Serão três encontros ao longo do primeiro semestre, com pensadores e artivistas, corpas, identidades e territórios dissonantes, para celebrar o legado cultural deixado pelos povos indígenas e afro-brasileiros…
Contextualizar o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. Esse é o objetivo do “Rolê 22”, que reunirá uma série de ações para oferecer outras visões sobre o que entendemos por legado. Se em 1922 os modernistas se reuniram no Theatro Municipal de São Paulo para afrontar a ordem estabelecida e marcar presença nas comemorações do Centenário da Independência do Brasil, em 2022 o Rolê 22 adentra nos territórios ancestrais para esboçar respostas para as perguntas retóricas: “O que temos a celebrar?” “Que modernidade nos atravessou?” “No Bicentenário da Independência deixamos de ser colônia?”
O primeiro evento acontece no dia 23 de abril de 2022, na semana da invenção do Brasil. Na data, o Rolê 22 pousa em seu primeiro território de (r)existência: a aldeia Tabaçu Ypo (em Peruíbe). Participam a anfitriã e morubixaba da aldeia Itamirim (atriz e cantora, morubixaba na Aldeia Tabaçu Reko Ypy (SP); Auá Mendes (indígena do Povo Mura, artista, Manauara); Juão Nyn (multiartista potiguar(a), ativista comunicador do movimento Indígena do RN); e Edgar Kanaykõ Xakriabá (mestre em Antropologia pela UFMG, do povo indígena Xakriabá – MG). Essa prosa será mediada por Jaíra Potï (RN/SP), artivista e coordenadora do Rolê 22.
Haverá intervenções musicais entre as falas dos participantes, feitas por Kaê Guajajara (artivista indígena, do povo Guajajara (MA)), acompanhada de Kandu Puri, que além de poeta é também rapper e artesão do povo Puri.
O encontro será presencial (os convidados da aldeia estarão de forma presencial na data do evento), porém sem a presença de público, que poderá conferir tudo online, no www.role22.com.br e no Instagram do projeto (instagram.com/rolevintedois).
Outras duas rodas de conversa estão em datas importantes para o projeto: 13 de maio, dia que foi assinada a Lei Áurea (dia da invenção da liberdade), no Quilombo de Ivaporunduva (em Eldorado São Paulo). No dia “de São João”, 24 de junho, o ciclo se fecha com uma comemoração Junina na Ocupação 9 de julho, em São Paulo.
No centenário da Semana de Arte Moderna no Brasil, tanto o campo das Artes, como o da Educação, passam por um momento de questionamento profundo da Colonialidade. E esses questionamentos perpassam as práticas institucionais e alcançam a vida cotidiana. É aí que o Rolê 22 entra: valorizar fazeres e saberes locais – em territórios apagados pelos danos da herança colonialista e dar oportunidades para que a população minorizada estude e se aperfeiçoe, buscando melhores condições de vida. E são provocações dirigidas a todes: descendentes dos povos tradicionais e descendentes dos milhares de imigrantes que juntes pintaram esse quadro de cores ainda pouco definidas chamado Brasil.
O projeto tem realização do Governo do Estado de São Paulo através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa e CPBrazil.
Diversidade
O Rolê 22 tem como aliade o Núcleo de Pesquisa Tranzborde – uma plataforma para que artistas que não ocupam o centro das narrativas hegemônicas possam desenvolver suas pesquisas. Este selo engloba corpas trans, indígenas, pretas, gordas, não-hetero centradas, periféricas, não etnocentradas, entre outres recortes para levantar e divulgar trabalhos artísticos de diferentes expressões artísticas – dança, teatro, performance e outras mídias.
Uma questão de herança
Ainda que a Semana de Arte Moderna de 1922 tenha entrado para a história como sinônimo de ruptura estética do seu tempo, deixou bastante a desejar quanto à representatividade racial e de gênero perpetuando assim traços da Colonialidade do poder e do saber, no mesmo ano em que se comemorava o centenário da Independência do Brasil. Por mais que os seus mentores tenham focado nos esforços de desvelar um “novo caráter provocativo” nas Artes, o grande evento foi conduzido majoritariamente por homens brancos cujos referenciais apontavam para a Europa como centro do pensamento e da produção artística mundial e tendo São Paulo e Rio de Janeiro como eixos dominantes da circulação intelectual e política do país.
O relatório “Inequality Kills” (A Desigualdade Mata) revela que os dez homens mais ricos do mundo viram a sua riqueza mais que duplicar desde o início da pandemia. Por outro lado, os rendimentos de 99% da população mundial diminuíram desde março de 2020 (disponível em https://www.oxfam.org/en/research/inequality-kills).
Isto no âmbito acadêmico, nas práticas institucionais e principalmente nos modos da vida cotidiana, onde – emergem como potências que alteram e desestabilizam a ordem vigente ao mesmo tempo que impulsionam coletivos culturais, produções artísticas independentes e práticas pedagógicas emancipadoras descentralizadas no amplo sentido do termo. Neste momento em que questões globais trazem à tona mais uma vez a necessidade de grupos subalternizados resistirem a antigas opressões do sistema colonial e seus engendramentos estruturais, como o racismo e o sexismo.
Por isso que o Rolê 22 quer provocar a discussão sobre o “não-lugar” das populações minorizadas, principalmente no campo da arte e na vida acadêmica, ao mesmo tempo que oferece ferramentas e pontes para que essas pessoas tenham mais acessos.
Rolê 22 – Encontros Artísticos
23 de abril de 2022, sábado, a partir das 18h
on-line
Instagram @rolevintedois
(transmissão a partir da Aldeia Tabaçu Reko Ypy (em Peruíbe, SP)
Cronograma
Abertura – Ritual de Cura – 18h: com anciões Nhimbopyrua da Aldeia Tapirema, Kunhã Djupia da Aldeia Nhamandu Mirim, Mirim Aldeia Tapirema e Kunhã Dju da Aldeia de Tabaçu Reko Ypy
19h: Início da prosa e apresentação musical de Kae Guajajara, com acompanhamento de de Kandu Puri
Convidades: Itamirim (atriz e cantora, morubixaba na Aldeia Tabaçu Reko Ypy (SP); Auá Mendes (indígena do Povo Mura, artista, Manauara); Juão Nyn (multiartista potiguar(a), ativista comunicador do movimento Indígena do RN); e Edgar Kanaykõ Xakriabá (mestre em Antropologia pela UFMG, do povo indígena Xakriabá – MG).
ProvocAção: Jaíra Potï
Minibios dos Participantes
Auá Mendes – Indígena do Povo Mura, Artista, Manauara do Amazonas, formada em Tecnologia em Design Gráfico pela Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO atualmente é Mestranda Profissional em Design pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Designer gráfica, ilustradora, grafiteira, performer, maquiadora artística e fotógrafa experimental, trabalha com freelancer e já desenvolveu projetos para Nu Bank, Feira Preta, Tomie Ohtake, PerifaCON, Vivo, MAM, Instituto Goeth Indonésia e entre outros.
Kaê Guajajara – é artivista indígena, engajadora da MPO (Música Popular Originária), e usa sua voz para alertar sobre a existência e luta dos povos originários. Com sua arte anti racista, invade escolas, instituições, empresas, denunciando todas as violências que vivem os povos indígenas. Nessa apresentação ela vem acompanhada de Kandu Puri, que além de poeta é também rapper e artesão do povo Puri e divide algumas músicas com Kae nos shows.
Juão Nyn – é multiartista, atua na performance, no teatro, no cinema e na música. Potyguar(a), 32 anos, ativista comunicador do movimento Indígena do RN pela APIRN, integrante do Coletivo Estopô Balaio de Criação, Memória e Narrativa, da Cia. de Arte Teatro Interrompido e vocalista/compositor da banda Androyde Sem Par. Formado em Licenciatura em Teatro pela UFRN, está há 7 anos em trânsito entre RN e SP. Lançou em 2020 o 1° livro, uma dramaturgia intitulada TYBYRA – Uma tragédia Indígena Brasileira.
Edgar Kanaykõ Xakriabá, pertence ao povo indígena Xakriabá Estado de Minas Gerais.É mestre em Antropologia pela UFMG. Tem atuação livre na área de Etnofotografia: “um meio de registrar aspecto da cultura – a vida de um povo”. Nas lentes dele, a fotografia torna-se uma nova “ferramenta” de luta, possibilitando ao “outro” ver com outro olhar aquilo que um povo indígena é.
Itamirim – é morubixaba na Aldeia Tabaçu Reko Ypy, da qual também é fundadora, trazendo para o aldeamento um compromisso de manutenção de Nhandereko e do Amor Indígena, dentro da vivência comunitária. Professora da rede pública estadual, formada como pedagoga pela USP, também leciona a língua Tupi-guarani para crianças, jovens e adultos. Atriz e cantora, utiliza o teatro e a música como ferramentas de educação desde antes de sua formação em pedagogia. Produtora cultural e pesquisadora, organiza em sua comunidade, de forma coletiva, eventos e atividades culturais, bem como receptivos com foco no turismo de base comunitária.
Jaíra Poti – é da etnia Potiguara, artista e gestora cultural. Pós graduada em Gestão de Conteúdo em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo. Organizou o 2º capítulo do livro Teatro e vida pública: o fomento e os coletivos teatrais de São Paulo (Hucitec Editora, 2012). Responde pela Direção Executiva do CPBrazil.
Fotos Auá Mendes (indígena do Povo Mura, artista, Manauara); Jaíra Potï (artista da etnia Potiguara e gestora cultural); Edgar Kanaykõ Xakriabá (mestre em Antropologia pela UFMG, do povo indígena Xakriabá – MG); Kaê Guajajara (artivista indígena, engajadora da MPO – Música Popular Originária); Itamirim (atriz e cantora, morubixaba na Aldeia Tabaçu Reko Ypy – SP) e Juão Nyn (multiartista potiguar(a), ativista comunicador do movimento Indígena do RN) : Divulgação
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