A história de uma travesti que alterna o seu tempo cuidando de uma criança, de dia, e tentando ganhar dinheiro pelas ruas, à noite, é o ponto de partida de Entrega para Jezebel, montagem do Teatro do Indivíduo, que reestreia dia 3 de junho, segunda feira, às 20 horas, na Oficina Cultural Oswald de Andrade com ingressos gratuitos…
Escrita pelo autor piauiense Roberto Muniz Dias, a peça tem direção de Rodolfo Lima e conta no elenco com Valéria Barcellos, Bibi Santos e Clodd Dias, todas atrizes negras e transexuais, e Daniel Sapiência…
Contemplado pelo PROAC LGBT Entrega para Jezebel mostra a vida de Jezebel, uma travesti que tem como maior desejo ser mãe, mas que vive a sombra da transfobia. A maternidade é o ponto nevrálgico da peça, já que ela cuida do filho de uma amiga, que retorna um tempo depois querendo reaver a guarda, fazendo com que o mundo de Jezebel desmorone.
Para o diretor Rodolfo Lima, a montagem propõe um diálogo intimista e poético entre o público e as artistas selecionadas para o trabalho sobre o universo de mulheres transexuais. “Jezebel sonha em viver dentro do arquétipo do gênero feminino, que condiciona a mulher a uma casa, um marido, filhos e quem sabe virar uma artista famosa. Porém a travestilidade e a falta de oportunidade são empecilhos para a concretização de seus sonhos. O que está guardado para Jezebel diante da violência que sofre diariamente? Jezebel canta nas horas vagas, mas quem ouve o que ela tem a dizer? Travesti pode ser mãe? Pode ser artista?”, indaga ele.
Transfake
Alçado à mídia em 2017 pelo Movimento Nacional de Artistas Trans (MONART), capitaneado pela atriz Renata Carvalho, o termo transfake (referência aos atores cisgêneros que interpretam personagens transexuais) foi o mote para que o autor Roberto Muniz Dias desenvolvesse a dramaturgia de Entrega para Jezebel. “O texto traz uma mensagem sobre a transfobia muito forte, mas com a presença e convívio com as atrizes percebi que a peça não podia ter só um recorte, pois havia mais coisas a serem abordadas. A questão racial foi acrescentada a questão trans, bem como a necessidade de representatividade dessas atrizes no meio artístico, inclusive interpretando personagens que se adequam ao seu gênero e não necessariamente falando sobre as questões de um corpo trans e/ou sua sexualidade”, diz Rodolfo, explicando ainda que Valéria faz a travesti Jezebel, mas que Clodd faz Joana, a mãe da criança.
Além de Valéria Barcellos, Clodd Dias e Bibi Santos que estarão em cena, o projeto contempla mais dois profissionais transexuais na ficha técnica: Magô Tonhon (mediação dos debates) e Hugo Nacari (operação de som). Nos dias 4, 11 e 25 de junho, acontece um debate logo após a apresentação do espetáculo com elenco e público.
Além da temporada na Oficina Cultural Oswald de Andrade, Entrega para Jezebel já tem uma agenda de apresentações. No dia 6 de junho, a montagem chega na Escola Livre de Teatro de Santo André – ELT (ingressos gratuitos) e no dia 20 de junho, a apresentação acontece no Teatro Sérgio Cardoso dentro da programação Parada no Sérgio, em parceria com o Museu da Diversidade. O Festival de Teatro de Araçatuba – Festara 2019 recebe a peça no dia 21 de junho, e o MoDive-se, de Campinas, no dia 6 de julho.
Ficha Técnica
Texto – Roberto Muniz Dias
Direção – Rodolfo Lima
Elenco – Bibi Santos, Clodd Dias, Daniel Sapiência e Valéria Barcellos
Cenografia – Jeff Celophane e Rodolfo Lima
Design Gráfico – Betinho Neto
Fotos – Luciana Zacarias
Figurinos – Jeff Celophane e Karla Pêssoa
Cenotécnico – Renato Ribeiro
Assistente de produção – Lucimara Amorim
Operação de luz – Hugo Nacari
Contraregragem e Operação de som – Bibi Santos
Mediação Pedagógica – Magô Tonhon
Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta
Entrega para Jezebel
Oficina Cultura Oswald de Andrade
Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro
Tel.: 3222-2662
Capacidade: 30 lugares
Duração: 70 minutos
Temporada: De 3 a 26 de junho
De segunda a quarta-feira, às 20h
Nos dias 4, 11 e 25 de junho, acontece um debate logo após a
apresentação do espetáculo com elenco e público.
Recomendado para maiores de 14 anos
Ingressos: Grátis (Retirada de ingressos com uma hora de antecedência)
Escola Livre de Teatro de Santo André – ELT
Praça Rui Barbosa, 12 – Santa Teresinha, Santo André – SP
Quinta-feira, 6 de junho, às 15h,
Ingressos: Gratuitos
Teatro Sérgio Cardoso
Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista
Quinta-feira, 20 de junho, às 18h30
O Festival de Teatro de Araçatuba – Festara 2019
Sexta-feira, 21 de junho, às 22h
MoDive-se, de Campinas
Teatro TAO
Rua Conselheiro Antônio Prado, 529 – Vila Nova – Campinas – SP
Sábado, 6 de julho, às 20h
Roberto Muniz Dias
Piauiense radicado em Brasília há 10 anos é romancista, dramaturgo e mestre em Literatura pela UNB (Universidade de Brasília). Também formado em Direito, integra a Comissão de Tolerância e Diversidade Sexual da 93ª Subseção de Pinheiros da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional São Paulo. Foi premiado pela Fundação Monsenhor Chaves com menção honrosa pela obra Adeus Aleto.
Publicou ainda Experientia – coletânea de suas primeiras peças de teatro, Um Buquê Improvisado, O príncipe – o mocinho ou o herói podem ser gays, Errorragia: contos, crônicas e inseguranças, Urânios, A Teia de Germano e Uma cama quebrada. Recentemente foi premiado pela FCP (Fundação Cultural do Pará) com o texto teatral As divinas mão de Adam como melhor texto teatral.
Rodolfo Lima
Ator, diretor de teatro e jornalista é Mestre em Divulgação Cientifica e Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e pesquisa atualmente a relação entre teatro e gays para sua tese de doutorado. Como ator e diretor de teatro trabalha com a literatura nacional e suas possibilidades em cena, e tem no seu currículo peças adaptadas da obra de Caio Fernando Abreu, Marcelino Freire, Fabrício Carpinejar e Eliane Brum.
Em janeiro de 2015 realizou o evento Em Busca de Um Teatro Gay com ciclo de debates, apresentações teatrais e exposição que mapeiam a produção gay da cidade de São Paulo na primeira década do século XXI. Seus trabalhos foram apresentados em diversos locais na capital e cidades do estado de São Paulo, além de Paraná, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Goiás e Minas Gerais. Mantém os blogs Ilusões na Sala Escura e Escritos sobre a ausência, o primeiro com suas resenhas críticas de teatro e cinema e o segundo sobre seu processo criativo e informações sobre seus trabalhos.
Foto: Luciana Zacarias
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