O coletivo artístico faz intervenção política e poética no espaço urbano. Domingo, 28 de novembro, na Avenida Paulista, corpos cobertos expõem mamilos com a pergunta: quem tem medo dos corpos das mulheres?. O Desvio Coletivo já representou o Brasil em inúmeros festivais e eventos de arte ao redor do mundo em países como Estados Unidos, França, Coreia do Sul, Malásia e Portugal…
Trajeto tem início na Rua Augusta, adentra pela Avenida Paulista em caminhada de ida e volta, terminando no mesmo local de partida; proposta é reunir cerca de 20 corpos / pessoas
Mamil(a)s marca a retomada do Desvio Coletivo ao espaço urbano, após dois anos sem nenhuma atividade em decorrência da pandemia da covid-19. O grupo, que surgiu em 2011, usa a intervenção urbana como seu suporte artístico e convida pessoas, maiores de idade, de qualquer sexo, cis ou trans, com ou sem experiência em artes, a participarem da atividade, dispondo de seus próprios corpos como instrumento político e poético.
Nesta nova ação, que acontece no domingo, dia 28 de novembro, a partir das 15h, na Avenida Paulista, a proposta é investigar o limite que os olhos da cidade enxergam nos corpos das mulheres. O grupo deve sair da rua Augusta, altura do número 1.200 e voltar para o mesmo local.
A ideia é desviar os conceitos que temos do corpo, se é “feminino” ou “masculino”, além de sua função na sociedade. “Essas são algumas das questões que serão abordadas durante o desenvolvimento do projeto para intervir no espaço urbano, política e poeticamente, em busca da seguinte reflexão: quem tem medo dos corpos das mulheres?”, coloca Priscilla Toscano, uma das idealizadoras do projeto.
As cerca de vinte pessoas, inscritas antecipadamente, participam da intervenção com o corpo completamente coberto por um tecido colorido, exceto pelos mamilos. Por baixo do tecido, diversidade: mulheres trans, cis, gays, homens cis e trans; pretas, brancas, donas de casa, dominadoras, diretoras, atores e atrizes.
“Sabemos que existem inúmeras respostas para essa pergunta ou que existem inúmeras outras maneiras de elaborá-la. Para nós foi importante fugir do clichê ‘mulher preta x mulher branca x mulher gorda x mulher magra x mulher rica x mulher periférica…’, sempre colocando mulheres em oposição – outra estratégia do patriarcado. Por isso, MAMIL(a)S dispõe dos corpos no espaço urbano como instrumento questionadores do padrão hetero-cis-pratiarcal que pesa sobre a vida de mulheres – cis e trans – de todas as partes do mundo”, completa.
Ao longo de sua trajetória, o Desvio Coletivo representou o Brasil em inúmeros festivais e eventos de arte ao redor do mundo, com destaque para apresentações em 23 Estados brasileiros e Distrito Federal, além de países como Estados Unidos, França, Coreia do Sul, Malásia, Portugal, entre outros.
Proposta Artística
O Brasil é mundialmente conhecido por, supostamente, ser o país da bunda e do futebol. Na efervescência dos anos 90, o corpo, principalmente o das mulheres, foi objeto de exploração midiática destinado a todos os públicos, enchendo de dinheiro os bolsos dos empresários e produtores que não hesitaram em colocar pessoas seminuas na TV aberta, em qualquer horário.
Mamil(a)s é uma reflexão sobre o impacto, o efeito que essa “educação” causa na sociedade, começando na história da humanidade e desembocando na cultura do estupro.
Para Priscilla Toscano, “a função dada ao corpo da mulher é sempre a do corpo domesticado, dócil, servil. A sociedade patriarcal espera que o corpo da mulher esteja no lugar de mãe/esposa (para amamentar e se dedicar a manutenção do lar) ou de objeto (para ser consumido), sempre passivo, inerte. Enquanto o corpo do homem sempre foi tido como o corpo do espaço público, da força, do poder.”
A proposta de Mamil(a)s é desviar o sentido da suposta função do corpo da mulher determinado pela história da humanidade – maternal/contemplativo (passivo, dócil e domesticado) -, para que, na rua, assuma posição política e questione os limites impostos pela sociedade patriarcal que o consome em demasia e, ao mesmo tempo, o rejeita, fazendo com que o país da bunda, seja também o país da violência contra mulheres.
Ficha Técnica | Mamil(a)s
Idealização: Leandro Brasilio e Priscilla Toscano
Direção artística: Priscilla Toscano
Produção, Coordenação Técnica e Assessoria Jurídica: Leandro Brasilio
Vídeo: Bruno Maurício
Apoio: WA Danças
Mamil(a)s
única apresentação
Avenida Paulista/SP
Domingo, 28 de novembro de 2021, a partir das 15h.
Desvio Coletivo
O Desvio Coletivo é um grupo brasileiro que desde 2011 desenvolve performances e intervenções artísticas. Atuando na fronteira entre a arte performativa, visual e urbana, a principal característica do coletivo é criar ações performativas em diferentes espaços, gerando ilhas de desordem efêmeras de natureza crítica e poética. Atualmente integram o grupo Leandro Brasilio, Marcos Bulhões e Priscilla Toscano. Ao longo de sua trajetória se destacam performances como Cegos e Matrimônios que levaram o grupo a circular por 23 Estados brasileiros (por meio do circuito Sesc Palco Giratório, prêmio Myriam Muniz de Teatro e outros diversos festivais nacionais) e a representar o país em diferentes festivais de arte ao redor do mundo (Nuit Blanche Brussels – Bélgica; Festival de Aurillac – França; Ansan Street Art Festival, Coréia do Sul; Imaginarius – Festival Internacional de Teatro de Rua de Santa Maria da Feira, Portugal; George Town Festival– Malásia; Festival World Stage Design,Taipei, Taiwan; Mindelact – Festival Internacional de Teatro de Mindelo, Cabo Verde; X Encuentro – Hemispheric Institute of Performance and Politics, Santiago, Chile e projeto Cidades em Performance: Funchal, Paris e Barcelona).
Leandro Brasilio é artista, ativista, produtor e advogado. Especialista em Gestão de Projetos Culturais pelo Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação da ECA/USP. Como produtor independente, produz artistas e eventos relacionados a arte urbana e artes visuais em várias partes do mundo.
Priscilla Toscano é artista da performance, atriz, dançarina e arte educadora. Licenciada em Artes-Teatro pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista – UNESP e pelo departamento de História da Arte da Universidade de Santiago de Compostela – Espanha. É uma das fundadoras e diretoras do Desvio Coletivo. Como performer também integra o elenco do Teatro da PombaGira.
Foto: Leandro Brasilio
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