Onde você estava, se você nem saiu de casa? acontecerá por meio de videochamada, com um ator se apresentando apenas para um outro espectador…
Durante a fase final de ensaios de uma peça infanto-juvenil baseada no livro Onde nascem as estrelas – Doze lendas brasileiras, de Clarice Lispector, o Teatro Lâmina interrompeu a montagem devido à recomendação de isolamento social a fim de evitar o contágio por Covid-19. Neste meio tempo, a necessidade de estabelecer contato com o público de algum modo resultou na criação de Onde você estava, se você nem saiu de casa?, que terá temporada online a partir do dia 18 de julho, sábado, 18h30. Em cada sessão, cada um dos cinco artistas da companhia irá abrir uma chamada de vídeo pelo aplicativo WhatsApp com um espectador, promovendo uma experiência-conexão de um para um a partir dos recursos do teatro físico.
Viviane Monteiro, que assina direção e dramaturgia, define o experimento como uma “conexão direta entre o teatro e o público” para tempos de saudade do palco. Na obra, cada ator personifica algum elemento que compõe o espaço físico do teatro e inicia sua interação com o público a partir disso. As personagens são: Zé Linóleo (Inácio Marçal), Dona Proscênia (Giovanna Koyama), Rita Camarim (Inaiê Kariny), Ana Ribalta (Julia Azzam) e Maria Coxia (Giovanna Kuczynski). “Trata-se de um exercício para manter imaginação viva por meio da interação com o espectador. Quando nos conectamos, buscamos ocupar toda extensão da tela do celular. O maior instrumento que temos neste momento é a voz, então apostamos nas modulações, suspiros e sussurros. Também desenhamos todo espaço da tela com gestos e aproximações”, conta a diretora.
A dramaturgia é tecida com informações sobre o teatro que são costuradas com trechos de textos como Soneto 66, de William Shakespeare; As Três Irmãs, de Anton Tchekhov, e o poema Soube que vocês nada querem aprender, de Bertold Brecht – autores e nomes dos mais expressivos de suas épocas. A base de todo texto é praticamente a mesma para os atores do Teatro Lâmina, com exceção dos momentos em que falam sobre as características do teatro ligadas aos seus nomes e aos dramaturgos citados acima.
Viviane conta que, mesmo estabelecendo um encontro de um para um, o espectador não assistirá a uma peça de teatro. Ele viverá uma experiência de se conectar ao teatro. “É como se fosse uma chamada de vídeo com o teatro e o público poderá se conectar a partir da personificação deste espaço”, complementa.
Na concepção de uma cena que se resume a uma tela de celular com a câmera posicionada na direção vertical, Viviane conta que a criação coletiva do grupo potencializou a linguagem do teatro físico, que já é uma característica do Teatro Lâmina. Conta também sobre as influências diversas, como a improvisação e espontaneidade dos atores da commedia dell’arte, o jogo cênico dos clowns, além de técnicas de respiração e articulação que o grupo desenvolve. “Acredito piamente que o teatro é a arte do ator. Essa experiência – apesar de não a considerar ‘teatro’ – é tão efêmera quanto uma peça teatral. Confio que meus atores dominarão este pequeno espaço virtual como dominam o palco. Improvisarão como improvisam no palco mesmo com um texto pronto e estarão em prontidão como estão no palco. É uma experiência para atores e público viverem juntos, assim como no espaço físico do teatro”, finaliza a diretora.
Elenco
Giovanna Koyama – SP
Atriz e Cantora. Estudou “Teatro Físico”, com John Mowat (UK) e Mímica, com Luis Louis. Realizou um Workshop de verão de Jacques Lecoq em Berlim – 2018. Estudou “O Corpo Poético”, com Sebastién Brottet-Michel (FR). Trabalhou como assistente de direção na peça “O Corte”, com direção de Daniel Lopes, e em “A Via Crucis do Corpo” de Clarice Lispector em 2017, com direção de Adriana Pires. Foi Dirigida em Oficina de montagem do grupo Garagem-21 por César Ribeiro em 2018. Em 2019, realizou oficinas no Núcleo Experimental com o diretor Zé Henrique de Paula e Fernanda Maia. Mantém aulas de canto regulares com a cantora lírica Francielle Barros. Atualmente mora em Londres, Reino Unido.
Inaiê Kariny – PA
Atriz paraense, da Ilha de Marajó, estuda e atua em São Paulo onde atualmente reside. Cursa o Técnico de Artes Cênicas na Escola Wolf Maya e é atriz do Teatro Lâmina.
Giovanna Kuczynski – SP
Natural de São Paulo, atuou em quatro espetáculos dirigidos por Marcelo Fonseca, no Teatro do Incêndio, em “Trabalhos de amor perdidos”, dirigido por Eliete Cigarini, e na performance “O Corpo Social”, durante o Festival Satyrianas, em 2016. Trabalhou como assistente de direção de Kiko Marques, Elias Andreato e Sérgio Ferrara. Participou das oficinas: “Improvisação entre Dança e Teatro”, ministrada por Miguel Prata na Galeria Olido, “Escuta, Autoficção e Cena”, ministrada por Chris Ubach na Oficina Cultural Oswald Andrade e “O Teatro do Oprimido”, ministrada por Cecília Boal no Centro Cultural São Paulo. Integrou ainda oficinas dedicadas ao estudo da obra de Clarice Lispector, William Shakespeare e Andy Warhol. Atualmente trabalha como atriz no Teatro Lâmina.
Julia Azzam – SP
Atriz paulistana e integrante do Teatro Lâmina, estudou interpretação na Escola de Atores Wolf Maya e canto no Studio Marconi Araújo, com Adriano Disidney, Paula Capovilla, Bianca Tadini e Mary Setrakian. Seu último trabalho no teatro foi a peça Jardim de Inverno, dirigida por Marco Antônio Pâmio, em 2019, cuja temporada de 2020 está pausada no momento. Fluente em inglês, é bilíngue com diploma emitido pelo International Baccalaureate.
Inácio Marçal – PR
Ator natural do Paraná, começou a fazer teatro em um curso livre durante a faculdade, mudando-se para São Paulo logo depois para dar continuidade aos estudos de artes cênicas. Estudou teatro com pessoas como Josemir Kowalick, Marco Antônio Pâmio e Guilherme Santana. Estudou televisão com Samantha Dalsoglio, Renato Simões, Nara Marques e André Garolli. Participou do processo da peça “Inferno, um interlúdio expressionista”, com direção de André Garolli. No teatro foi dirigido por Hugo Coelho em “Vereda da salvação” e atualmente está em processo sendo dirigido por Viviane Monteiro no Teatro Lâmina, além de estar em processo da peça “O Mambembe” com direção de Sandra Corveloni.
Viviane Monteiro – PE
Atriz, pernambucana da gema, e diretora/fundadora do Teatro Lâmina em São Paulo. Comunicóloga por formação, especializou-se em “Corpo: Dança, Teatro E Performance” pela ESCH- SP. Estudou teatro físico com John Mowat (UK), “O Corpo Poético”, com Sebastién Brottet-Michel (FR), e “A Poética Do Ator”, com Luíz Mário Vicente (BR). Seu último trabalho no teatro foi em “Eu estava em minha casa e esperava que a chuva chegasse”, dirigido por Antunes Filho, em 2018/19. No audiovisual, atuou em “Colônia” para o Canal Brasil com direção de André Ristum e em “Aruanas” para a Globoplay com direção de Bruno Safadi. Atualmente ensaia para uma peça dirigida por Bete Coelho e Cássio Brasil (em pausa no momento) e se dedica à pesquisa cênica com seu grupo.
Ficha Técnica
Texto original: Viviane Monteiro
Textos usados: Soneto 66, de Shakespeare; trecho de As Três Irmãs, de Tchekhov; e o poema Soube que vocês nada querem aprender, de Brecht
Direção Geral: Viviane Monteiro
Assistência de Direção: Angélica Prieto
Elenco: Julia Azzam, Giovanna Kuczynski, Inácio Marçal, Inaiê Kariny e Giovanna Koyama
Figurino, Maquiagem, Cenário, Iluminação, Pesquisa Cênica, Pesquisa de Improviso e fotografia: o grupo.
Onde você estava, se você nem saiu de casa?
Teatro Lâmina
Temporada: 18 de julho até 16 de agosto
Sábados, 1ª sessão às 18h30 e 2ª sessão às 20h
Domingos, 1ª sessão às 18h30 e 2ª sessão às 20h
Duração: 30 minutos
Classificação indicativa: Livre
Ingressos: R$ 20,00, à venda pelo Sympla
Sobre a companhia
Fundado em 2017, o Teatro Lâmina (ou Cia Lâmina, como o grupo chama carinhosamente) é um grupo de pesquisa cênica que leva para o palco um trabalho consistente de voz e corpo dentro da pesquisa do Teatro Físico.
Viviane, fundadora do grupo, acredita que atores precisam ter uma consciência corporal potente de modo que se apropriem totalmente de seu único instrumento de trabalho – o corpo. Sua pesquisa nos últimos dez anos têm sido, para o palco e cinema, uma pesquisa de teatro físico. Assim, a atriz fundadora do grupo desenvolve sua própria “metodologia” com meditação, exercícios de visualização, articulação interna, externa, pinceladas de técnica Klauss Vianna, estudo de anatomia, fisioterapia e fonoaudiologia (estes últimos sempre com algum profissional da área), bastante filosofia, leitura, pesquisa teórica e, claro, muito treino físico e vocal para o palco.
Em 2017, o Teatro Lâmina surgiu de um projeto baseado em contos de Clarice Lispector. O grupo estreou no VIGA Espaço Cênico e lotou todas as sessões por duas temporadas. “A Via Crucis do Corpo”, com direção de Adriana Pires, encheu a casa mesmo em dias de “toró pesado”, como diz Viviane. Em seguida, o Teatro Lâmina entrou como realizador num projeto de Nelson Rodrigues e ganhou o Prêmio Cenym de Melhor Cia de Teatro, em 2018. Os processos de ensaio duram de seis a oito meses e acontecem na Oficina Cultural Oswald de Andrade. Durante os tempos de distanciamento social, os treinos e pesquisas mais específicas se dão por encontros virtuais que acontecem religiosamente três vezes por semana.
Foto Inácio Marçal: Divulgação
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