Dividida em duas partes nova montagem da Estelar de Teatro

Matriarcado-América é inspirada pelas obras de importantes autoras latino-americanas, como a boliviana Maria Galindo, a chilena Lina Meruane, a nicaraguense Gioconda Belli e a mexicana Elena Poniatowska. Gravada entre São Paulo e Paris, montagem tem cenas filmadas nos túmulos de Alan Kardec, Edith Piaff e Oscar Wilde localizados no famoso cemitério Pére Lacheise…

 

 

 

A peça digital Matriarcado-América é o desdobramento da investigação de mais de 15 anos da Estelar de Teatro, que busca uma voz feminina não só nos temas, mas também em um continente em ebulição e sedento de novas imagens. Com exibição online dividida em dois episódios, a montagem traz à cena questões éticas e estéticas fundamentais do Brasil da pandemia. A primeira parte A Sociedade das Eróticas em Menopausa estreia dia 7 de agosto, sábado, às 19h30 e a segunda A Máquina dos Sonhos chega à internet dia 9 de setembro, às 19h30, ambas no Canal de Youtube da Estelar de Teatro.

Com dramaturgia de Viviane Dias, que divide a direção com Ismar Rachmann e edição de Vic Von Poser e Taurina Filmes, Matriarcado-América apresenta uma Organização de Mulheres Eróticas em Menopausa, que com a ajuda de uma Máquina de Sonhos e um espírito de mulher chamado “Jesusa”, reencarnado mais de 30 vezes na América Latina e sempre morto por feminicídio, escreve uma nova Bíblia Antropofágica instaurando novas realidades poéticas, éticas e mágicas no continente.

O texto inédito, inspirado pela “devoração” de importantes autoras latino-americanas, ainda pouco conhecidas no Brasil como a boliviana Maria Galindo, a chilena Lina Meruane, a nicaraguense Gioconda Belli, a mexicana Elena Poniatowska, também bebe na fonte dos pensadores David Kopenawa, Sidarta Ribeiro e Aílton Krenak. Para a dramaturga, diretora e atriz Viviane Dias, Matriarcado-América valoriza mulheres em vários campos do saber na busca de uma cena antropofágica, porosa e inventiva em intersecção com as artes e com forte presença do sonho, do rito e do devaneio.

“No momento em que a América Latina está em ebulição com uma indígena eleita presidenta da comissão constituinte do Chile e o aborto é legalizado na Argentina crio em Matriarcado-América uma nova constituição, que instaura a poesia, a arte, o sonho e as línguas nativas como línguas oficiais de nossos países multiétnicos”, conta Viviane Dias.

 

Cena antropofágica

Realizada com o apoio do Programa Municipal de Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo, Matriarcado-América à semelhança das minisséries, se desenvolve em dois episódios. A pandemia, os desafios das mulheres contemporâneas num mundo patriarcal e especialmente a menopausa, como época de vida e de potência, são temas do primeiro episódio A Sociedade das Eróticas em Menopausa. Nele são apresentadas as personagens Maria das Dores, Maria dos Prazeres, Biatriz, Caio e Jesusa (inspirada na famosa mexicana Jesusa Palancares), que em sua última vida na Terra foi empregada doméstica, parteira das boas, mas ganhava dinheiro mesmo como médium nas horas vagas. O episódio mostra a criação da Sociedade das Mulheres Eróticas em Menopausa, que compram uma Máquina dos Sonhos dos Estados Unidos e subvertem a tecnologia para criar ações de interferência na realidade.

Já no segundo episódio A Máquina dos Sonhos, a linguagem muda, em diálogo com os sonhos, que vão sendo instaurados, e as bordas entre ficção e realidade são mais sutis. Na busca de uma cena antropofágica, com muita presença da música original, há uma aliança entre as mulheres mortas e as vivas para que possam encarnar numa América Latina mais potente.

Matriarcado-América busca dialogar com a intensa movimentação política, social e cultural na América Latina ainda pouco observada no Brasil e apresenta um conjunto de questões éticas e estéticas, principalmente a necessária revisão do lugar dado à mulher em menopausa na sociedade. “Com os avanços na ciência e aumento da expectativa de vida, uma mulher hoje é capaz de passar boa parte de sua existência pós menopausa. É urgente revermos as imagens da cultura de consumo que assimilamos sobre esta época de potência de vida de uma mulher – assunto ainda pouco tocado mesmo em obras feministas”, diz a autora, diretora e atriz.

 

Voz das mulheres

Para a Estelar de Teatro, a estreia de Matriarcado-América dá continuidade e verticaliza uma ampla investigação de descolonização. Entendendo o imaginário como campo de disputa importantíssimo, o grupo evoca vozes femininas de toda América Latina num projeto de desmonte criativo de uma das maiores feridas históricas do continente: o patriarcado, um sistema complexo de opressões que machuca mulheres e também homens.

“Sim, já entendemos que quando a voz das mulheres entra no mundo, todos os mapas se alteram, e que a voz das mulheres é um rio caudaloso que abre espaço para outras vozes silenciadas. Agora apostamos na subversão criativa de autoras espelhadas pelo continente na crença que a arte, uma das mais potentes tecnologias humanas, é capaz de fazer frente às crises complexas como a que enfrentamos. Seremos inspiradas por autoras pouco conhecidas no Brasil, mas que vem atuando como vírus de sistemas, mapeando e minando modalidades perversas de dominação, através do questionamento das imagens da cultura e propondo, com grande inventividade, subjetividades alternativas àquelas que nos fazem naturalizar e nos preparam para aceitar como normais realidades que excluem e matam”, explica Viviane Dias.

Ficha Técnica
Texto – Viviane Dias
Direção – Ismar Rachmann e Viviane Dias
Edição – Vic Von Poser e Taurina Filmes
Elenco – Anderson Negreiro, Viviane Dias, Clarissa Debretchinsky, Gabriel Moreira, Natália Lorda, Lucia Soledad Spívak e Rico Marcondes
Participação Especial – Beth Belli e Olga Lucia
Trilha Sonora (composições originais e performances musicais) – Gabriel Moreira, Rico Marcondes e Lucia Soledad Spívak
Projeto Gráfico – Mau Machado
Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta.

 

 

 

 

 

Matriarcado-América
Com Estelar de Teatro

Episódio 1
A Sociedade das Eróticas em Menopausa
De 7 a 29 de agosto, sábados e domingos, às 19h30
Canal de Youtube da Estelar de Teatro
Gratuito
Duração – 60 minutos
Recomendado para maiores de 14 anos.

 

Episódio 2
A Máquina dos Sonhos
De 9 a 19 de setembro, de quinta-feira a domingo, às 19h30
Canal de Youtube da Estelar de Teatro
Gratuito
Duração – 60 minutos
Recomendado para maiores de 14 anos.

Sobre a Estelar de Teatro

Companhia que existe desde 2006, com trabalhos cênicos em salas e ruas realizados em São Paulo e apresentados em diferentes cidades e países, em importantes festivais, teatros e centros de pesquisas internacionais na Alemanha, Itália, México e Chile. No repertório estão os espetáculos Alice (2007), Mestres do Jogo (2010), Caim (2012/13), Frida Kahlo – Calor e Frio (2014/18) e Matriarcado de Pindorama (2018/20) e as intervenções urbanas Histórias Invisíveis nas Ruas e Frida Kahlo – Calor e Frio em Intervenção Humana, parceria com o Teatro da USP e o Museu da Diversidade. Em sua trajetória, a companhia realizou ainda uma série de residências artísticas internacionais em teatros como o Teatro Potlach, na Itália (braço do Odin), e o próprio Odin Teatret (2008), na Dinamarca. Decisiva ainda na trajetória do grupo é a influência do trabalho com o diretor e pedagogo russo Jurij Alschitz, desde 2011. Assim, a companhia vem digerindo os frutos destes contatos com importantes encenadores e grupos contemporâneos que marcam sua pesquisa, em trabalhos com forte cunho brasileiro, especialmente pela presença da música, da dança, das artes performativas e da festa. A companhia tem uma sede no Bexiga, o Teatro Estelar, na Rua 13 de Maio, 120.

Site – estelardeteatro.com.br
Instagram e Facebook – @estelardeteatro

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