Big Shoot, de Koffi Kwahulé, estreia no Sesc Belenzinho

Em cena, um carrasco que se passa por artista, oferece a um público sedento e cúmplice o espetáculo do seu crime…

 

 

Dramaturgo costa-marfinense radicado na França é autor de mais de 30 textos dramáticos, além de romances e contos, com peças traduzidas para 15 línguas e montagens em países da Europa, África e Américas

Após temporada de Jaz, o Especial Koffi Kwahulé prossegue com a estreia da peça Big Shoot (25/10 a 10/11), dirigida e traduzida por Janaína Suaudeau, interpretada por Daniel Costa e Daniel Infantini, música ao vivo executada por Conrado Goys e Pedro Gongom e cenário criado por Ulisses Cohn. O espetáculo faz parte de um projeto que traz as primeiras montagens brasileiras de peças de Kwahulé, autor franco-marfinense conhecido por exercitar suas dramaturgias com base na oralidade, além de escrever textos dramáticos em versos e explorar um ritmo inspirado pelo jazz.

As artistas idealizadoras da mostra contam que as duas peças compartilham de um clima de suspense, com uma ação que vai se revelando aos poucos, não entregando de uma vez ao público os temas ou o perfil das personagens levantadas em cena. Outra característica é que nenhuma delas especifica local ou data concreta da ação. Esse atributo marcante de Koffi reforça o caráter alegórico e por vezes surrealistas do seu estilo.

Sofia Boito e Janaína Suaudeau estudaram na França em diferentes períodos. Fascinadas pela potência da obra de Koffi, traduziram duas de suas peças por iniciativa própria, sem nenhum projeto em vista. No final de 2017, por intermédio de uma amiga em comum, descobriram do envolvimento de ambas com o autor. “Foi uma grande coincidência termos traduzido as peças no mesmo período”, conta Sofia, ressaltando que as duas obras são muito diferentes entre si, mas trazem sínteses importantes sobre a produção dramática de Koffi.

Para Janaína, as montagens dão a oportunidade para que o público tenha um panorama amplo da linguagem e dos temas mais caros para o autor, como a desigualdade social, violência, pobreza e o frequente questionamento sobre as estruturas sociais de poder. “Quando nos encontramos, entendemos nossa oportunidade de fazer algo maior, mais expressivo e que pudesse apresentar a obra do Koffi num mesmo projeto”, complementa Janaína.

Sobre Big Shoot
Big Shoot traz no próprio título a pluralidade de leituras que a peça propõe: a palavra shoot em inglês pode significar tiro, uma carreira de cocaína, um prazer intenso e fugaz, um ensaio fotográfico ou sexo rápido, entre outros significados. Para não comprometer esse leque de possibilidade, Janaína Suaudeau manteve o título original da obra, que é escrita em francês, mas foi nomeada em inglês por Koffi. “Nesta peça, como em outras de sua autoria, as personagens não têm um plano de fundo, nome ou história que os anteceda, o que gera um efeito de suspense no público”, conta Janaína, que além da tradução, também assina direção da obra.

Nesta peça, o público cumpre o papel de uma plateia que está prestes a assistir, voluntariamente, um show de torturas promovido por um homem autodenominado Senhor (Daniel Costa) a uma vítima que ele dá o nome de Stan (Daniel Infantini). Passagens bíblicas sobre os irmãos Caim e Abel são citadas durante a peça – no livro de Gênesis é descrito que, enciumado de seu irmão, Caim matou Abel, cometendo o primeiro homicídio da humanidade. “Essa discussão surge para pensarmos sobre até onde chega a inveja, a ganância, o amor mal resolvido e outras questões humanas que fazem alguém se tornar capaz de um ato tão perverso como matar o seu próximo”, conta Janaína.

Outra referência presente em Big Shoot é o livro O Carrasco, que tem trecho destacado na contracapa da edição francesa da peça. A obra é de autoria do escritor sueco Pär Lagerkvist, ganhador do Prêmio Nobel, e ressalta como a figura de um carrasco precisa ser reforçada pelo apoio social para poder existir.

A premissa violenta é amparada por um ambiente que se assemelha a um show de horrores, a um coliseu, como os que os antigos romanos se reuniam para assistir soldados se digladiarem com as feras – para isso, o cenário representa uma arena quadrada em que há duas cadeiras metálicas, utilizadas nas salas de interrogatórios dos EUA para que o réu não tenha como quebrá-las e usar alguma de suas partes como arma. Sofia Boito assina a luz da peça, que acompanha o ambiente de um show de garagem proposto por uma banda que executa ao vivo um som propositalmente poluído com efeitos sonoros caseiros. A escolha reforça o perigo da espetacularização da violência, já que a sessão se mostra a cada momento uma espécie de espetáculo grotesco que a plateia deseja assistir. “Uma reflexão indigesta que a peça propõe é de que o carrasco só existe devido à presença de um público que aplaude matanças”, diz Janaína.

Fichas Técnicas

Especial Koffi Kwahulé
Concepção: Janaína Suaudeau e Sofia Boito Dramaturgia: Koffi Kwahulé Registro em vídeo e teaser: Diogo de Nazaré Fotografia: Lígia Jardim Design: Guto Yamamoto Assessoria de imprensa: Márcia Marques – Canal Aberto Produção: Mariana Novais e Larissa Maine – Ventania Cultural Apoio: Institut Français du Brésil, Consulado Geral da França em São Paulo Agradecimentos: Aliança Francesa de São Paulo e Cité Internationale des Arts.

Big Shoot
Direção geral: Janaína Suaudeau
Tradução: Janaína Suaudeau
Colaboração na tradução: Rafael Morpanini
Elenco: Daniel Costa, Daniel Infantini
Músicos: Conrado Goys e Pedro Gongom
Direção musical: Conrado Goys
Trilha sonora: Conrado Goys e Pedro Gongom
Assistente de direção: Victor Abrahão
Cenografia: Ulisses Cohn
Iluminação: Sofia Boito
Figurino: Daniel Infantini
Operação de som: Don Lino
Operação de luz: Priscila Carla
Produção: Mariana Novais e Larissa Maine – Ventania Cultural

 

 

 

 

Big Shoot
Sesc Belenzinho
Sala de Espetáculos I
Rua Padre Adelino, 1000 – Belenzinho
Tel.: (11) 2076-9700
Capacidade: 60 lugares
Duração: 80 minutos
Temporada: De 25 de outubro a 10 de novembro de 2019
Sextas e sábados, às 21h30
Domingos e feriados, às 18h30
Não recomendado para menores de 16 anos
Ingresso:
R$ 9,00 (credencial plena do Sesc – trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo credenciado no Sesc e dependentes)
R$ 15 (aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor de escola pública com comprovante)
R$ 30,00 (inteira)
Estacionamento:
De terça a sábado, das 9h às 22h. Domingos e feriados, das 9h às 20h.
Valores para espetáculos pagos, após as 17h: R$ 7,50 (Credencial Plena do Sesc – trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo). R$ 15,00 (não credenciados).
Transporte Público
Metro Belém (550m) | Estação Tatuapé (1400m)

 

Koffi Kwahulé (1956) é um autor, ensaísta, ator e diretor nascido Costa do Marfim. Ele é formado pelo Instituto de Artes d’Abidjan e pela École National Supérieure des Arts et Techniques du Théâtre de Paris. O dramaturgo também é doutor em estudos teatrais pela Sorbonne Nouvelle Paris III. Kwahulé é autor de mais de trinta peças, publicadas pelas editoras Lansman, Actes-Sud, Acoria et Théâtrales, traduzidas em dezenas de línguas. Suas peças já foram montadas em diferentes países da Europa, África e América Latina, além dos EUA, Canadá, Japão e Austrália. Desde janeiro de 2016 ele é autor associado do CDN de Montluçon, dirigido por Carole Thibaut. Já em seus primeiros textos vemos nascer uma escrita forte, que explode o uso habitual da língua: escrita carnal, concebida na violência imediata que pode ter a oralidade. Uma escrita musical, ardente e cadenciada como um ritmo febril de jazz. Dentre suas peças mais conhecidas e premiadas estão Cette vieille magie noire (1993), Jaz (1998), Big Shoot (2000) et L’odeur des arbres (2014). Pelo conjunto de sua obra recebeu o Prêmio Edouard Glissant em 2013, os Prêmios Mokanda e Prêmio de Excelência da Costa do Marfim em 2015 e em 2017 Kwahulé recebeu o Prêmio Grand Prix CNT pela peça L’odeur des abres e ganhou o Prêmio Bernard-Marie Koltès pela mesma obra em 2018.

Janaína Suaudeau
É uma atriz e diretora franco-brasileira. Ela se forma no Teatro Escola Célia Helena e no Conservatório Nacional Superior de Arte Dramática em Paris (CNSAD). Em Paris, atua em várias montagens, entre as mais importantes La Ville de Crimp direção Marc Paquien; Strindbergman direção Marie Dupleix; La Tempête de Shakespeare direção Georges Lavaudant; Claire en Affaires de Crimp direção Sylvain Maurice. No cinema, atua no longa-metragem Serveuses Demandées de Guylaine Dionne. Atua em vários curtas-metragens. Foi coordenadora geral de produção, além de atriz, do espetáculo Strindbergman com sua parceira Nicole Cordery. O espetáculo veio ao Brasil em 2009, pelo Ano da França no Brasil e ganhou prêmio de Melhor Estreia pelo Guia Folha SP. Em 2012, foram convidadas para fazer parte da Mostra Strinberg produzida pelo SESC SP. Em 2014, estreia a peça Não se brinca com o amor, direção Anne Kessler (sociétaire da Comédie-Française); o espetáculo abre as comemorações dos 50 anos do Teatro Aliança Francesa (São Paulo). Em 2015, é preparadora de elenco do longa metragem Além do Homem, direção Willy Biondani. Estreia o espetáculo Um poema cênico para Ferreira Gullar, direção Ana Nero. É assistente de direção de Bruno Perillo no espetáculo Ato a Quatro de Jane Bodie. Em 2016, estreia a peça No Coração das Máquinas, direção Rita Carelli. É provocadora do espetáculo A Última Dança com Natalia Gonsales. Estreou sua direção Término do amor de Pascal Rambert. Em 2017, é assistente de direção de Nelson Baskerville em Carmen, a partir da obra de Mérimée. É assistente de Lígia Cortez na formatura A Reunificação das duas Coréias de Pommerat na Faculdade de Teatro Célia Helena. Atualmente está em cartaz com a peça Cais Oeste de Bernard-Marie Koltès no Sesc Santo Amaro.

 

Foto: Ligia Jardim

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