Núcleo Bartolomeu de Depoimentos estreia Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias

Com o objetivo de processar os tempos de agora, em que novos valores humanos provocam uma reação conservadora no Brasil e no mundo, o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos parte de uma leitura do dramaturgo Bertolt Brecht sobre a ascensão do fascismo/nazismo para criação da peça Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias, que estreia dia 28 de junho, sexta-feira, 21h, no teatro do Sesc Bom Retiro…

 

 

 

 

No seu diário de trabalho, Brecht se refere ao texto Terror e Miséria no Terceiro Reich como um compêndio de gestos sociais capaz de exemplificar o contexto que se formou durante os anos que precederam a segunda guerra mundial e que resultaram na ascensão do fascismo/nazismo.

Inspirados por este compêndio, o grupo e a diretora Claudia Schapira buscam processar os tempos de agora: “Os novos valores humanos – que exigem mudanças profundas e estruturais – provocaram uma reação nacionalista, classista, seletiva, homofóbica e racista, que se agarra aos escombros de um mundo colonizado, branco e hegemônico”, explica Claudia.

Para o processo artístico, promoveu-se um encontro entre os artistas do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e artistas parceiros especialmente convidados, para que juntos criassem um espetáculo capaz de evidenciar os atritos dessa reunião, dessa diversidade. “Juntamos pessoas brancas e negras, trouxemos o conflito pra dentro da cena.

Essa situação está muito acirrada nestes tempos, tudo tem que ser revisto à luz da construção de uma nova humanidade, de uma real disparidade e dos mecanismos perversos que foram criados para o soerguimento de um mundo segregado e cheio de privilégios”, diz Claudia.

Seguindo a estrutura episódica do texto original – e somando a isso a realidade do Brasil atual -, foi construída uma dramaturgia fragmentada, entremeada de comentários, em que os atores em um ensaio de uma peça constroem e desconstroem imagens e narrativas, que se desmantelam diariamente.

Depois de Antígona Recortada (2013) – último espetáculo onde todos os componentes do grupo participaram juntos, que radicalizou a linguagem deste coletivo de teatro hip-hop e que lhes conferiu o Prêmio Governador do Estado – o grupo sentiu a necessidade do encontro com outros artistas, cada um com sua linguagem e com a sua visão de mundo, para a criação dessa nova obra.

Ficha Técnica
Direção: Claudia Schapira
Dramaturgia: Claudia Schapira em colaboração com Lucienne Guedes e elenco
Inserções de poemas: Jairo pereira e Roberta Estrela D’Alva
Direção Musical: Eugênio Lima, Roberta Estrela D’Alva e Dani Nega
Direção de Movimento e Coreografias: Luaa Gabanini
Assistência de Direção: Maria Eugenia Portolano
Atores mcs: Fernanda D’Umbra, Georgette Fadel, Jairo Pereira, Luaa Gabanini, Lucienne Guedes, Nilcéia Vicente, Roberta Estrela D’Alva, Sérgio Siviero e Vinícius Meloni.
Atores DJs: Dani Nega e Eugênio Lima
Vídeo-intervenção: Bianca Turner
Cenário: Bianca Turner e Claudia Schapira
Figurino: Claudia Schapira
Figurinista assistente: Isabela Lourenço
Kempô e Treinamento de Luta: Ciro Godói
Danças Urbanas: Flip Couto
Preparação Vocal: Andrea Drigo
Técnicas de spoken word: Roberta Estrela D’Alva
Iluminação: Carol Autran
Engenharia de Som: Eugênio Lima e Viviane Barbosa
Costureira: Cleusa Amaro da Silva Barbosa
Cenotécnico: Wanderley Wagner da Silva
Design gráfico: Murilo Thaveira
Estagiárias: Isa Coser, Junaída Mendes, Maitê Arouca
Direção de Produção: Mariza Dantas
Produção Executiva: Victória Martinez, Jessica Rodrigues
e Núcleo Bartolomeu de Depoimentos

 

 

 

 

 

Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias
Sesc Bom Retiro
Rua Alameda Nothmann, 185 – Bom Retiro
Capacidade: 250 lugares
Duração: 90 minutos
Temporada: De 28 de junho até 28 de julho
Sextas e sábados, às 21h
Domingos, às 18h
Ingressos:
R$ 20,00 (inteira)
R$ 10,00 (meia)
R$ 6,00 (credencial plena)
Classificação: 14 anos

 

O Núcleo Bartolomeu de Depoimentos

O Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, formado por Claudia Schapira, Eugênio Lima, Luaa Gabanini e Roberta Estrela D’Alva, nasceu no ano de 2000 e tem como pesquisa de linguagem o diálogo entre a cultura hip-hop, com a contundência da autorrepresentação como discurso artístico, e o teatro épico e seus recursos: o caráter narrativo, apoiado por uma dramaturgia que se configura depoimento do processo histórico; como instrumento que elucida uma concepção do mundo, e coloca o ator-narrador em face de si mesmo como objeto de pesquisa; como homem mutável; em processo, fruto do raciocínio, da reflexão.

Em 2000, estreia Bartolomeu, O Que Será que Nele Deu, o primeiro espetáculo do Núcleo, inspirado na obra de Herman Melville Bartleby, O Escriturário, e dirigido por Georgette Fadel. Acordei Que Sonhava, uma livre adaptação de A Vida É Sonho, de Calderón de la Barca, e segundo espetáculo da companhia, estreia em 2002, dirigido por Claudia Schapira.

Entre os anos de 2002 e 2003, o Núcleo desenvolve o projeto Urgência nas Ruas – obras-manifesto, intervenções pelas ruas de São Paulo. Esse projeto foi o primeiro a ser contemplados pela Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, fundamental e estruturante da pesquisa e obra do Núcleo.

Em 2006 estreia Frátria Amada Brasil – Pequeno Compêndio de Lendas Urbanas, espetáculo inspirado na Odisseia de Homero. Uma pequena odisseia, brasileira e nossa, fruto da vivência nas ruas e das personagens que nelas habitam, autores anônimos da história velada deste país.

O projeto 5 x 4 – Particularidades Coletivas, que teve sua estreia em junho de 2008, foi o resultado de um aprofundamento de elementos específicos da pesquisa da linguagem do teatro hip-hop, e gerou cinco espetáculos: Encontros Notáveis, 3×3 – Três DJs em busca do vinil perdido, Manifesto de Passagem – 12 Passos em Direção à Luz, Vai te Catar! e Cindi Hip-Hop – Pequena Ópera Rap.

Em 2009, o Núcleo iniciou o projeto Pajelança de Kuarup no Congá, que depois de quase três anos de intensa pesquisa resulta no espetáculo Orfeu Mestiço, uma Hip-Hópera Brasileira, fazendo parte do trabalho ininterrupto deste coletivo por consolidar uma linguagem: o Teatro Hip-Hop.

Em 2013 estreia Antígona Recortada; Em 2014 estreia BadeRna, último espetáculo realizado na sede do grupo, que foi demolida pela Ink Incorporadora e todos seus associados, e se torna uma espécie de manifesto cênico, que reflete o cunho político que as ações do grupo assumem a partir da perda do seu “território cultural”.

Em 2015 no Teatro de Arena Eugênio Kusnet comemorando os 15 anos de grupo, realiza a Ocupação Arena Urbana – De onde viemos, para onde voltamos, que contou com a temporada de três obras inéditas: Memórias Impressas (instalação cênico-dramática sobre violência feminina), Olhos Serrados (um solo performativo que transita entre a palavra e o movimento) e 1, 2, 3 – Quando acaba começa tudo outra vez, marcando a incursão do grupo no universo do teatro infantil.

Em maio de 2016, estreia Cassandra – Na calada da voz, uma performance teatral, com uma plataforma que se modifica a cada apresentação, trazendo à luz da cena a violência infringida através dos tempos ao discurso feminino.

Além dos espetáculos, o Núcleo criou dois projetos permanentes que acontecem todos os meses: em 2008, ZAP! Zona Autônoma da Palavra, o primeiro poetry slam (campeonato de poesia) brasileiro, e em 2009, DCC – Dramaturgia Concisa e Contemporânea, um espaço dedicado à criação e debate sobre produção de textos cênicos curtos e inéditos.

 

Foto: Sergio Silva

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