, eu – que tenho um prazer absoluto em trabalhar com ela, sua qualidade como atriz é superlativa – topei na hora”.
A sacada de Ulysses ao ler o livro Memórias Inventadas foi perceber que todos os textos continham uma historinha, um enredo. “De cara, entendi que não dava para fazer o livro todo, pela quantidade de textos e o risco da fragmentação em pequenas histórias, que geraria dificuldade de compreensão. Fiquei, então, com a batata quente na mão de escolher, entre tantos, os textos poéticos mais significativos”, comenta, ressaltando que “teatro tem de ser vibrante, gerar faísca”.
Para o ponto de partida na concepção da encenação, Ulysses recorreu à memória, lembrou dos tempos em que dava aulas de teatro, quando usava o livro Improvisação para o Teatro, espécie de manual, de Viola Spolin. Assim, com base em três conceitos contidos no livro – onde se passa a ação, quem está na ação e o que estão fazendo – Ulysses selecionou com Cássia os 18 textos. O trabalho incluiu a necessidade de ligar um texto ao outro para ampliar a ideia de continuidade (“pois cada texto, todos curtos, encerra em si o mundo”).
“O bloco onde reúne textos com as descrições dos cenários que Manoel de Barros faz de seu mundo. O segundo bloco, quem, traz os textos que mostram quem é aquela pessoa que descreve aqueles cenários. Finalmente, os textos do o que trazem os objetos de inspiração do poeta. A peça tem em sua estruturada uma abertura, onde o público entende quais são as fontes do poeta. O bloco um traz a chegada ao quintal, simbolizada pelo tapete. O segundo bloco apresenta quem é aquela pessoa que descreve aqueles cenários. São textos que falam do menino, do homem e do velho Manoel de Barros”, informa Ulysses Cruz.
O compromisso de Ulysses foi construir uma peça que se comunicasse com a plateia de uma maneira fluida, daí a divisão em blocos. O encenador também se colocou no lugar do público e gostaria que ele sentisse “a alegria de ouvir textos tocantes, surpreendentes, lindos, felizes, angustiados, dramáticos, engraçados e bem-humorados”.
Para construir a atmosfera sonora da montagem, o criativo convidou o músico Gilberto Rodrigues (com quem já havia trabalhado em Leão no Inverno). A presença da sonoridade do vibrafone foi o único pedido ao músico. Para criar a luz, juntou-se à equipe o jovem Nicolas Caratori, estreando como light designer. Para dar conta do trabalho físico da atriz, a direção de movimento foi entregue a Cynthia Garcia, “pupila” de Ivaldo Bertazzo.
“As demandas corporais começaram a ficar pesadas, afinal a peça fala de um menino com 5 anos, um jovem de 15, um homem de 40 e um velho de 85, num quintal, que é um tapete”, fala Ulysses, explicando ter percebido que precisava de um diretor de movimento.
Por ser uma prosa poética, Ulysses Cruz finaliza afirmando que a peça vai na contramão do que tem em cartaz hoje.
Ficha Técnica
Obra: Manoel de Barros
Elenco: Cássia Kis
Concepção e direção geral: Ulysses Cruz
Adaptação do texto: Cássia Kis e Ulysses Cruz
Direção de Produção: Gustavo Nunes
Cenário e figurinos: Ulysses Cruz
Direção e criação musical: Gilberto Rodrigues
Execução musical: Gilberto Rodrigues
Fotografia e Design: Gal Oppido
Design do convite: Marcio Oliveira – Graphix
Assistente de Fotografia e Design: Marina Engelhardt
Design de luz: Nicolas Caratori
Assistente de iluminação: Vitória Pamplona
Direção de Movimento: Cynthia Garcia
Costureira: Judite de Lima
Adereços: Luis Rossi
Financeiro: Helber Santa Rita
Mídias sociais: Julliana Della Costa e Jessica Veiga
Assessoria de imprensa: Arteplural
Produção executiva Rio de Janeiro: Mariana Chew
Produção executiva São Paulo: Arte & Atitude: Monique Mendonça, Isabel Gomez, Renata Bento, Andreia Besteiro
Produção geral: Turbilhão de Ideias Entretenimento * Realização: SESI.
Manoel de Barros
Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá-MT, em 19 de dezembro de 1916 e mudou-se para Corumbá-MS, onde se fixou em uma fazenda no Pantanal. Estudou num colégio interno em Campo Grande e depois no Rio de Janeiro. Anos depois, passou um tempo na Bolívia e no Peru e, em e seguida, morou por um ano em Nova York, onde estudou sobre Cinema e Artes Plásticas no Museu de Arte Moderna.
É autor de 18 livros de poesia, além de livros infantis e relatos autobiográficos. Recebeu duas vezes o Prêmio Jabuti, duas vezes o Prêmio Nestlé e também foi premiado pela ABL, pela Biblioteca Nacional e pela APCA. Manoel de Barros conta com uma consistente fortuna crítica, mas seus comentários sobre a própria obra são considerados um dos melhores e foram fornecidos tanto em entrevistas quanto em versos que escreveu, “desexplicando” o próprio trabalho literário.
Segundo ele, “ao poeta faz bem desexplicar”, ou melhor, o entendimento de sua poesia não passa pelo crivo cerebral, pois “não é por fazimentos cerebrais que se chega ao milagre estético senão que por instinto linguístico”. E, num “despoemamento”, sintetiza sua concepção para o entendimento poético. Faleceu em novembro de 2014, pouco antes de completar 98 anos.
Meu Quintal é Maior do Que o Mundo
Teatro do Sesi-SP
Av. Paulista, 1313 – Bela Vista (Em frente à estação Trianon-Masp do Metrô)
Informações e agendamentos: (11) 3146-7439
Capacidade: 456 lugares
Duração: 70 minutos
Temporada: até 24 de fevereiro
Sextas e sábados, às 20h
Domingos, às 19h
Classificação indicativa: livre
Ingresso: Grátis
Faça seu cadastro e sua reserva antecipada pelo site Centro Cultural Fiesp/ Meu SESI remanescentes serão distribuídos no dia da apresentação, 30 minutos antes do início da sessão.
Foto: Gal Oppido
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