Espetáculo com direção de Lenerson Polonini e dramaturgia de Carina Casuscelli, que também está no palco ao lado de Jacqueline Durans e dos atores Miguel Kalahary e Isidro Sanene, ambos angolanos residentes em São Paulo, marca os 20 anos de trajetória do grupo…
Montagem multimídia inspirada em personagens como Kassandra, Hécuba, Prometeu e Hércules, Apátridas, novo espetáculo da Companhia Nova de Teatro, mergulha na tragédia grega para debater e refletir sobre os diversos sentidos das crises existenciais na atualidade. Com ingressos gratuitos, a peça estreia dia 5 de novembro, sexta-feira, às 21h, no Teatro Arthur Azevedo, e traz à cena as crises humanas, os fluxos migratórios, a devastação do território dos povos originários e a africanidade.
Apátridas reafirma a vocação da Companhia Nova de Teatro para a criação de novas linguagens e dá continuidade à pesquisa e ao desenvolvimento de atividades e espetáculos com enfoque em temas emergentes – os dramas contemporâneos – propondo novos modos de produção e de pensamento do fazer teatral. Montagem marca os 20 anos de trajetória do grupo e foi contemplada pela Lei Federal Aldir Blanc e Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa – Edital Proac Expresso Lab.
Com direção de Lenerson Polonini e dramaturgia de Carina Casuscelli, que também está em cena ao lado de Jacqueline Durans e dos atores Miguel Kalahary e Isidro Sanene, ambos angolanos residentes em São Paulo, Apátridas é dividido em quatro solos que se interconectam. O espetáculo mergulha na psiquê de personagens míticas e fundamentais da antiguidade – Kassandra, Hécuba, Prometeu e Hércules – deslocando-as para as zonas de conflitos e rotas de peregrinação migratória; lugares de passagem para o desconhecido.
Para o diretor Lenerson Polonini as quatro figuras apresentam relações de poder, discórdia, ódio e injustiça, que dão lugar a vinganças cruéis e a destinos inevitavelmente trágicos. “As tragédias gregas são um território muito rico e por meio do seu universo nos deparamos com os conflitos éticos e morais e com as relações de poder do ser humano. Em Apátridas os personagens tencionam questões sobre identidade e não pertencimento em um teatro de vozes dialogando com o tempo”, explica ele.
12 milhões de apátridas no mundo
Segundo a ONU – Organização das Nações Unidas existem hoje no mundo cerca de 12 milhões de apátridas. A situação limite de não pertencer a um lugar e não ter referências identitárias perpassa os quatro personagens da montagem, que apresentam questionamentos além do ser social, instigando a reflexão a respeito do que define o ser humano.
A dramaturga e atriz Carina Casuscelli pontua que a luta do agora é se reinventar em outras terras, forjar uma nova identidade, coexistir em campo minado e fazer dele brotar força, esperança, sonhos. “Mais do que oferecer respostas acerca das nossas crises, Apátridas busca questionar e incitar o público para a reflexão acerca do nosso tempo, abrindo espaços para o diálogo sobre a crise global, econômica e, sobretudo, a crise humana, considerando, inclusive, este período pandêmico.”
A encenação de Lenerson Polonini buscará, na singularidade dos fragmentos de textos gregos filtrados na construção dramatúrgica de Carina Casuscelli, a criação de pontes e conexões entre a realidade brasileira e mundial, com apoio em um profundo trabalho de preparação dos intérpretes, colocando-os como porta-vozes de tantos gritos calados.
Já o espaço cênico traz vídeo projeções de Armando Lima tornando a caixa preta como não-lugar e ambiente em transformação. A iluminação e figurinos, aliados a trilha sonora assinada pelo renomado músico experimental Wilson Sukorski buscam potencializar e amplificar as imagens criadas.
Quatro solos
Estruturado em quatro solos-movimentos, o espetáculo revisita os mitos e os personagens representam as inúmeras vozes refugiadas e apátridas, que são obrigados a seguir numa travessia rumo ao desconhecido na tentativa de mudar os rumos de suas vidas.
No decorrer da história, mulheres são usadas e abusadas por homens em alta posição ou por controladores emocionais das mais diversas formas. Como Kassandra, a que vê além do tempo e é desacreditada por se negar a entregar o seu corpo para o deus Apolo, que a amaldiçoou. Na montagem, Kassandra (Carina Casuscelli) representa os povos indígenas e prevê a destruição do seu povo, das florestas e a tomada de seu território. Hécuba (Jacqueline Durans), a última rainha sobrevivente ao massacre que a tornou escrava de seus inimigos, tinha sonhos premonitórios que se concretizavam. Em Apátridas, se encontra na condição de refugiada, em meio a Amazônia devastada, com suas memórias em ruínas.
Prometeu é considerado o criador e defensor da humanidade, por ter roubado o fogo dos deuses e por doá-lo aos homens. O monólogo nos mostra um Prometeu (Isidro Sanene) negro, africano, que evoca mitos de religiões de matriz africana e clama por justiça. Um jovem, ativista, tentando atravessar a fronteira de forma ilegal, portando uma mochila com passaportes falsos para ajudar outros compatriotas a fugir da guerra. Já o semideus Hércules tem poderes humanos e divinos, possuindo uma força descomunal, o que o tornou célebre por sua bravura e inteligência. Na peça, Hércules (Miguel Kalahary) é um africano que capitania a travessia em uma embarcação precária juntamente com seus compatriotas, cruzando territórios, atravessando fronteiras pelo mar.
Ficha Técnica
Direção – Lenerson Polonini. Dramaturgia – Carina Casuscelli. Elenco – Carina Casuscelli, Jacqueline Durans, Miguel Kalahary e Isidro Sanene. Figurinos – Carina Casuscelli. Assistente de figurino – Gustavo Werner. Iluminação – Lenerson Polonini. Trilha sonora – Wilson Sukorski. Vídeos – Armando Lima. Operação de som – Felipe Moraes. Operação de luz – Verônica Castro. Operação de imagem – Téo Ponciano. Colaboração dramatúrgica (parte 1) – Eduardo Brito. Assessoria de imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Fotos – Antônio Simas Barbosa. Produção – Lenerson Polonini – Companhia Nova de Teatro.
Apátridas
Teatro Arthur Azevedo
Avenida Paes de Barros, 955 – Mooca
Telefone – (11) 2604-5558
Capacidade – 349 lugares
Temporada: de 5 a 28 de novembro
Sextas-feiras e sábados às 21h
Domingos às 19h
Ingressos gratuitos – Retirada com uma hora de antecedência na bilheteria do Teatro
Duração – 60 minutos
Recomendado para maiores de 16 anos
Sobre a Companhia Nova de Teatro
Fundada em 2001, pelo diretor Lenerson Polonini em parceria com a atriz, dramaturga e figurinista Carina Casuscelli, a companhia desenvolve um trabalho de pesquisa contínua a partir da performance, das artes do corpo e do universo das artes visuais. A Companhia Nova de Teatro é uma companhia aberta e a cada novo projeto convida atores, bailarinos e artistas de diversas áreas para colaborarem com suas produções. O teatro multimídia desenvolvido pela companhia procura explorar a tridimensionalidade do palco e a relação da arte com o espaço urbano.
Em 2012, a companhia conquista o primeiro lugar do Prêmio Internazionale Teatro Dell’ Inclusione Teresa Pomodoro, em Milão/Itália, com o espetáculo Caminos Invisibles…La Partida. O júri desse prêmio contou com nomes importantes da cena mundial, como Eugenio Barba, Luca Ranconi, Lev Dodin e Jonathan Mills. No ano seguinte, contemplado pelo Edital de Intercâmbio do Ministério da Cultura, os integrantes do grupo realizam residência artística no Attis Theatre, em Atenas/Grécia, estreando no teatro grego a peça Krísis, com supervisão de Theodoros Terzopoulos, diretor da companhia grega. Em junho de 2015 é convidada a exibir figurinos do espetáculo Doutor Faustus Liga a Luz, de Gertrude Stein, no lendário The Bakhrushin State Central Theatre Museum, em Moscou/Rússia, onde também realiza uma performance com fragmentos da peça na abertura do evento Costume at the Turn of the Century 1990 – 2015. No mesmo ano encena o espetáculo 2xForeman: peças Bad Boy Nietzsche e Prostitutas Fora de Moda, de Richard Foreman, com direção de Lenerson Polonini. Já em 2016 estreia a peça Barulho D’água, do italiano Marco Martinelli, com direção de Carina Casuscelli. A última parte do projeto Trilogia Foreman, com a peça Os Deuses Estão Marretando a Minha Cabeça, cumpre temporada em 2017 no Sesc Pinheiros. Em 2019, o grupo participa do Analogio Festival de Atenas, com o work in progress Kassandra-Hecuba (APÁTRIDAS: parte 1), que, na sequência, é apresentado nas cidades de Sibiu, durante o Festival 25 Ore Teatrul Non Stop, e no Teatrul de Artã, de Bucareste, na Romênia. No início de 2020, a peça é apresentada no mesmo formato no Centro Cultural Olido, como parte do FarOFFa, mostra paralela à MIT SP.
Em 2020, durante o confinamento pela Covid-19, a companhia realiza a série Diálogos, com objetivo de pensar sobre a criação artística e a sociedade em tempos de pandemia, convidando o público a refletir e elaborar caminhos e estratégias em meio à crise global, com sérios impactos na arte, na cultura, na economia e na política. A série foi realizada via redes sociais e contou com a presença de artistas, gestores, críticos, jornalistas, curadores, pensadores, pesquisadores e líderes de relevada importância no cenário das artes, da cultura, da economia, da política e da filosofia. Em 2021, o grupo realiza temporadas online de A Cripta de Poe, em versão site specific, gravado e transmitido no canal da Vila Itororó e das peças do projeto Trilogia Foreman.
Site – cianovadeteatro.com
Instagram e Facebook – @cianovadeteatro
Foto: Antônio Simas
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