Dona Margarida, a professora opressora e mal-humorada do quinto ano ginasial, ficou pior depois de quase um ano de aulas online. E agora, com a volta às aulas, ela está de novo no YouTube fazendo sessões ao vivo do seu espetáculo Todo Mundo quer Ser Dona Margarida (?) no canal A Dona Margarida Oficial…
A temporada, curtíssima, é de 13 a 28 de março de 2021, aos sábados e domingos, sempre às 20h. A peça fez duas temporadas em 2020, também ao vivo, e agora retorna às telas graças ao apoio do Edital Proac Expresso Lei Aldir Blanc Nº 36/2020, promovido pelo Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.
Autoritária, centralizadora e altamente provocativa, a personagem foi criada em 1971 pelo dramaturgo Roberto Athayde em Apareceu a Margarida, texto escrito no contexto da ditadura civil-militar brasileira e que logo se tornou um fenômeno de encenações dentro e fora do Brasil.
Dar aulas online foi uma realidade enfrentada por muitos professores e professoras no mundo todo, por causa da pandemia. Preparados ou não, foram obrigados a expor suas casas e formas de viver em aulas preparadas em formatos e plataformas que nem sempre dominavam. Dona Margarida é a nova professora do quinto ano primário e como tantos, precisa dar aulas online. O formato em que destila suas opressões mudou, é virtual, mas a verve autoritária é a mesma de quando o texto foi criado. Em sua sala de aula, pouco se fala em liberdade ou autonomia.
Nesta montagem, o ator Abílio Tavares nomeou a peça como Todo Mundo Quer Ser Dona Margarida (?) por flagrar nela uma espantosa atualidade. “Passados 50 anos, é como se a peça estivesse retomando a mesma força de quando foi escrita. A alteração no nome foi para enfatizar que hoje há muitas Margaridas autoritárias protagonizando a cena nacional”, reforça.
O ator também destaca que o título faz uma referência ao sucesso do espetáculo na história da dramaturgia brasileira, visto que ele recebeu mais de 400 montagens traduzidas para cinco idiomas em mais de trinta países. “De certa forma esta nova montagem da Margarida abre o cinquentenário da peça, que será comemorado em setembro de 2021”, destaca Abílio. O projeto tem direção de Nicolas Iso, pesquisa pedagógica de Paula Zurawski e consultoria sobre direção de arte de Marco Lima.
Os quatro cômodos e oito diferentes ângulos utilizados na montagem – a partir da casa do ator Abílio Tavares – criam uma dimensão de cenários variados e recursos cênicos que ampliam a narrativa. “Em todos os enquadramentos que são mostrados ao público durante a peça, há a presença da lousa. São ao todo 17 quadros em que Dona Margarida escreve quando anuncia algo que é muito importante. Para ela, o quadro é um instrumento de poder”, conta o ator, ressaltando a numerosa ação de contrarregragem da peça, já que ele lida com objetos de sua casa o tempo inteiro, como panelas, mesas, cadeiras, utensílios de cozinha e as já citadas lousas.
Para o ator, o que torna Dona Margarida mais rica é a sua contradição. “Ela é extremamente autoritária, opressora, mas é muito evidente o quanto ela está repetindo com os alunos um modelo que viveu e do qual não consegue se libertar. Para o diretor Nicolas Iso, ela oprime porque foi oprimida e isso a torna infeliz”, lembrando-se de um dos princípios da obra Pedagogia da Autonomia, do educador e filósofo Paulo Freire, em que o autor destaca que “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”.
“Seu desejo de controle total é frágil, e por isso ela precisa, o tempo inteiro, reafirmar a passividade dos alunos, a impotência deles. Em vários momentos, ela afirma que a voz na sala de aula é dela e que os alunos não dizem ou sabem de nada porque são passivos”, finaliza Abílio.
Ficha Técnica
Autor: Roberto Athayde
Direção Cênica e Dramaturgismo: Nicolas Iso
Pesquisa Pedagógica: Paula Zurawski
Consultoria de Direção de Arte: Marco Lima
Produção Executiva: MoviCena Produções
Produção técnica de Audiovisual: Karina Cardoso
Direção de vídeo: Kleber Goes
Edição de Vídeo: Felipe Rolli – NoName Estúdio de Animação
Fotos: João Caldas
Arranjo e produção Musical: Rodolfo Schwenger
Visagismo: Carol Rateiro (Criação e execução)
Design gráfico: Carolina Venâncio
Gerenciamento e impulsionamento de mídias sociais: Bruno Mourão
Assessoria de imprensa e divulgação: Canal Aberto/ Márcia Marques
Assistente de Assessoria de Imprensa: Daniele Valério
Consultoria Jurídica: Grupo Prismma
Realização: Neves & Tavares Arte e Produção
Concepção, Coordenação Geral e Atuação: Abílio Tavares
Colaborações e agradecimentos especiais temporada 2020
Pesquisa e Colaboração para Direção Cênica: Ewerton Correia
Visagismo: Carol Badra (Consultoria) e Jefferson Vanzo (Criação e execução)
Preparação física: Mahal Araujo Personal
Consultoria Corporal: Juliana Monteiro
Produção: MoviCena Produções
Assistente de Produção: Luciana Venâncio
Agradecimento especial: Instituto Vladimir Herzog
Todo Mundo Quer Ser Dona Margarida (?)
Releitura online de Apareceu a Margarida, de Roberto Athayde
De 13 a 28 de março de 2021
Sábados e domingos, às 20h *
* As sessões serão exibidas ao vivo e não ficarão registradas no canal
Transmissão no link YouTube A Dona Margarida Oficial
Acesso gratuito
Duração: 50 minutos
Classificação: 12 anos
Sobre o autor Roberto Athayde
Dentre as muitas colaborações de Roberto para o teatro, estão a peça Apareceu a Margarida (escrita em 1971 e estreada em 1973), de sua autoria, que, no Brasil, ganhou montagens de Aderbal Freire Filho protagonizada por Marília Pêra e que teve também montagens em mais de vinte países, como EUA, na França, Alemanha, Grécia, Argentina etc. Foram 250 montagens em todo o mundo. Segundo o autor da peça, foi a montagem francesa com Annie Girardot interpretando Madame Margarite, que catapultou a peça pelo mundo.
Redes Sociais do Espetáculo:
Instagram @adonamargaridaoficial
facebook: @adonamargaridaoficial
Foto: João Caldas
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