Em Um Dia Qualquer traz duas peças em um único espetáculo

Com estreia marcada para 4 de maio, no Teatro Décio de Almeida Prado, o espetáculo Em Um Dia Qualquer foi escrito por uma das mais importantes dramaturgas escocesas da atualidade…

 

 

 

 

 

Inédita no Brasil, a montagem traz no elenco Cristina Cavalcanti, Fábio Mráz, Ricardo Ripa e Carlos Baldim, que também assina a direção. É uma realização da Visceral Companhia, que tem no seu histórico a pesquisa e montagens de textos contemporâneos.

A história começa com Bill e Sadie se preparando para receber a pessoa que mais amam. Tudo corre bem até eles perceberem que se esqueceram do pão. Do outro lado da cidade, Jackie e Dave fecham o bar. Porém, um telefonema desperta em Jackie o desejo de se dar a chance de viver algo que lhe traga prazer. Mas, culpada, ela hesita em aproveitar a oportunidade, mesmo que momentaneamente, já que existem pessoas que dependem dela.

A “Peça Um” retrata o cotidiano de um casal com deficiência intelectual. Este é o ponto de partida que a dramaturga utiliza para revelar algo muito mais profundo: uma sociedade doente, que se manifesta de forma perversa, violenta e intolerante.

Na “Peça Dois”, a autora coloca o seu ponto de vista sobre o feminino, potencializando o conflito da personagem Jackie. Ela quer dar vazão aos seus desejos pessoais, mas os reprime em nome das obrigações que a sociedade lhe impõe, pelo fato de ser mãe de um filho doente e de ser a sobrinha que cuida dos tios com deficiência intelectual (“Peça Um”). A culpa é imposta à condição feminina.

 

Dramaturgia Contemporânea
Quem primeiro teve contato com o texto de Linda McLean foi Cristina Cavalcanti, que realiza ampla pesquisa sobre dramaturgia contemporânea e inclusive traduz do inglês. “McLean é uma das mais importantes dramaturgas escocesas da atualidade e tem uma maneira muito particular de escrever. Interessam-me textos que escapam do realismo, em que a estrutura dramática reflete a fragmentação emocional das personagens”, diz. “Ela é uma voz feminina muito potente”, conclui Cristina.

Carlos Baldim já havia investigado a deficiência intelectual na peça Da Desordem que não anda só do dramaturgo, também escocês, Davey Anderson. Isso o fez se interessar pelo texto de Linda e pelo fato da autora transcender este tema.

“Mais do que falar sobre isso, McLean também traz outras questões pertinentes aos dias de hoje, tal como o conflito de Jackie frente aos questionamentos vividos pela mulher do século XXI. Na “Peça Dois”, trabalho, família e desejo pessoal vêm à tona, tendo como gatilho uma tentativa de aproximação amorosa entre as personagens, provocando uma ruptura dos bloqueios emocionais de Dave e Jackie.

O texto traz diferentes possibilidades de abordagens estéticas e propõe reflexões que ecoam com as demandas dos dias atuais”, explica o diretor.

Outra questão presente no texto e que interessa também a Baldim é a violência contra a mulher. “A relação entre Bill e Sadie é abusiva, e a encenação optou por acentuar essa característica sem querer poupar as personagens por sua condição. Mostramos que ali, mesmo entre pessoas com deficiência intelectual, também pode existir muita perversidade.

 

Duas peças, duas linguagens estéticas diferentes
Todas essas questões são levadas ao público em duas peças distintas, mas que se interligam não só pelo que está escrito no texto, mas também pela encenação.

Na primeira parte, predominam características do teatro do absurdo, com dramaturgia fragmentada e não linear. Bill e Sadie formam uma dupla que remetem à dinâmica das personagens de Esperando Godot, de Samuel Beckett. Os figurinos e maquiagem cinzas criam uma metáfora do olhar que a sociedade normalmente lança em relação às pessoas com deficiência intelectual, como se elas fossem “apagadas” ou “esquecidas”.

Já a segunda parte se aproxima bastante de uma cena de cinema, com tom muito mais realista. A dramaturgia é linear e mergulha nos conflitos internos de cada personagem. Os figurinos e adereços revelam o dono de um bar e sua funcionária no fim de um expediente.

Apesar das abordagens estéticas diferentes, o espetáculo ganha unidade na partitura física desempenhada pelos atores nas duas peças, bem como por meio da cenografia, trilha sonora e iluminação, responsáveis por interligar o todo.

Ficha Técnica
Dramaturga – Linda McLean
Direção – Carlos Baldim
Tradução – Cristina Cavalcanti
Elenco – Cristina Cavalcanti, Fábio Mráz, Ricardo Ripa e Carlos Baldim
Iluminação – Carlos Baldim
Cenário e construção cenográfica – Cesar Rezende (Basquiat)
Figurinos – Cristina Cavalcanti
Trilha sonora original e sound design – L.P. Daniel
Assistente de direção – Henrique Pina
Assistente de produção – Marcela Horta
Produção – Selene Marinho
Realização – Visceral Companhia.

 

 

 

 

 

Em Um Dia Qualquer
Teatro Décio de Almeida Prado
Rua Lopes Neto, 206 – Itaim Bibi
Capacidade: 186 lugares
Duração: 75 minutos
Estreia: sábado, 4 de maio, às 21h
Temporada: Até 26 de maio
Sábados, às 21h
Domingos, às 19h
Classificação Etária: 14 anos
Ingressos:
R$ 30,00 (inteira)
R$ 15,00 (meia)

 

Foto: Rodrigo Menck

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