Na segunda atividade prática do projeto, o diretor convidado propõe ao grupo realizar intervenções cênicas com base na reflexão sobre a precarização do trabalho sob a luz do teatro épico de Brecht..
O DJ, ator-MC, diretor e pesquisador Eugênio Lima, membro fundador do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos há mais de 20 anos, dirige a Cia O Grito em sua segunda atividade pública do projeto de pesquisa Brás: Memórias e (Des)memórias de uma São Paulo Precária, contemplado na 34ª. Lei de Fomento ao Teatro. O grupo teatral apresenta intervenções públicas no bairro nos dias 22 e 23 de setembro e 6 de outubro – duas são itinerantes pela rua, e uma será no interior da sede do grupo, onde a relação com o público será de palco italiano. Ver endereços no serviço, no pé do texto.
Em residência artística desde 2015 na Casa Restaura-me – ONG localizada no centro do bairro paulistano Brás, que atende por dia mais de 400 adultos em situação de rua – onde mantém sua sede no segundo andar da instituição, a Cia O Grito foi indicada ao Grande Prêmio da Crítica de 2018, melhores do ano pelo Guia Folha e melhor iluminação pelo Prêmio São Paulo com o espetáculo O Gigante Adamastor. O objetivo principal do projeto é a continuidade e aprofundamento da linha de pesquisa teatral do grupo em sua atual ocupação artística. As intervenções cênicas resultam de workshops abertos ao público para a investigação de linguagens artísticas interventivas. O trabalho rendeu um produto cênico que será desenvolvido por meio de uma intervenção no interior da Casa Restaura-me e outras duas pelo bairro do Brás.
As intervenções tem a proposta de interligar o tema proposto para esta ação – Teatro Épico e Precarização do Trabalho – com as relações entre o Brás e a história pessoal de cada intérprete. As performances foram pensadas para acontecer em três espaços – no interior da própria Casa Restaura-me e em pontos de deslocamentos no Largo da Concórdia e na rua Monsenhor Andrade. Em sua observação, o diretor constatou ser a Monsenhor Andrade “uma rua com uma pluralidade étnica, organizada em função da relação de compra e venda, dos lojistas, guardadores de carros, camelôs e carregadores de produtos, onde se ouve gente falando árabe, turco, português com acento angolano, chinês e japonês”.
Para o ator Wilson Saraiva, “as intervenções propõem uma investigação sobre a linguagem do teatro épico de Bertold Brecht [1898-1956], agora objeto de pesquisa da Cia O Grito, a partir da reflexão sobre a precarização do trabalho no bairro do Brás e na história de cada ator do elenco”. Assim, a partir do distanciamento entre personagem e espectador, base do teatro épico de Brecht, a ideia é despertar uma atitude crítica e refletir sobre questões ligadas à sociedade e à situação do Brás e das pessoas.
Processo de pesquisa – Precarização do trabalho
A partir do olhar para o bairro Brás, os conviventes da Casa Restaura-me e a própria cidade de São Paulo, a Cia O Grito, soma as suas inquietações artísticas representar a forma que as relações de trabalho acontecem no território. Boa parte das pessoas em situação de rua que frequentam a Casa se organizam para ter algum tipo de renda. Recolhimento e venda de papelão e latinhas bem como descarregar os caminhões que chegam para abastecer de produtos as lojas do complexo comercia, são algumas das atividades desenvolvidas por essa população. “É necessário, explicitar e desnaturalizar a precarização nas relações de trabalho travadas no território, na cidade e em nosso próprio oficio de artista”, diz o ator Wilson Saraiva.
A ONG Restaura-me desenvolve atividades de assistência social e convívio para os frequentadores da casa. Há seis anos ocupando e residindo no segundo andar da instituição, a Cia O Grito, que tem um contrato de cessão de espaço com a casa, desenvolve atividades culturais como saraus, oficinas, cursos, intervenções, ensaios, entre outras ações artísticas.
Espetáculo interventivo, revista e nova peça
O projeto Brás: Memórias e (Des)memórias de uma São Paulo Precária prevê, ainda, a criação de um espetáculo interventivo a ser apresentado na sede da Cia O Grito, com posterior circulação pela cidade de São Paulo, numa temporada com 32 apresentações, além da publicação de uma revista com o processo criativo e investigativo da companhia e ainda a circulação da mais recente obra do grupo, Diana Luana, espetáculo infanto-juvenil criado a partir de vivências junto de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social.
Ficha Técnica
Direção: Eugênio Lima. Elenco: Diane Boda, Fulvio Bicudo, Junia Magi, Maurício Caetano, Samira Pissinato, Zé Olegário Neto e Wilson Saraiva. Trilha: Eugênio Lima. Cenário: Caio Marinho. Figurino: Telumi Hellen. Produção: Palipalan Arte e Cultura Realização: Cia. O Grito/Cooperativa Paulista de Teatro. Este projeto foi realizado com apoio do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo – Secretaria Municipal de Cultura.
Intervenções cênicas no bairro do Brás
Tema – Precarização do trabalho ao longo do tempo no bairro do Brás, atravessada, por uma visão expandida das relações da obra de Brecht e o nosso tempo. Duas ações itinerantes e uma no interior da sede da Cia O Grito.
Dias 22 e 23 de setembro e 6 de outubro. Em três locais – A intervenção cartográfica acontecerá na Casa Restaura-me (dia 22/9, em duas sessões: às 9h30 e às 10h30), na rua Monsenhor Andrade (dia 23, em dois horários: saída às 9h30 e saída às 11h da casa) e no Largo da Concórdia (dia 6/10, encontro às 11h no Monumento ao Migrante Nordestino,no Largo da Concórdia).
Atividades são abertas ao público, com limitação de número de pessoas no interior da Casa Restaura-me.
22 de setembro
Duas sessões: às 9h30 e às 10h30
Casa Restaura-me
Rua Monsenhor Andrade, 746 – Brás
23 de setembro
Ponto de Saída Rua Monsenhor Andrade, 746 – Brás
Duas sessões: saída às 9h30 e saída às 11h
06 de outubro
Largo da Concórdia
Saída às 11h do Monumento ao Migrante Nordestino
Sobre o grupo
Em setembro de 2015, a Cia O Grito se envolveu com iniciativas públicas para pessoas em situação de rua com a ocupação da Casa Restaura-me. Sediados no Brás, no segundo andar da instituição, que atende mais de 400 adultos por dia e oferece espaço para alimentação, higiene pessoal e lazer aos seus conviventes, começaram uma pesquisa que buscou materialidades estéticas sobre tal espaço e suas pessoas. No decorrer da residência na Casa, que completa 6 anos em setembro de 2021, articulou-se apresentações gratuitas de espetáculos da Cia O Grito, de grupos convidados, oficinas, saraus, entre outras atividades artísticas.
Sobre Eugênio Lima
Pernambucano de Recife, Eugênio Lima é DJ, ator-MC, diretor, pesquisador da cultura afro-diásporica, professor de sonoplastia da Escola SP de Teatro, membro Fundador do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, da Frente 3 de Fevereiro e do coletivo Legítima Defesa. Vencedor do prêmio da Cooperativa Paulista de Teatro de melhor projeto sonoro em 2012 por Orfeu Mestiço – Uma Hip-Hópera Brasileira. Vencedor do prêmio Shell de música em 2006 por Frátria Amada Brasil – Pequeno Compêndio de Lendas Urbanas e em 2020 por Terror e Miséria no Terceiro milênio-Improvisando Utopias.
Foto: Wilson Saraiva
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