Musical infantil ‘Kuami’, do Núcleo abre caminhos, reflete sobre identidade e faz temporada nos teatros municipais

Grupo buscou fugir dos estereótipos comumente associados à população negra, ligados apenas ao sofrimento…

 

 

 

Adaptado do livro “Kuami” (2019, Editora Jandaíra), de Cidinha da Silva, o musical infantil “Kuami – Caminhos Para Identidade”, do Núcleo abre caminhos, faz temporadas gratuitas em teatros municipais de São Paulo, sendo o primeiro deles o Teatro Arthur Azevedo nos dias 26 e 27 de março, às 16h. No fim de semana seguinte as apresentações ocorrem no Teatro Flávio Império.  A temporada segue até o dia 22 de abril.

Na trama, para encontrar sua mãe, que foi sequestrada, o elefante mirim africano Kuami se junta à amiga Janaina, uma sereia do reino das águas, em uma viagem por céu, terra e mar. Durante a jornada, o protagonista amplia sua visão de mundo. Ao descobrir filhotes diferentes da sua espécie, com outras culturas e cosmogonias, ele percebe a importância de compreender sua identidade e ancestralidade para defender seu direito de existir.

O fio condutor da narrativa é a música, que reflete a busca dos vários personagens por suas raízes. Por isso, o grupo fez uma ampla pesquisa em sonoridades afro-brasileiras, usando como referências os ritmos samba, coco, pagode, barravento e outros que remetem a esse universo.

No elenco estão Adriana Miranda, Cynthia Regina, Piu Guedes e Ulisses Dias. A direção geral é de Martinha Soares e a direção e a preparação musical são assinadas por Valquíria Rosa. Os músicos são Victor Motta e Tahyná Oliveira.

 

A Importância do Pertencimento
A proposta do Núcleo abre caminhos foi construir um espetáculo antirracista, capaz de descontruir os estereótipos associados à população negra, ligados sobretudo à dor. “Gostaríamos de mostrar uma infância feliz, bonita, amistosa, algo além do sofrimento e dessas questões que o racismo evoca e nos toca todos os dias”, conta Cynthia Regina, uma das artistas criadoras da peça.

Nesse sentido, a obra “Kuami” se encaixa perfeitamente no desejo do grupo de construir contra narrativas e fomentar novos imaginários e perspectivas de futuro. “Cidinha costura uma história com personagens representativos, faz crítica à exploração irracional da natureza e às formas contemporâneas de escravidão, nos deixando uma lição de luta através do afeto”, comenta Ulisses Dias, outro dos artistas criadores.

Para Cynthia, mais importante do que falar explicitamente sobre racismo, é abordar questões relativas ao pertencimento e ao acolhimento. “Todos os nossos personagens são negros e ajudam no resgate da mãe de Kuami, que está em uma situação análoga à escravidão. Então, tratamos a questão racial de um jeito sutil. Na verdade, existe um quilombismo, uma força de união dessas pessoas por um bem maior: para salvar alguém que também faz parte dessa comunidade”, afirma.

O Núcleo abre caminhos acredita que o indivíduo só consegue se sentir efetivamente parte da sociedade quando se vê nos espaços de poder. Assim, torna-se urgente a criação de outras narrativas, para que as crianças consigam visualizar novas realidades possíveis.

“A comunidade negra vive para além do racismo. Essa resistência que a gente traz historicamente tem um espaço também de vitórias. Com essa peça, queremos falar que estamos vives, lutando. Estamos unides e estamos todes aqui como uma grande irmandade”, acrescenta a artista.

Ficha Técnica
Artistas criadores: Adriana Miranda, Cynthia Regina, Piu Guedes e Ulisses Dias
Direção Geral: Martinha Soares
Direção e preparação musical: Valquíria Rosa
Músicos: Victor Motta e Tahyná Oliveira
Arranjos Musicais: Victor Motta, Tahyná Oliveira e Valquíria Rosa
Composições Musicais: Adriana Miranda, Cynthia Regina e Piu Guedes
Preparação vocal: Rodrigo Mercadante
Provocadora de processo: Patrícia Gifford
Dramaturgismo: Adriana Miranda, Cynthia Regina, Piu Guedes, Ulisses Dias (Núcleo Abre Caminhos)
Adaptação de texto: Daniel Veiga
Texto original: Cidinha da Silva
Iluminação: Rager Luan
Figurinista e aderecista: Felipe Cruz
Cenografia: Giorgia Massetani
Apoio: Espaço Clariô de Teatro e Centro de Referência da Dança
Produção: Corpo Rastreado – Jack dos Santos
Designer: Rafael Cristiano

 

 

 

 

 

Kuami – Caminhos Para Identidade
Classificação: Livre
Recomendação: a partir de 7 anos

Teatro Arthur Azevedo
Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca Lapa
Dias 26 e 27 de março, sábado e domingo, às 16h

Teatro Flávio Império
Rua Prof. Alves Pedroso, 600 – Cangaíba
Dias 30 de março, 1º, 06, 13, 20 e 22 de abril
Quartas e sextas, às 10h
Dias 02, 03, 09 e 10 de abril
Sábados e domingos, às 16h

 

Sobre o Núcleo Abre Caminhos
O Núcleo abre caminhos, formado por Adriana Miranda, Cynthia Regina, Piu Guedes e Ulisses Dias, nasceu no ano de 2019 a partir do encontro desses integrantes no curso de dramaturgia da Escola Livre de Teatro de Santo André. Instigades pelos materiais sobre teatro negro e a importância de construirmos contra narrativas, formamos o núcleo para ser nosso projeto coletivo de pesquisa cênica e dramatúrgica onde pudéssemos construir outros imaginários e novas perspectivas de futuro.

 

Foto: Divulgação

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