No dia 21 de junho (sexta), às 21h, o espetáculo de teatro documentário “AI-5: Uma Reconstituição Cênica”, segue em temporada no teatro Arthur Azevedo, na Mooca, região leste da capital paulista. Com sessões sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 19h, até 14 de julho, o projeto segue em cartaz há três anos pelo Coletivo Ato de Resistência – A política em cena…
A dramaturgia nasce a partir da gravação disponibilizada pela Comissão da Verdade, de uma reunião que ocorreu em 13 de dezembro de 1968, em que o Conselho de Segurança Nacional se reúne com o então presidente General Arthur da Costa e Silva para votar a aprovação da proposta de Ato Institucional número 5. Sua aprovação deu início à fase mais sangrenta do regime ditatorial civil-militar brasileiro, deixando feridas abertas na política e também vida pública até os dias de hoje. O objetivo do espetáculo é manter viva e ativa a lembrança e a denúncia do período histórico da ditadura civil-militar em nosso país, e dos crimes cometidos pelo terrorismo de Estado.
Com concepção de Paulo Maeda e, neste ciclo, com direção coletiva de Leticia Negretti, Rafael Castro, Rodolfo Morais e Renato Mendes, o ensejo da peça não é apenas o retrato de uma ocorrência no período da ditadura brasileira, mas remete, em paralelo, a atualidade do inexplicável efeito saudosista que o autoritarismo causa em grande parte da sociedade, não apenas do Brasil, mas em grande parte do mundo.
É também a partir dos acontecimentos contemporâneos na política brasileira, que a peça incorpora performaticamente acontecimentos e polêmicas declarações – com ocorrência quase diária – que causam escândalo na imprensa e nas redes sociais.
“O espetáculo nasceu a partir da leitura do livro ‘A ditadura envergonhada’, de Elio Gaspari. Enquanto lia um capítulo específico chamado ‘A missa negra’, percebi que ele citava muitas frases prontas dos ministros que estavam na reunião do dia 13 de dezembro e fiquei curioso para ter também acesso a isso. Foi quando descobri a ata e os áudios. Em 2016, estávamos vivendo um momento que era muito duro com o golpe da então presidente democraticamente eleita e eu vi que os discursos feitos para tirá-la do poder eram muito parecidos com os de 1968. E dessa proximidade, eu pensei em fazer uma reprodução daquele momento com 20 atores brancos em cena, mostrando a ostensividade desse conservadorismo”, afirma o diretor Paulo Maeda.
Segundo a nova direção desse ciclo de apresentações: “No ano de 2019, em que grupos saudosistas e apoiadores da ideia da ditadura civil-militar brasileira, se manifestam abertamente em vias públicas e mesmo em cargos de poder, entendemos como urgente retomar e manter em circulação nosso espetáculo. Sem perder o caráter documental, mas acrescentando elementos de revista, nossa versão atual mantém-se viva e em princípio de work-in-progress, radicalizando o jogo entre os atores que compõem a mesa e os diálogos com a situação atual. Mostramos assim que a história não é linear, que não há acontecidos deixados para trás, mas ecos, que habitam nossa estética e nossa ética, no palco e nas ruas.”
Ficha Técnica
Concepção e Direção: Paulo Maeda
Assistência de direção e produção: Leticia Negretti, Rafael Castro, Rodolfo Morais e Renato Mendes
Operação de som e luz: Matheus Espessoto
Elenco: André Castelani, Fernando Pernambuco, Gero Santana, João Attuy, Leticia Negretti, Lucas Leite, Luiz Campos, Michel Galiotto, Pedro Felício, Rafael Castro, Ramon Gustaff, Renato Mendes,Ricardo Socalschi, Roberto Borenstein, Roberto Mello, Rodolfo Morais, Thalles Alves, Thiago Marques, Wilson Saraiva, Heloisa Zonta, Dover Buzoni, Graziele de Oliveira Gontijo, Rafael Augusto Silva, Jamile Rai Gonçalves, Marina Affarez, Nathalia Bonilha Borzilo, Henrique Carvalho de Lemos Cardoso, Silvia Alves de Sousa, Antônio D’Agostino Filho
Assessoria de Imprensa: Paula Simões – Sem Paredes Cultural
“AI-5: uma reconstituição cênica”
Teatro Arthur Azevedo
Av. Paes de Barros, 955 – Mooca
Lugares: 50 lugares
Duração: 120 minutos
Temporada: até 14 de julho
Sextas e sábados, às 21h
Domingos, às 19h
Classificação: acima de 14 anos
Ingressos:
R$ 30,00 (inteira)
R$ 15,00 (meia)
Pagamentos somente em dinheiro
Estacionamento, com vagas limitadas
Acessibilidade
Sobre o projeto
O Coletivo Ato de Resistência: a Política em Cena nasce em 2016, dos estudos do diretor Paulo Maeda acerca do tema da ditadura civil-militar brasileira e de suas reminiscências na vida pública contemporânea. Ao deparar-se com a ata da reunião do 43º Conselho de Segurança Nacional, na qual se discutiu a implementação do Ato Institucional número 5 que, dentre outros, fechava o congresso, implementava a censura prévia dos meios culturais e explicitamente institucionalizava a tortura, surgiu a ideia de reunir diversos artistas engajados, que aceitassem o desafio de encarnar as figuras que lançaram o país na fase mais sombria de sua fase mais sombria. Foram convocados artistas independentes e de diversos coletivos da cidade de São Paulo, dentre uma rede de contatos via cursos de atores, técnicos e universitários, bem como o Programa Vocacional de formação de coletivos descentralizados na cidade. Reunidos os primeiros 23 intérpretes, realizou-se a temporada de estreia do espetáculo AI-5: Uma Reconstituição Cênica no segundo semestre de 2016, no espaço Habitat Cultural, no bairro Jardim São Paulo, Zona Norte. No ano seguinte, entre março e abril de 2017, iniciou-se a segunda temporada no espaço cultural Casarão do Belvedere, no bairro da Bela Vista, realizou-se a segunda temporada do AI5. Em 2018, com o cinquentenário da reunião que serviu de mote e disparador, iniciou-se a terceira temporada, de abril a outubro, novamente no casarão do Belvedere, e de outubro até dezembro, no Espaço Redimunho, no Anhangabaú.
Também surgiram ações paralelas ao espetáculo com o Ciclo de Leituras Dramáticas: A Política em Cena, que constituiu-se em treze leituras, apresentadas no Casarão do Belvedere e no espaço Alvenaria, na Barra Funda. Foram realizadas apresentações extras e gratuitas para estudantes secundaristas, e duas apresentações especiais no teatro do Memorial da Resistência, importante espaço de memória e de luta. Culminou-se a temporada numa satiricamente comemorativa apresentação no dia 13 de dezembro, “aniversário” da aprovação do ato, com lembranças e parceiros de toda a trajetória do espetáculo colocadas em revista na cena.
Em 2019, o Coletivo Ato de Resistência: A Política em Cena segue para mais duas temporadas, uma retornando ao espaço Redimunho e outra no Teatro Arthur Azevedo, Mooca.
Foto: Felipe Sales
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